domingo, 14 de julho de 2013

O pão e sua história - Olivier Anquier


Logo após o homem primitivo descobrir o fogo, ele aprendeu outra coisa importantíssima para a história da humanidade. Viu que a mistura de cereais com água, quando colocada sobre uma pedra quente, transformava-se em uma espécie de massa densa e saborosa. Apesar de ainda não ser batizada como pão, a "coisa" era gostosa e saciava a fome em dias de caça fraca.

Alguns milhares de anos depois, nas margens do rio Nilo, a produção de trigo era abundante. O galette, um pão muito denso e pesado, era ótima fonte de energia para o povo. Certo dia, um homem apressado preparou sua massa sem limpar a vasilha direitinho. Mal sabia ele que os restos da pasta de água e farinha haviam se transformado numa espécie de fungo "mágico" unicelular responsável por grande parte dos processos de fermentação. Na hora de assar seu pãozinho de sempre, viu que a danada da mistura crescia mais do que o normal, ficando fofo e leve.

Os judeus não gostaram muito daquela história de "levedura", "fungo mágico". Abraão, em pessoa, deu um recado aos filhos: "quem comer do pão levedado será expulso de Israel". Assim, muitas pessoas continuaram inventando receitas de pão sem fermento.

No entanto, os gregos, que não estavam na disputa pela terra prometida, gostaram da ideia de mais leveza ao galette. Começaram a aperfeiçoar as misturas, fazendo pães de cogumelos, em formatos de trança, em meia-lua, um pão para cada Deus, quase.

Enquanto isso, os romanos estavam engajados em conquistas imperiais. Mas a falação entre os viajantes era tamanha que o imperador quis experimentar a especialidade da ilha vizinha. Roma rendeu-se aos encantos do quitute grego e passou a promover a política do "pão e circo" para acalmar a multidão revoltada.

Chegamos aos tempos de São Luis, o rei Luis IX. Em 1305, ele resolveu organizar a produção de pão. Criou a primeira boulangerie (padaria) e abriu a primeira vaga para boulanger (padeiro). Afinal, a importância social e econômica da massa era evidente.

Em 1789, quando Luis XIV estava no poder, uma grave crise afetou a Europa. Faltava de tudo, até educação na briga entre os burgueses e a aristocracia. Foi quando Maria Antonieta disse uma frase infeliz, dizendo que "se o povo não tivesse pão, que comprasse brioche". Oh là là! Isso foi arrogante mesmo! Em consequência, o povo deu início à Revolução Francesa, um importante marco na história moderna.

A partir daí, com a conquista de mais autonomia e direitos sociais, o mundo passou a produzir e consumir mais. Os ideais iluministas também influenciaram a independência de muitos países do continente americano, como os Estados Unidos e o Brasil, que na época ainda não fazia pão de queijo.

Pularei outras dezenas de anos novamente. No século XX, depois de muitas pesquisas, o fermento biológico fez sua primeira aparição. A industrialização marcava a nova era. As mudanças no campo, o surgimento de equipamentos (como freezers e fornos elétricos) pareciam mudar para sempre a história do pão. Mas não. Os padeiros, categoria instituída por São Luis, resistiram. Isso faz com que exista pão para todos os gostos. E todos podem ser felizes para sempre.


(texto publicado na revista Pão do Parque nº 76 - julho 2013)

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