sábado, 31 de dezembro de 2016

Concerto in onore a Pino Daniele - Il Volo


Premio Dean Martin a Gianluca Ginoble


Una lunga storia d'amore

Gino Paoli



Gianluca Ginoble




Per la serie "E se non fossero Il Volo"?





Ignazio Boschetto. E se non fosse stato ne "Il Volo"?


Panorama d'Italia intervista Il Volo


Intervista con il Volo in Sicilia


Concerto di Natale da Assisi 2013


Don't let the sun go down on me - George Michael e Luciano Pavarotti


Somebody to love








Benji & Fede e Il Volo


Christmas in Vienna 1999 - The Three Tenors: Luciano Pavarotti, José Carreras,Plácido Domingo


Centenario dell'Arena di Verona - Omaggio a Luciano Pavarotti



Nessun dorma - Aretha Franklin (entrega do Grammy)



Following Luciano Pavarotti's last-minute cancellation due to illness, with barely 20 minutes' notice, Aretha Franklin stuns Grammy audience with soulful interpretation of Puccini's aria from "Turandot".





Otaviano Costa entrevista Monica Iozzi (Programa Vídeo Show)


Gabriel Leone faz homenagem a Domingos Montagner ao receber prêmio de ator coadjuvante (Domingão do Faustão)


Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho recebem o prêmio Mário Lago (Domingão do Faustão)


Pe. Fábio de Melo no programa Estrelas


O quilombo de Mumbuca - Walcyr Carrasco


Um incêndio criminoso isolou a área bem na época da colheita do capim-dourado, usado no artesanato

Há meses entreguei um prêmio no Ministério da Educação, em Brasília, para professoras que criaram projetos de incentivo à leitura. Uma das vencedoras me disse, emocionada:

– Comecei a ler por sua causa. E hoje sou professora.

É o tipo de mensagem que faz a vida de um escritor valer a pena! Ela vinha do quilombo de Mumbuca, no Jalapão, Tocantins. Convidou-me para visitá-lo. Aceitei. Escrevia uma novela na época, esperei terminar. Há semanas, parti. Desci em Palmas, capital do Tocantins. De lá, um guia me levou ao Jalapão, parte pouco conhecida do país, belíssima, com montanhas, areais, dunas, cachoeiras. Quando chegamos à pequena cidade de Mateiros, tivemos a notícia. O quilombo estava inacessível. A ponte que o liga ao resto do mundo sofrera um incêndio criminoso. Pior, justamente na época da colheita do capim-dourado. O artesanato com o capim, que só dá na região, é a base econômica do quilombo. Fazem bijuterias, vasos, chapéus, mandalas. Que têm reflexos dourados, daí o nome do capim. Convenci meu guia a botar o 4x4 no rio. Atravessamos o leito cascalhado. Em certo momento, a água quase entrou no motor, mas conseguimos. Ana, a professora que me convidara, já fora prevenida por telefone e me espera. Chego carregado de livros, de minha autoria, para a biblioteca do quilombo. Poucas vezes fui tão bem recebido. Cantam para mim. Mostram os campos de capim-dourado, lindos! Há um quadro com a árvore genealógica dos habitantes. Hoje são umas 60 famílias, que descendem de dois casais de escravos fugitivos. E... surpresa! É um matriarcado, desde sua formação. A grande mentora foi dona Miúda, falecida, que descobriu o uso do capim-dourado no artesanato. Quem nasce lá tem um profundo senso de comunidade. Pode sair, mas sempre volta.

– Moro uma parte do tempo em Palmas, onde trabalho, mas volto para a colheita do capim – conta-me Miriam, uma moça bonita. – Aqui é meu lugar.

Ana fez universidade. Mas voltou para seu quilombo. Um rapaz, Maurício, ótimo cantor, faz apresentações pelo Brasil todo. Mas sua casa é lá. A cada turnê, retorna. Uma senhora magra, de 60 anos e porte aristocrático, me recebe em sua casa de chão de areia – no quilombo o piso é esse, areia. É a Dotora, assim mesmo, sem o u. Faz curas com remédios caseiros, à base de buriti, a palmeira da região. Dá ajuda espiritual. Principalmente conselhos para manter a paz entre os moradores. Dona Santinha e dona Laurinda, a parteira, também contribuem com o bem-estar social. São mulheres fortes, experientes. Referências para os moradores. Observo a Dotora sentada na rede, conversando, gesticulando. Penso:

– Nunca vi mulher tão elegante!

A pobreza da cidade grande, com a qual estamos acostumados, é luxo diante da vida no quilombo. As casas têm paredes de tijolos não caiadas e tetos de folhas de palmeira. A sobrevivência é na base do mínimo. O calor, causticante. Há uma escola, mas, fora Ana, os outros professores não vêm há meses. Posto de saúde, nem pensar. Vivem como provavelmente viveram seus antepassados há 200 anos: da floresta, do rio, de uma pequena agricultura e criação doméstica – há galinhas em todas as casas. Há neles um sentido de comunidade que eu não via havia muito tempo: todos se preocupam com a sobrevivência de todos. As vendas do artesanato, concentradas em um salão da associação local, servem ao bem comum. Existe um grande tesouro: a colmeia da mumbuca, abelha que deu nome ao quilombo. Faz sua colmeia dentro da terra, em forma de cone. Seu mel raro só é extraído para a produção de remédios.

Apesar de toda a alegria com minha chegada, ninguém esconde a preocupação. A falta de ponte afastou os turistas na festa da colheita, o grande momento do ano. A época da cheia logo chegará. Nem um 4x4 conseguirá atravessar o rio. Mumbuca ficará definitivamente isolado. O governo do Tocantins alega falta de verba. A responsabilidade passou para o município de Mateiros. Este, embora viva de turismo e tenha no quilombo uma atração importante, também diz não ter como construir a ponte. O autor do incêndio não foi descoberto. Perguntei a um morador o que achava de tudo isso:

– Ficaremos como antes, há 200 anos. Isolados.

A abolição da escravidão aconteceu há muito tempo. Mas os moradores de Mumbuca continuam a enfrentar circunstâncias ruins, que parecem datadas da época em que seus antepassados fugiram de seus senhores. Estão por si mesmos, sozinhos na luta por sua ponte.



(texto publicado na revista Época nº 955 - 3 de outubro de 2016)

Francisco: O bem comum - Moisés Sbardelotto


A "geopolítica" do papa: o bem comum dos povos e da Terra. Cada cristão e cristã é chamado a viver a vocação de guardião da obra de Deus.

Nos próximos dias, Francisco fará dois movimentos muito importantes no "tabuleiro" da vida da Igreja e do cenário internacional. Mas não se trata apenas de ações de política interna eclesial ou de "geopolítica' mundial: são dois gestos concretos que encarnam o seu apelo em defesa de dois eixos inseparáveis e centrais no seu pontificado: a ecologia integral e o bem comum global.

O primeiro movimento será feito no "tabuleiro" eclesial. Em agosto passado, o Papa Francisco decidiu instituir na Igreja do mundo inteiro o "Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação". A data será celebrada todos os anos no dia 1º de setembro, começando já em 2015. O desejo de Francisco, fortemente ecumênico, foi o de se somar à iniciativa da Igreja Ortodoxa, que já celebra essa data desde 1989, "compartilhando com o amado irmão, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, as preocupações pelo futuro da criação", como afirma o pontífice na carta de instituição da festividade.

"Como cristãos, queremos oferecer a nossa contribuição para a superação da crise ecológica que a humanidade está vivendo." E o patrimônio espiritual da Igreja oferece muitas motivações que alimentam o cuidado da criação, pois, para aqueles que creem em Jesus Cristo, afirma Francisco, "a espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia."

O chamado do papas a toda a Igreja é combater a crise ecológica com uma "profunda conversão espiritual: ou seja, "deixar emergir, nas relações com o mundo que nos rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus".  Cada cristão e cristã é chamado a "viver a vocação de guardião da obra de Deus", e essa não é uma tarefa opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas é "parte essencial de uma existência virtuosa', diz Francisco. Como sinal desse comprometimento, o papa deseja explicitamente que a celebração seja organizada sempre "com a participação de todo o Povo de Deus: sacerdotes, religiosos, religiosas e fieis leigos."

Por isso, a partir de 2015, o dia 1º de setembro oferecerá a cada fiel e às comunidades " a preciosa oportunidade para renovar a adesão pessoal à própria vocação de guardião da criação, elevando a Deus o agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou ao nosso cuidado, invocando a sua ajuda para a proteção da criação e a sua misericórdia pelos pecados cometidos contra o mundo em que vivemos". Francisco deseja que a celebração seja "um momento forte de oração, reflexão, conversão e uma oportunidade para assumir estilos de vida coerentes". Cabe agora a cada diocese, paróquia, comunidade, movimento e fiel individual colocar em prática iniciativas que marquem criativamente essa importante celebração.

Compartilhando a data com a Igreja Oriental, Francisco quer que esse dia de oração seja "uma ocasião profícua para testemunhar a nossa crescente comunhão com os irmãos ortodoxos". Mas não apenas com eles: "É meu desejo - afirma o papa - que esse dia também possa envolver, de alguma forma, outras Igrejas e Comunidades eclesiais". E aqui podemos pensar, no caso das comunidades de todo o Brasil, nas mais diversas expressões da fé cristã e de outras religiões que compartilham com todos os católicos a preocupação com o cuidado da nossa "casa comum".

Recíproca pertença - Essa preocupação ecológica também vai ganhar uma dimensão ainda maior poucos dias depois, quando Francisco fizer o seu segundo movimento, desta vez nas peças do "tabuleiro" internacional. Entre os dias 19 e 28 de setembro, o papa fará a sua 10ª viagem apostólica, dirigindo-se primeiro a Cuba e depois aos EUA. 

Essa viagem já começou no fim de 2014, quando, no dia 17 de dezembro, os presidentes desses dois países, Raúl Castro e Barack Obama, anunciaram o restabelecimento das relações diplomáticas entre as suas nações, depois de cinco décadas de inimizade. Nos discursos que foram proferidos separadamente pelos dois presidentes, naquele mesmo dia, tanto Castro quanto Obama agradeceram publicamente a mediação de Papa Francisco na retomada dessa relação bilateral, que foi marcada pela reabertura, em julho passado, da embaixada cubana em solo americano, em Washington, depois de permanecer fechada por 54 anos. Por isso, depois de Cuba, como sinal dessa reaproximação, Francisco se dirige nos dias seguintes a três das maiores cidades dos EUA; Washington, Nova Iorque e Filadélfia.

O motivo da viagem é o 8º Encontro Mundial das Famílias, na Filadélfia, que pode deixar ainda mais claro o que Francisco pensa sobre as questões da família e do casamento, em vista do Sínodo Ordinário de outubro. Haverá ainda outros momentos muito importantes, como o discurso inédito em toda a história de um pontífice em uma sessão conjunta do Congresso dos EUA, no dia 24, o discurso do papa na sede da Organização das Nações Unidas e o encontro inter-religioso no Marco Zero, o local do ataque de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, ambos no dia 25.

Mas é o cuidado da criação que terá um papel de destaque nessa viagem. Os EUA, junto com a China, são um dos países com maior impacto negativo sobre o ambiente. Essas duas nações representam juntas 45% das emissões planetárias de CO2, um dos gases causadores das mudanças climáticas (toda a União Europeia, em comparação representa 11%). Por isso, Francisco terá a oportunidade de retomar em pleno solo estadunidense - um púlpito central no cenário mundial - alguns pontos centrais da sua encíclica ecológica, pois, "entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada" (LS 2).

Nas principais sedes politicas do principal "império" econômico contemporâneo, Francisco também poderá reiterar que a ecologia integral é inseparável da noção de bem comum (LS 156). Pois o bem comum "pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral". Para marcar esse apelo, Francisco se encontrará com os sem-teto de Washington no dia 24, com as crianças e famílias imigrantes em Nova Iorque no dia 25, com a comunidade hispânica e outros imigrantes na Filadélfia, no dia 26, e com os detentos do Instituto de Correção Curram-Fromhold, também na Filadélfia, no dia 27.

Para o papa, "o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos" (LS 23), e o princípio de todo bem comum é "um apelo à solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres" (LS 158). É nessa perspectiva que a viagem de Francisco, como sinal da aliança entre Cuba e EUA, vai muito além da questão geopolítica, mas aponta para "a consciência de uma origem comum, de uma recíproca pertença e de um futuro partilhado por todos" (LS 202).



(texto publicado na revista Família Cristã nº 957 - ano 81 - setembro de 2015)

Il Volo da Ti lascio una canzone 2009 al successo di oggi



Ti lascio una canzone 2009


Ti lascio una canzone 2009


Miss Italia 2012


Ti lascio una canzone 2014


Primo live a Taormina - 20 luglio 2014


Concerto di Natale 2014 al Senato


Il Volo vince San Remo 2015 con la canzone Grande Amore


Concerto all'Arena di Verona - luglio 2016


Concerto all'Arena di Verona - luglio 2016


Il Volo nel programma "Altas Horas" - novembre 2016










Fim de Ano: Momento Para Pensar a Vida - Leandro Karnal


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Bicarbonato de sódio


Encontrado em farmácias e supermercados, esse pó cristalino de custo baixo ganhou fama por aliviar sintomas da má digestão. Quem sabe cozinhar também conhece seu poder mágico nas receitas de bolo: ele deixa a massa leve e fofinha. Mas sua utilidade vai muito além - veja só as aplicações em que o produto se revela eficaz

1. Desodorante nota 10

Isso mesmo, e dos melhores!  O bicarbonato não impede a transpiração, mas evita o desenvolvimento de bactérias que causam mau cheiro nas axilas e nos pés. Numa embalagem de desodorante vazia, misture 1 colher (café) de bicarbonato em 50 ml de álcool (comum ou o de cereais). Antes de usar, agite bem. A validade é de dois anos. Qume tem alergia pode dispensar o álcool e usar água com as mesmas proporções. Nesse caso, dura apenas três dias.

2. Bochechas contra cáries e aftas

Para prevenir cáries, problemas de gengiva e curar aftas, faça bochechos com uma solução preparada com 1 colher (café) de bicarbonato dissolvido em 1/2 copo de água. Use uma vez ao dia, depois de escovar os dentes.

3. Respire melhor

O nariz entupiu? Experimente esta dica para se sentir aliviada. Misture 1 colher (chá) rasa de sal e outra de bicarbonato de sódio em 1 litro de água fervida e pingue um conta-gotas do líquido morno em cada narina, duas vezes por dia. O descongestionante caseiro tem prazo de validade de 24 horas.

4. Panelas e assadeiras brilhando

Nem precisa esfregar: é só cobrir a região queimada com o bicarbonato, umedecer com água e deixar agir por duas horas - a mancha sai sem esforço. E ainda deixa a superfície brilhante. A técnica vale para vasilhas de alumínio, inox e vidro e também pode ser aplicada em torneiras.

5. Adeus, ralo entupido

Acabe com a gordura que se acumula no encanamento da pia da cozinha e pode causar entupimentos. É fácil: mensalmente, coloque no ralo 1/2 xícara (chá) de bicarbonato, seguido de 1 xícara (chá) de vinagre (branco ou vermelho). Espere a espuma da reação química diminuir e então enxágue com água quente.

6. Carpete cheiroso

Se você tem animais de estimação em casa - ou pouca ventilação e luz natural - e o seu carpete anda com um cheirinho ruim, coloque o bicarbonato numa peneira grande e pulverize. Deixe agir por dez minutos e aspire (não use vassoura, apenas o aspirador, para evitar borrões brancos). Repita conforme a necessidade.

7. Higienizador multiuso

O bicarbonato de sódio é um bactericida e você pode empregá-lo para lavar tábua de carne, cascas de frutas e legumes, pias, cesto de lixo e fogão. Assim como as esponjas usadas na lavanderia e na pia da cozinha e as escovas de cabelo. Faça a seguinte receita: 3 colheres (sopa) de bicarbonato e 1/2 colher (sopa) de hipoclorito de sódio em 1 litro de água. Deixe de molho por duas horas e enxágue.

8. Tecidos claros de novo

Com o tempo, panos de prato, roupas de cama, colarinhos de camisas e roupas brancas de algodão e linho acabam ficando com um tom meio amarelado, que não sai com lavagens simples e dá uma impressão de peças malcuidadas. Resolva o problema fervendo esses tecidos por uma hora. Para cada litro de água, acrescente 3 colheres (sopa) de bicarbonato de sódio e 1 colher (sopa) rasa de sal. Depois, enxágue bem em água fria corrente e seque normalmente. Já as lingeries brancas de náilon podem ser deixadas de molho por uns dez minutos em 1 litro de água com 1 colher (chá) de bicarbonato de sódio, depois da lavagem normal. Não enxágue e seque na sombra.

9. Sem mofo no banheiro

Limpe a cortina de boxe e os azulejos do banheiro com bicarbonato de sódio em uma esponja molhada. O mofo sai com facilidade e demora bem mais a aparecer de novo, mesmo em casas de praia, onde a umidade favorece o problema. Funciona tão bem quanto aqueles produtos de limpeza caros, específicos para isso, com a vantagem de não ter o mesmo cheiro forte e ainda não custar caro.

10. Geladeira limpinha

Evite aquele cheiro característico (e desagradável) mantendo uma vasilha com bicarbonato de sódio aberta em uma das prateleiras, num cantinho. Ele absorve os odores durante três meses. Após esse período, troque o produto para renovar suas propriedades de absorção. Você também pode usar bicarbonato de sódio num pano úmido a fim de finalizar a limpeza interna da geladeira e do freezer, pois essa técnica tem efeito bactericida.


(texto publicado na revista Máxima Especial - edição 1)

O drama após o Enem - Walcyr Carrasco


Há a proposta de reforma curricular e de exigir opções mais cedo. Como aos 15 anos alguém pode escolher uma área?

Veio o Enem. Ah, bom, para muitos não. Mas vem. E, durante ou depois do Enem, o jovem tem de escolher uma profissão. O que você será o resto da vida, eis a pergunta. Os que têm sorte fizeram um teste vocacional. Hum... testes vocacionais não são perfeitos. O resultado é difuso, aponta tendências. Na minha época, fiz um. Deu que eu tinha vocação para... tudo. É, tudo. Ler a palma da mão talvez seja mais exato. Um bom quiromante extrai verdades daquelas linhazinhas. Certa vez um estudante se aconselhou comigo por e-mail sobre que universidade cursar. Era de família pobre e falei para escolher algo seguro. Advocacia, medicina. Fez o teste e deu jornalismo na cabeça. Ainda insisti: os colegas jornalistas sabem que a profissão é dificil e não deixa ninguém rico. Ele insistiu em jornalismo. No meio do curso, descobriu seu ser mais íntimo: travesti. Travesti não é profissão. Mas daí decorrem várias questões e possibilidades profissionais. Algum psicólogo analisando teste vocacional consideraria essa hipótese? Pois virar travesti foi a melhor mudança que ele poderia ter feito. Virou um sucesso. Sobrevive do Snapchat e tornou-se um dos principais influenciadores do país. Agora fez ponta numa série de TV e juro que não tem dedo meu nessa história. Quer fazer stand-up comedy. E terá sucesso, eu sei. Repito: algum teste...???? Você visualiza uma psicóloga dizendo num teste vocacional:

– Bota peito, querida. Vai ser.

A garotada do Enem está saindo da adolescência. Há quem tenha sorte e saiba o que pretende fazer o resto da vida. Alguns, por uma vocação que explodiu muito cedo. Eu, por exemplo. Aos 11 anos avisei meus pais que seria escritor. Como a família não tinha nem sequer o hábito de ler (só eu), foi uma surpresa. Medo de que eu passasse fome. Papai me botou num curso de datilografia, aprendi a usar aquelas máquinas enormes, antigas. Observou:

– Se não der certo como escritor, pelo menos pode trabalhar num escritório.

Essa ferramenta ajuda-me até hoje. Sou rapidíssimo para escrever capítulos de novelas. Mesmo assim, como escritor não era exatamente uma profissão, tentei faculdade de história, cursei três anos na Universidade de São Paulo, prestei novo vestibular e concluí jornalismo na mesma USP. Se hesitei, foi porque viver de escrever não é algo linear. Tipo terminar uma faculdade e começar como trainee. Sempre soube o que desejava ser. É uma dádiva. Boa parte dos jovens se enquadra em dois tipos: os que escolhem a profissão desejada pelos pais e os rebeldes, frontalmente contra qualquer desejo ou sugestão dos mais velhos. O médico é filho de médico e surge uma dinastia. Roqueiro também pode ser filho de médico. Boa parte escolhe as profissões “certinhas”, de emprego certo, garantido. Um grande número deseja empregos públicos, estáveis. Mas isso criará seres humanos felizes? Pessoas têm um potencial, uma vocação. A família tenta induzir o jovem a escolher algo para “se dar bem”. Mas há um outro conceito de “se dar bem”. É tornar-se um ser humano pleno e realizado.

Estudei num colégio que fez nome na época. O antigo Colégio de Aplicação da USP, fechado pelo governo militar. Reabriu depois. Era experimental e proporcionava a todos nós experiências variadas e extracurriculares. Do Colégio de Aplicação saíram pessoas que se tornaram importantes em vários campos. Há a proposta de modificar o currículo e exigir que escolhas sejam feitas mais cedo. Como aos 15 anos alguém pode escolher uma área? Pior: não haverá opção. A maior parte estudará onde conseguir. Se houver vaga em um colégio mais voltado para humanas, é para lá que vai, mesmo que seja um gênio em física. No passado, havia clássico e científico. Mas em todas as escolas.

A decisão vocacional, muito difícil mesmo após o Enem, com um conhecimento tênue das carreiras, nem existirá mais. De certa forma, o Estado decidirá pelos cidadãos. Será muito dinheiro perdido. Engenheiros sem contato com a filosofia, já adultos, podem se apaixonar por ela e jogar anos de estudo fora para recomeçar. Da mesma maneira, filósofos que não se encontrarem na vida acadêmica vão recomeçar em arquitetura, por exemplo. Tempo, dinheiro e capital humano gastos à toa. Será mais caro. Se alguém sentir o impulso da vocação mais tarde, que se vire se não tiver as ferramentas apropriadas. A reforma educacional reduz opções. E reduz a vida. Vocação, para quê?



(texto publicado na revista Época nº 961 - 14 de novembro de 2016)

Alergias de verão - Bruna Yuri Ouchi


Cuidado com as alergias que aparecem na temporada mais quente do ano, principalmente com a pele

O verão chegou e todas as alergias de inverno que terminam com "ite" foram embora, certo? Infelizmente, não. É exatamente nesta época de altas temperaturas que aparecem as alergias de pele.

"Com o calor excessivo, temos uma tendência a suar mais e, por conseguinte, aumentamos a exposição às substâncias irritativas e tóxicas que se disseminam pela pele, causando sintomas, como coceira, vermelhidão e calor local", afirma a alergologista, Dra. Anna Luiza Porto Gonçalves, do Rio de Janeiro (RJ).

Por isso, todo cuidado com a pele, hidratação e exposição ao Sol é importante, principalmente com as crianças e os idosos cuja epiderme é mais sensível e frágil, e que são mais propensos à desidratação e às reações.

Conheça as principais alergias desta época

- Dermatite de contato: é muito comum e pode se causada pelo sulfato de níquel encontrado nas bijuterias, tintas de roupa, esmaltes e maquiagem. Com o suor, essas substâncias acabam agredindo a pele, causando coceira, vermelhidão e sensação de queimação.

- Picadas de insetos: com a alta proliferação nesta época do ano, pessoas alérgicas a picadas têm intenso desconfortável local, que leva à coceira e às feridas. Em alguns casos, pode até infeccionar, precisando, muitas vezes, de uso de antibiótico para melhorar o quadro.

"O repelente ajuda a afastar os insetos, mas, muitas vezes, seu uso também causa reação alérgica. Atenção à utilização correta, além da idade para o uso de cada tipo, especificamente, e evitar a aplicação e áreas reativas", orienta a Dra. Anna Luiza.

- Fotodermatites: são alergias a medicamentos que pioram com a exposição ao Sol. Os mais comuns que causam tal processo são os derivados da sulfa, anti-inflamatórios e remédios para dor.

"Não são proibitivos, mas devem ser lembrados quando estamos investigando a causa das lesões, coceiras e vermelhidão da pele", afirma.

- Fitofotodermatite: é conhecida e, muitas vezes, confundida com queimadura. É causada pelo contato da pele com as frutas cítricas, como o limão ou a laranja, durante exposição ao Sol.

- Protetor solar: ele é indicado, principalmente, nesta época, para evitar as lesões solares da pele, mas é válido lembrar que algumas substâncias, como PABA (também conhecido como ácido aminobenzoico), comum em muitos protetores, podem causar dermatite de contato e devem ser evitadas em pessoas que possuem sensibilidade a essa composição.

- Dermatite atópica: doença hereditária que acomete em todas as épocas do ano, mas tende a piorar com o calor e o suor excessivo. Provoca um intenso ressecamento da pele e, no verão, costuma ficar mais crítica. Por isso, é importante redobrar a atenção na hidratação da pele e evitar substâncias irritativas.

Como evitar doenças de verão

- Cuidado redobrado com o uso de repelentes e protetores solares;

- Atenção a qualquer substância utilizada diretamente na pele, além de coisas que podem trazer eação, como roupas com tintas;

- Se notar coceira ou vermelhidão na pele, tome um banho para remover os resíduos que possam causar atritos na pele. O uso de hidratante e de antialérgicos pode amenizar o problema;

- Alimente-se saudavelmente, evitando corantes e embutidos;

- Beba bastante água e fique atento à validade dos alimentos;

- A exposição prolongada de muitos alimentos ao Sol pode causar complicações e intoxicações;

- Use roupas leves, priorizando as de algodão. Evite as roupas sintéticas ou muito justas;

- Evite banhos muito quentes e o uso de duchas e esponjas, para manter a camada protetora da pele.




(texto publicado na revista Ponto de Encontro nº 65 - dezembro 2016/janeiro 2017)

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

10 ideias que podem estimular a criatividade - Leandro Karnal


2016 o ano que não acaba - Leandro Karnal (Programa Careca de Saber)


A minha homenagem a Carrie Fischer





Siga a intuição e acerte sempre


Todos somos intuitivos. E é possível desenvolver essa capacidade com exercícios e atenção. Confiando 100% em sua voz interior, você recupera uma importante chave para ser feliz e bem-sucedido.

Quantas vezes você não pensou ter esgotado as possibilidades de como solucionar um problema quando - bingo! - uma voz parece soprar a resposta. E de quantas enrascadas já se livrou porque algo lhe disse para mudar radicalmente os planos na última hora. Talvez nem se dê conta, mas você é uma pessoa intuitiva - como todo mundo, aliás -, e esse dom independente de crença religiosa ou de ser uma pessoa espiritualizada ou cética.

Mesmo quem nunca se preocupou em entender esses chamados sabe que eles conduzem a planos e ideias, trazem inspiração e fazem com que se esteja no lugar certo na hora certa - ou se evite estar no lugar errado na hora errada. Esse guia interior nos aponta rumos a tomar na carreira, nos relacionamentos ou em situações comuns, como escolher um caminho ao dirigir o carro. "A intuição faz parte da natureza humana e está a dispor de todos desde a infância. Algumas pessoas, entretanto, entendem melhor essas mensagens. Mas a qualquer momento pode-se desenvolver e, principalmente, aprender a confiar na sabedoria interior", afirma a psicóloga Virgínia Marchini, diretora do Centro de Desenvolvimento do Potencial Intuitivo, em São Paulo.

Cultivar essa faculdade ajuda não apenas a resolver problemas e a tomar decisões, mas também a viver em sintonia com nossa essência. "Não basta saber que somos intuitivos. Temos que usar esse conhecimento para orientar todos os setores da vida", diz a psicóloga Regina Célia Metidieri, diretora da Escola da Intuição de São Paulo Sara Bat.

Além da razão e da emoção

As mensagens podem surgir de diversas maneiras por meio de um súbito pensamento, chamado insight, uma sensação física, uma visão ou até mesmo um sonho revelador. Seja qual for o canal, é como se a informação nos fosse confiada por algo fora da influência da razão ou da emoção. "Cada um precisa descobrir a maneira como sua intuição se revela", completa a consultora americana Nancy SantoPietro, autora do livro Feng Shui, Harmonia dos Espaços (Ed. Nova Era).

Sensações corporais são formas bastante comuns - embora nem sempre compreendidas - da linguagem intuitiva, diz a psicóloga Regina Metidieri. "O corpo fala", assegura. "A tensão muscular ou a sensação de mal-estar que antecedem uma decisão podem indicar mensagens do inconsciente."

Todos nascemos providos dessa sabedoria, que acaba se perdendo ao longo do tempo, sobrepujada pelos conhecimentos e pelas limitações que a educação e a sociedade nos impõem. "Mesmo muito pequena, uma criança sem pensar reconhece quem transmite a ela segurança e escolhe quem vai beijar ou para que colo vai", lembra Nancy SantoPietro.

Quanto mais procuramos desvendar os caminhos da intuição, mais facilmente captamos suas mensagens. Pode ser difícil, a princípio, distinguir entre a sutileza de uma intuição e as cobranças internas. "Por isso, é fundamental separar o verdadeiro insight do medo ou do desejo", alerta a psicóloga Virgínia Marchini. "O receio de que algo não vá dar certo ou, por outro lado, o desejo de que alguma coisa se concretize pode ser confundido com um flash", diz a especialista.

Aprendendo a confiar

É bom acreditar 100% na intuição? Afinal, a maioria das pessoas costuma mesmo desconfiar de tudo o que não é lógico e fundamentado numa relação de causa e efeito. A pergunta procede: como desmarcar uma reunião, uma viagem ou um encontro amoroso baseado simplesmente numa sensação? "A intuição é infalivelmente verdadeira", assegura uma das maiores estudiosas do assunto, a inglesa Alice Bailey (1850-1949), em um dos livros fundamentais sobre o tema, Do Intelecto à Intuição. "Todas as soluções repentinas de problemas na aparência complexos ou insolúveis, assim como as invenções revolucionárias, têm origem na intuição", escreveu Bailey.

O que ela possibilita

Estes benefícios foram relacionados pela consultora americana Patricia Einstein em seu livro Intuição - O Caminho da Sabedoria Interior (ed. Cultrix).

- Perceber as melhores escolhas e transformá-las em realidade.
- Ter mais contato com os pensamentos e sentimentos de quem você ama, dos amigos e colegas.
- Reagir a qualquer situação com convicções fortes e com a sensação de confiança no próprio conhecimento.
- Conseguir ler nas entrelinhas o que se passa no trabalho e nos relacionamentos.
- Estar sincronizado com as mudanças certas na carreira e tomar decisões hábeis nos negócios.
- Encontrar seu par ideal e saber quem é realmente melhor para você.

Ferramenta para o sucesso

De nada serve abrir esse canal de comunicação com o inconsciente se o conhecimento não impulsionar as ações. "Nas grandes empresas, executivos bem-sucedidos admitem que aprenderam a confiar na intuição e que ela se tornou mais precisa à medida que depositaram cada vez mais credibilidade nela", diz o consultor indiano Jagdish Parikh no livro Intuição - A Nova Fronteira da Administração (ed. Cultrix), que ensina como explorar as capacidades intuitivas no universo empresarial.

Em um levantamento internacional organizado por Parikh, 53,6% dos administradores afirmaram usar em igual proporção a intuição e a lógica e o raciocínio, enquanto 7,5% disseram que se guiam principalmente pela intuição na tomada de decisões.

Artistas plásticos, músicos, escritores, cientistas e outros profissionais que lidam com pesquisa e criatividade costumam ter essa faculdade muito bem desenvolvida. Mas ela não é privilégio de quem lida com as esferas impalpáveis da vida. "Executivos de sucesso firmam negócios apenas confiando em suas impressões. Ao lançar produtos inovadores, por exemplo, eles podem até ir contra os dados e as projeções de mercado e apostam apenas no seu taco", lembra a psicóloga Virginia Marchini. "Investir no conhecimento intuitivo e ir contra a corrente é hoje o que diferencia o empresário de visão", garante o gerente Fernando Valentim, de São Paulo.

Intelecto e feeling

Se existe uma receita de sucesso para os negócios, é equilibrar a intuição com a racionalidade. Quando se age baseado apenas no intelecto, corre-se o risco de encarar os desafios como meras equações. Por outro lado, é preciso avaliar se você não está superestimando o feeling pessoal. "Ao combinar razão e intuição, podemos nos tornar verdadeiros visionários", ressalta a psicóloga Frances Vaughn no livro Awakening Intuition (Despertando a Intuição), inédito no Brasil. "Fonte de informação tão valiosa quanto livros, pesquisas e relatórios, a intuição deve ser considerada nas tomadas de decisão", conclui a consultora Nancy SantoPietro.

Intuição, um pilar da personalidade

O psicanalista suíço Carl Jung (1875-1961) definiu que as diferenças de personalidade são decorrentes da maneira como cada pessoa usa a mente, percebe o mundo e faz seus julgamentos. Os tipos psicológicos se baseiam, segundo ele, no predomínio de uma das quatro funções da consciência: o pensamento, que se opõe ao sentimento, e a sensação, oposta à intuição. "Uma pessoa excessivamente racional costuma não levar em conta suas emoções e em contrapartida, alguém emocional ao extremo age sem pensar", explica a psicóloga Virginia Marchini. Quem desenvolve somente a sensação - informações captadas pelos cinco sentidos - despreza os insights inexplicáveis. Na outra porta, quem expressa sobreteudo a natureza intuitiva pode perder o foco da realidade exterior. "Segundo Jung, equilibrar o sentimento, o pensamento, a sensação e a intuição é o que faz o ser humano florescer", ensina a especialista.

Como abrir os canais

Desenvolver a intuição requer treino, da mesma forma como se aprende a tocar um instrumento musical. Uma vez integrada ao dia-a-dia, torna-se uma bússola para a vida. Siga estas sugestões de exercícios sugeridas pela psicóloga Virginia Marchini, de São Paulo.

- Aprenda a confiar no inconsciente. Se tiver um problema, peça que um sonho traga a resposta a seus questionamentos. Experimente também dispensar o despertador e constate como acordará na hora desejada.

- Introduza mudanças na rotina: mude caminhos ou a ordem como executa as tarefas. Assim, o cérebro estabelece novas conexões entre os neurônios, o que estimula a criatividade. E como intuição e talento criativo estão ligados, ao se desenvolver uma qualidade, desenvolve-se a outra.

- Exercite a imaginação. Transforme seus desejos e objetivos em cenas detalhadas. Coloque-se dentro delas. Isso estimula a visão interior.

- Oriente-se pelas sincronicidades que podem se revelar em encontros fortuitos com pessoas-chave, telefonemas oportunos, mensagens que chegam por meio de livros e filmes. Quando tiver uma questão a resolver, passeie em uma livraria, por exemplo. Provavelmente cairá em suas mãos um livro com respostas.

- Observe as mensagens de seu corpo. Tensões musculares, enjoos, dores de cabeça que antecedem um compromisso podem ser sinais intuitivos.

- Os momentos de quietude, como os proporcionados pelas práticas meditativas, ajudam a silenciar a mente e fazem a intuição fluir.

- Conheça a si mesmo. O autoconhecimento ajuda a separar a intujição das cobranças internas.



(texto publicado na revista Bons Fluídos nº 74 - julho de 2005)

A arte de reinventar-se - Tatiana Ferrador



"Nunca desista. Mesmo que o mundo te fale ao contrário, acredite sempre"

Sabe aquele ditado popular que diz que se avida lhe der limões, faça uma limonada? Então, foi isso mesmo que Susana Schnarndorf fez quando recebeu o diagnóstico de Múltipla Atrofia do Sistema, doença degenerativa.

A atleta paralímpica começou a nadar aos 11 anos de idade, ainda que a preferência de sua mãe fosse, na verdade, o balé. Determinada, fez valer sua vontade e começou a treinar duas vezes por semana na escola de natação Tibungo, em Porto Alegre (RS). Logo passou a ir todos os dias. Sua paixão era a água, assim como a de seus irmãos, que praticavam canoagem, e de onde tirava sua inspiração.

Seu desempenho melhorava progressivamente e logo vieram as competições. Aos 12 anos, já pela escola Mauri Fonseca, cujo proprietário homônimo era o ex-nadador olímpico e um dos técnicos de natação mais respeitados do Rio Grande do Sul, recebeu um convite dele para treiná-la.

Até hoje atribui aos seus ensinamentos o mérito de conhecer os verdadeiros princípios para conquistar suas metas na natação. "Ele sempre me dizia que treinar era como construir um muro, cada dia vai-se colocando um tijolinho e quando faltam tijolinhos, o muro cai", lembra.

Já aos 18 anos, Susana foi convidada a nadar pelo Minas Tênis Clube em Belo Horizonte (MG), onde ficou até os 21 anos. Durante esses três anos, teve posição de destaque na natação infanto-juvenil brasileira, mas devido ao excesso de esforço, lesionou seus joelhos e se afastou das piscinas.

De volta à casa dos pais, em Porto Alegre, não conseguiu ficar parada, e durante sua reabilitação, conheceu o triatlo. Começava, então, o aprendizado em uma nova modalidade aos 24 anos.

Graças ao apoio do pai, Ervino Schnarndorf, foi ao Paraguai comprar sua primeira bicicleta. A partir daí, começou a treinar e disputar algumas provas nacionais. Mudou-se para o Rio de Janeiro e teve em sua carreira 13 ironmans, sendo cinco vezes campeã brasileira durante 14 anos na prática esportiva. Casou-se, teve três filhos, separou-se em 2005 e foi acometida de uma grande depressão.

Sintomas 

Engasgos e falta de coordenação. Esses foram os primeiros sinais de que algo não estava bem com sua saúde. Não conseguia mais cuidar das crianças, tampouco prosseguir na sua carreira como triatleta.  Diagnósticos imprecisos e díspares a fizeram pensar que sua vida estivesse chegando ao fim e, por algumas vezes, ganhou a sentença de morte ao ouvir as mais variadas análises, como lúpus, esclerose múltipla, Parkinson, entre outros. "Foram anos muitos difíceis, principalmente por me separar dos meus filhos", conta ela.

Foi apenas em 2010 que veio um diagnóstico mais assertivo: Múltipla Atrofia do Sistema, doença degenerativa. O que seria motivo de conformismo e desânimo, tornou-se uma mola propulsora, e Susana foi incentivada a voltar a nadar. Assim, procurou o mesmo clube em que treinava triatlo e sem nenhuma pretensão, conheceu a equipe de natação paralímpica, que estava treinando ali.

Recebeu o convite do técnico da equipe para treinar com eles. Susana não hesitou e, mesmo se sentindo fora de forma, já com 40 anos, aceitou. Tentou a classificação e foi elegível na classe 58 para a natação paralímpica. Vale lembrar que quanto maior o número de classe (de 10 a 0) menor é o comprometimento da deficiência.

O que Susana não esperava era que bateria cinco recordes brasileiros logo na primeira competição. Passou a integrar a seleção brasileira de natação paralímpica e representou o País nos Jogos Paralímpicos de Londres, em 2012, conquistando o quarto lugar no nado peito.

Já em 2013, foi eleita a melhor atleta paralímpica do ano, pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), após bater o recorde mundial nos 100 metros nado peito - classe SB6, em Montreal, Canadá. "Tirei força nos meus filhos, nado por eles e para eles. A natação é meu remédio diário", diz a nadadora.

Os anos de 2014 e 2015, foram outra prova de superação para Susana, pois sua doença progrediu e seus resultados caíram drasticamente. Desistir? Não, essa palavra não faz parte de seu dicionário. Ela, no entanto, precisou passar por uma reclassificação e, atualmente, encontra-se na classe S5.

Determinada, hoje, aos 49 anos, atingiu o índice para os Jogos Rio 2016 em sua nova classe e comemora a alegria de poder competir "no quintal de casa", como diz.

"Ter meus filhos, minha família e meus amigos na arquibancada é algo que não tem preço. Vou realizar o maior sonho da minha vida e espero dar a vitória para eles", afirma, enquanto segue treinando rotineiramente com a equipe em São Caetano do Sul (SP). E deixa ainda uma dica a todos que estão passando por algum tipo de dificuldade. "Nunca desista. Mesmo que o mundo te fale ao contrário. Acredite sempre." E ela está certa, não?



(texto publicado na revista Ponto de Encontro nº 63 - ago/set de 2016)

7 soluções quase utópicas para São Paulo - Tiago Cordeiro


Aristóteles dizia que a cidade é o ambiente natural do ser humano, o lugar onde a vida pode ser a melhor possível. Isso porque ele viveu há 2300 anos e nunca encarou a Marginal do Tietê, em São Paulo, na tarde uma sexta-feira. Nas últimas décadas, as metrópoles viraram uma complicação. Para diminuir o caos, elas precisam de grandes obras, frutos de urbanistas com ideias radicais. A SUPER conversou com alguns desses sonhadores e reuniu 7 soluções utópicas para nossa maior cidade. Algumas já foram implantadas com sucesso em outro lugar, outras são inéditas. São casos em que vale a máxima do escritor Monteiro Lobato: "Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira, mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum."

1) Proibir carros

A ideia: Proporcionalmente ao número de passageiros, um único automóvel ocupa 8 vezes mais espaço do que um ônibus. Mesmo assim, mais da metade dos deslocamentos de São Paulo é feita de carro. O sociólogo americano J. H. Crawford lidera um movimento radical: o Carfree, que defende a extinção dos carros em troca de qualidade de vida. Uma das saídas é investir no transporte público integrado, com ônibus, metrôs, trens e ciclovias. É o que faz com que os 35 milhões de moradores de Tóquio dependam menos de carros e não demorem longas horas para voltar do trabalho para casa. "Sozinho, o ônibus não funciona em uma cidade de 100 quilômetros de extensão lateral", diz Geraldo Serra, professor de urbanismo da USP. Para tirar os carros das ruas, portanto, é preciso investir em trens e metrôs.

E como essa utopia poderia ser aplicada em São Paulo? O arquiteto Nazareno Affonso, diretor da Associação Nacional dos Transportes Públicos, propõe restringir os carros no Centro de São Paulo, nos arredores do Teatro Municipal. A ideia poderia se estender para ruas secundárias no centro expandido de São Paulo, dando mais espaço para ciclistas e pedestres. Isso poderia ser feito com taxas para quem rodar pelo Centro, os chamados pedágios urbanos. Ou, como ele propõe, trocando os veículos por carros elétricos de dois lugares, com velocidade máxima de 60 km/h e funcionando sobre trilhos. Seria uma versão menor e moderna dos antigos bondes. O motorista seria obrigado a deixar o carro em um bolsão de estacionamento distante e dali alugar um carro menor, que usaria apenas uma faixa da rua. As outras duas caberiam aos ônibus e às bicicletas.

Onde já deu certo: Proibir carros funciona bem em cidades pequenas e médias. Com 280 mil habitantes, Veneza, na Itália, só permite o tráfego de veículos motorizados em poucas ruas. A ilha Lamma, a 3ª maior de Hong Kong, tem uma frota de automóveis pequenos, com capacidade para dois motoristas, e só para situações de emergência. Cidades maiores não conseguem acabar com os carros, mas limitam as áreas onde podem circular. Montreal, no Canadá, tem 32 quilômetros de passagens subterrâneas, que ligam 60 prédios comerciais e residenciais. Bogotá, que tem 300 quilômetros de ciclovias, 10 vezes mais do que São Paulo, pretende proibir carros na região central até 2015. Em Seul, o governo cobra pedágio de carros com menos de dois passageiros. O número de veículos caiu 34%.

2) Plantar árvores no minhocão

A ideia: Construído no Centro de São Paulo em 1970, o elevado Presidente Arthur da Costa e Silva, o Minhocão, é um bom exemplo de como grandes obras urbanísticas podem degradar um bairro. Em maio de 2006, um projeto da arquiteta Juliana Corradini venceu um concurso da Secretaria Municipal de Planejamento para eleger a melhor solução para aquele trambolho. Juliana teve a ideia de transformar a pista num túnel e, em cima dele, fazer um parque público suspenso de 3,4 quilômetros de extensão. Ela sugere erguer estruturas metálicas para sustentar a construção de galerias com cafés e bancas nas laterais. Para chegar ao parque, seria preciso subir por escadas ou elevadores. O projeto está orçado em R$ 86 milhões. Com o parque, a cidade ganharia mais um local de encontro, e os moradores, mais tranquilidade. Seria um passo importante na proposta de revitalizar a região.

Para reforçar as mudanças ao redor do Minhocão, os arquitetos Eduardo Novaes e Ciro Araújo preveem uma diminuição do número de pistas para carros, a ampliação das calçadas e a construção de uma praça arborizada e com um anfiteatro, ali perto, na rua das Palmeiras.

Onde já deu certo: Nos anos 60 e 70, a cidade de Boston, nos EUA, construiu vários elevados para diminuir os congestionamentos. Duas décadas depois, demoliu alguns deles e os trocou por túneis, por meio de uma obra monumental que durou 15 anos e custou a bagatela de R$ 30 bilhões (o preço de 16 novas linhas do metrô em São Paulo). Mas o exemplo mais bem-sucedido de jardim elevado, da forma como Juliana propõe, é o Promenade Plantée, em Paris. Tem 4,5 quilômetros de extensão e liga a Opéra Bastille ao Bois de Vincennes. O parque foi construído sobre um viaduto feito no século 19 e abandonado em 1969. A Filadélfia e Manhattan também têm planos para construir os próprios jardins suspensos em linhas de trem desativadas.

3) Proibir grandes shoppings

A ideia: Grandes shoppings trazem grandes problemas de trânsito para a região onde são instalados, além de reduzir o comércio de rua. Uma forma de lidar com o problema é diminuir o tamanho dos centros de consumo e espalhar as lojas pelos bairros. Em São Paulo, o projeto vencedor do concurso Bairro Novo, que propõe uma forma de ocupação de uma área de 1 milhão de m² no bairro da Barra Funda, prevê que a região, hoje praticamente deserta, seja ocupada por casas que convivam em harmonia com pequenas lojas, em ruas sem postes, com fios elétricos enterrados, calçadas largas e que teriam saída para as grandes avenidas.

Onde já deu certo: Há 10 anos, quando os shoppings e as redes de hipermercados começavam a tomar conta dos subúrbios de Londres, o governo britânico resolveu limitar o tamanho dos centros comerciais nesses bairros mais afastados. "As grandes redes se adaptaram. Em vez de construções gigantescas dominando toda a periferia, surgiram muitas lojas menores. As redes ainda estão em maioria, mas agora concorrem em condições de igualdade com pequenos comerciantes locais", afirma o urbanista inglês Richard Burdett, professor da London School of Economics e curador da Bienal de Arquitetura de Veneza.

4) Construir túneis aquáticos para evitar enchentes

A ideia: Cidades surgem em torno dos rios porque precisam de água potável. Mas, quando o crescimento urbano toma o espaço das águas e as enchentes são inevitáveis, deixar o leito do rio mais fundo nem sempre é suficiente. Quando o solo sob o rio é duro demais e pouco poroso, escavar o leito funciona apenas como um paliativo. É por isso que o geólogo Luiz Vaz, professor visitante do Instituto de Geociências da Unicamp, propõe a construção de um túnel ao lado do rio Tietê, desde o Cebolão até as proximidades de Barueri. Nas contas do geólogo, parte da água do rio poderia ser desviada para um túnel de 37 quilômetros de comprimento, que correria sob o rio e desaguaria depois do final dese trecho de grandes enchentes. A obra levaria dois anos e custaria nada menos que R$ 800 milhões, metade do preço da nova linha do metrô de São Paulo.

Onde já deu certo: O governo chinês está construindo dois túneis de escoamento sob o rio Amarelo, na cidade de Zhengzhou. Somados, eles terão 19 quilômetros de extensão e vão custar R$ 380 milhões. Além de evitar enchentes, os túneis vão despejar o excedente de água no norte do país, onde o solo árido dificulta a plantação de arroz. Quem não tem tanto dinheiro prefere resolver o problema das enchentes com áreas verdes ou piscinões. Em São Paulo, o arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre sugere que a prefeitura transforme as regiões em torno das avenidas do Estado, Roberto Marinho e Aricanduva em grandes avenidas-parques ao lado de conjuntos residenciais. Outra ideia, que já funcionou em Paris e em bairros de São Paulo, como o Pacaembu, é reter a água em piscinões para soltá-la devagar, logo depois que as chuvas param.

5) Construir um Central Park paulistano

A ideia: Em Nova York, o Central Park divide Manhattan em duas partes e tem uma área maior que países como Mônaco ou o Vaticano. Os arquitetos Rogério Batagliesi e Antonio Malicia propõem um parque semelhante em São Paulo, ligando o Campo de Marte ao Horto Florestal. O Anhembi e o Sambódromo ficariam envolvidos por verde, e haveria um lago formado pelas águas do Tietê. Para isso, o trecho de 6 quilômetros da Marginal entre as pontes do Limão e das Bandeiras seria subterrâneo. O parque abrigaria também museus, bares e pequenas lojas. Na avenida Prestes Maia, na zona norte, haveria um prédio de alta tecnologia ecologicamente correto, que geraria parte de sua energia elétrica usando turbinas eólicas e painéis solares.

Já o arquiteto Mario Biselli pensa numa ideia igualmente radical: transformar o Aeroporto de Congonhas, o mais movimentado do Brasil, num parque. "Aquela região é residencial e não comporta mais nenhum tipo de aeroporto, muito menos o mais movimentado do país. Aquela área daria um belo parque", diz.

Onde já deu certo: Instalado no meio de Manhattan, o Central Park original tem 3,4 km² e recebe 25 milhões de visitantes por ano. Quando foi construído, em 1873, não tinha lagos - eles são todos artificiais. Há espaço para a prática de esportes, para as crianças brincarem. O lugar também se tornou um santuário de aves. O projeto foi inspirado no Bois de Boulogne, em paris, e no Hyde Park, de Londres, mas com uma inovação: pedestres, veículos de passeio e cavalos tinham pistas próprias. O parque é também um centro cultural: todos os anos, no verão, a Filarmônica de Nova York apresenta dois concertos ao ar livre. Simon e Garfunkel, Diana Ross e Dave Matthews Band já se apresentaram lá.

6) Valorizar as favelas

A ideia: Cidades não se resolvem só com parques, pontes e viadutos - as pessoas e a auto-estima que elas sentem por morar ali são questão de segurança pública. Gostar do bairro e da vizinhança diminui os índices de violência. Quando os moradores são apegados à região onde moram, eles reagem às ações criminosas, por menores que sejam. "Para ter moradores satisfeitos, a cidade precisa transmitir a sensação de segurança entre estranhos. Quem não se sente ameaçado na região onde vive luta com mais disposição para continuar onde está", diz o filósofo colombiano Hernando Gómez Buendía, diretor do Informe Nacional de Desenvolvimento Humano.

Onde já deu certo: Na década de 1970, o bairro nova-iorquino do South Bronx foi resgatado pelo design. "Os moradores ganharam casas mais bonitas, que aumentaram de preço no mercado. Com isso, passaram a valorizar mais sua região, a respeitar as autoridades e a delatar os criminosos", diz o designer urbano Philipp Rode, da Inglateerra. Outra coisa que ajudou, no caso, foi a instalação de um tribunal de pequenas causas dentro do bairro, que começou a julgar com rapidez casos menos graves de vandalismo. Na favela do Petare, em Caracas, na Venezuela, os ginásios esportivos foram restaurados e passaram a ser usados pelos moradores nos fins de semana. Mas o caso mais bem-sucedido vem de Bogotá. A capital da Colômbia reformou e coloriu as favelas e criou gincanas com direito a prêmios. Os bairros competem entre si pelo título de área com menor índice de violência. Uma vez por ano, a prefeitura promove dias em que só os homens podem sair de casa, e em outros só as mulheres: ganha a turma que tiver menos ocorrências policiais. Resultado: em 10 anos, Bogotá derrubou o número de mortes violentas pela metade.

7) Construir uma nova cidade

A ideia: A região entre Osasco e Sorocaba, a oeste de São Paulo, está crescendo rapidamente - e sem ordem. O arquiteto Bruno Padovano sugere que o poder público se antecipe e construa uma nova cidade inteira, que teria 6 milhões de habitantes. O nome seria Ecópole Oeste, e ele englobaria cidades como São Roque e Mairinque, a 70 quilômetros da capital, aliviando a densidade populacional paulistana. "Seria uma rede, com grandes núcleos habitacionais de 50 000 habitantees", ele prevê. "Cada núcleo desses seria completo, com arranha-céus residenciais e uma boa estrutura comercial e de serviços. E aproveitaríamos a estrada de ferro para construir uma linha de metrô de superfície, com estações a cada quilômetro. O professor Geraldo Serra concorda: "São Paulo precisa recuperar a Estrada de Ferro Sorocabana. É um grande eixo de transportes que está pronto, e a cidade não pode deixá-lo abandonado".

Onde já deu certo: Antecipar problemas futuros é uma escolha sensata. Na década de 1970, quando a crise das plantações de café do norte do Paraná começou a despejar desempregados em Curitiba, a prefeitura correu para ocupar o leito dos rios antes que virassem favelas. Foi quando a cidade ganhou a maioria de seus parques. "As pessoas não vão esperar a prefeitura. A região de Osasco a Sorocaba vai crescer sozinha e depois a única alternativa vai ser, de novo, correr contra o prejuízo com medidas paliativas", diz Bruno Padovano.



(texto publicado na revista Super Interessante edição 240 - junho de 2007)