segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Por que sentimos cãibras ? - César Kurt (Sempre quis saber)


1) Nossos músculos se contraem o tempo todo. Em obediência a uma ordem do cérebro, a placa motora - localizada entre o nervo e o músculo - dispara uma carga elétrica que, por si só, altera o equilíbrio entre o potássio, dentro da fibra muscular, e o sódio, que fica fora dela. Essa é uma contração normal. 

2) Mas, quando nos alimentamos mal, há um desequilíbrio nos teores desses minerais. Ocorre, então, uma troca de posição - o potássio sai da fibra e o sódio entra nela. O resultado é que o músculo se contrai involuntariamente e isso impede o relaxamento da região. Daí a dor intensa.

3) Outra causa é a fadiga muscular, que obriga o corpo a buscar energia no glicogênio, o açúcar do músculo. Quando ele se desfaz, grande quantidade de ácido láctico é liberada. Essa substância penetra na placa motora, dificulta sua missão de disparar a carga elétrica e torna o ambiente mais ácido, propenso às cãibras.


(texto publicado na revista Saúde é vital - nº 300 - julho de 2008 (Edição 25 anos)

Ficar de boca fechada: um dos segredos da vida (O Segredo)


Nunca, nunca, nunca fale mal dos outros; mas, principalmente, não fale mal de si mesmo, não fique contando suas misérias, problemas e tristezas para encontrar conforto na ‘pena’ alheia. Atrair os olhos da piedade é desejar e invocar sobre si condições dignas de piedade.

Indivíduos sem um ‘centro’ falam demais, estão sempre prontos a opinar, criticar, espalhar, reproduzir, acrescentar e fomentar falatórios de maneira irrefletida e desorganizada; eles não sabem, mas esta é a maneira mais rápida de se perder totalmente o Poder da Palavra.

Não manter a boca fechada é caminho certo para desperdiçar energia e vitalidade.

Ao ministrar cursos de Oratória, sempre insisto que inexiste melhor mecanismo de se ampliar essa capacidade do que ‘Calar a Boca!’. E manter a boca fechada não significa apenas não proferir palavras a esmo, mas estar atento a como nascem e se processam os pensamentos, a como eles podem ser canalizados e dirigidos favoravelmente.

Não raras vezes, uma ‘língua solta’ vem acompanhada de uma mente tíbia, um raciocínio raso e um temperamento descontrolado.

No Plano Astral, uma pessoa que não domina o Poder da Palavra apresenta-se em uma Aura turbulenta, onde as Forma-Pensamentos giram pra todos os lados sem lei e ordem. São soldados desgovernados, frágeis e completamente desarmados, susceptíveis a qualquer influência ou ataque externo. Trata-se espiritualmente de alguém que, desguarnecido, tende a sentir-se constantemente desanimado, desmotivado, cansado, oprimido e deprimido.

Quem não controla o Falar, não controla o Pensar e portanto não domina o próprio Existir.

Se cuidar e expandir a própria existência é o melhor Serviço que podemos prestar para a humanidade, ‘Calar’ é prática mais proveitosa que podemos aplicar em nossa própria vida.

Quem desenvolve a capacidade de Silenciar aproveita maravilhosas oportunidades de, no mínimo, não falar bobagens.

Parece algo óbvio e fácil mas não o é, a dificuldade em saber a hora de sair de cena, descer do palco e permitir que o Universo termine o espetáculo, é uma das razões para tanto stress e desajustes.

Quando se permite dominar pela ânsia de ‘responder a altura’, dar o troco, fazer-se ouvir, impor-se, gritar mais alto, se fazer presente a todo e qualquer custo vai se criando ‘ralos’ que sugam a Energia Pessoal

Desinstale do coração o hábito de reproduzir acontecimentos desagradáveis, tragédias, desastres e catástrofes; evite mergulhar nas ondas de raiva coletiva, de fofoca comunitária, de falatórios generalizados.

Aprenda a Silenciar.

Silenciar é manter a mente concentrada sobre o que é verdadeiramente importante para si, é abster-se de colocações desnecessárias e dizer apenas aquilo que condiz com o que se deseja ver manifesto no próprio Universo.

Silenciar é ser Grato.

Silenciar é colocar em palavras a Força, a Abundância, o Equilíbrio, a Saúde, a Iluminação, a Felicidade e o Bem.

Silenciar é também brigar pelos direitos, é ir pras ruas e entrar no campo de batalha se necessário for; mas é igualmente saber voltar ao estado de Paz e Centralidade.

Silenciar é a única maneira de adquirir o Poder da Palavra.


Fonte: Verdade Mundial


sábado, 27 de outubro de 2018

A assustadora história da mochila, em Londres - Concília Ortona (jornalista do Centro de Bioética do Cremesp)


Qual é a situação mais apavorante em uma viagem ao exterior ? A bagagem extraviar ? Fichinha. Passar mal e não saber como se explicar ao médico turco, grego... norte-americano ? ... argentino ? Dá-se um jeito. Perder o cartão de crédito ? Está ficando quente, mas multiplique isso por quinze: que tal perder "a mochila" ? Não uma caríssima, vagabunda mesmo.

Como assim ?

Filosofando como faz quem descreve uma pessoa... assim... sem atributos físicos: o valor está no  conteúdo. No caso, nos passaportes de todos os viajantes, além dos (parcos" euros, e das (minguadas) libras.

Explicando do começo. Como sempre, minha pequena família tira férias do tipo "pague por dois e leve três". Com o dinheiro pra lá de contado, pareceu boa ideia percorrer de trem, o trajeto até o aeroporto secundário de onde saem voos low cost de Londres até Edimburgo, rumo à nossa pousada já paga pela internet e, depois, para Paris.

Sejamos francos: até então, o paizão havia protegido com a própria vida "a mochila" do nosso destino. Mas, por estar distraído com a (costumeira) mala enorme, ou por culpa daquela loira que lhe deu uma piscada britânica - melhor esquecer -, ao descer do trem, nem notou estar mais leve.

Milésimos de segundos depois, meu espírito sinalizou algo errado - Cadê a mochila ? (grito). Três pares de olhos em direção às portas semicerrando do trem e, em seguida, o doloroso aviso sonoro em beep - que, se traduzido, significaria "ferrou". 

- Mãe, o que houve ? Silêncio. O pai, quase um metro e noventa, desabado no chão, em lágrimas.

A mim coube enviar ao cérebro os comandos: respire fundo. Pense. Pernas, controlem o tremor... Procure agora algum funcionário da estação disposto a nos ajudar a encontrar a mochila e a vossa fluência em inglês - aliás, a primeira a sumir.

Foi quando o conheci. Ele. Saint David, para quem, aliás, até hoje dirijo minhas orações. Tá bem: não sei bem qual era o cargo do moreno de bigodes e uniforme da estação. Devia ser importante, pois, rápido, passou a mexer seus pauzinhos (sorry, é um Santo!) para socorrer os brasileiros apavorados. Fez isso, porém, não sem antes soltar um compreensível e incrédulo "uau"! Passports, as well ? Oh, no!

Pragmático, David disparou: relax. Let's forget the fly, ok ? Continuou: "em que vagão estavam?". - Se os canhotos das passagens não estivessem na mochila, seria mais fácil responder. "Frente, meio, atrás" - Well...

Quando nada parecia funcionar, nosso David traçou sua estratégia sombria: como o trem era intermunicipal, nada poderia ser feito até que chegasse à próxima cidade, ou na outra, right ? "Ainda que sua bag esteja no lugar que nem sabemos qual, nada garante que as coisas estejam lá dentro". Alright ?

A essa altura, já estávamos todos em estado de inércia mental, pós-grandes sustos. Em - eterna - meia-hora, David voltou animadinho, well, para o padrão londoner de ser. "Acharam a mochila em um bagageiro para bolsas".

Sem energia para comemorar, fizemos menção de nos levantar do chão, mas, após olhar para a filha, com cara de "não, ainda não entendi" e para o marido, ainda em prantos (se aprume, homem!), sugeriu: "que tal só a senhora ir buscar ?".

E lá fui eu, rezando, até ver de longe o colega carrancudo do David, duas estações depois, com a mochila entre as pernas - e jeito de poucos amigos. No melhor estilo Scotland Yard, perguntou tudo o que havia dentro dela, inclusive, as frutas acondicionadas - no caso, uvas. "Orange ? Banana ? Apple ? Hello, não é mais simples confirmar se sou eu, no passaporte ?"

Enfim. Nem vou me prolongar no fato de que, para irmos a Edimburgo (ou dormir na Trafalgar Square e forget Paris), precisamos retornar à Victória Station e ir em pé, por seis horas, no último trem de linha da sexta-feira, recheado por alcoolizados torcedores de futebol americano (juro!) do Newcastle.

Basta dizer que, ao abrir a mochila, tudo estava lá: os passaportes e o restante dos documentos, bem como, as libras e os euros, contados e enrolados em papel celofane.

A última coisa que disse a São David foi um irônico "se fosse no Brasil...", ao que ele riu alto e respondeu "não esquenta, não roubaram sua mochila porque imaginaram que tivesse uma bomba dentro".

É... cada um com seus problemas...


(texto publicado na revista Ser Médico nº 84 - Ano XXI - jul/ago/set 2018)

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Tenha maturidade para amar! - Pe. Fábio de Melo


A gente se acostuma com o que não devia - Beatriz Mazzei


É tudo questão de costume, eles dizem.

Então a gente se acostuma a trabalhar em repartições que parecem caixas, a sentar em cadeiras desconfortáveis, a usar calça social, gravata que aperta, salto que dá calo. A roupa é tão quente que ligamos nosso ar condicionado, e assim, logo se acostuma com as janelas fechadas, logo se acostuma com o vidro escuro, logo se acostuma com a impossibilidade de assistir ao pôr-do-sol, logo se esquece da hora. Nossa, o dia voou.

A gente se acostuma a chegar tarde em casa e jantar rápido para dormir logo. De tão rápido, nem vale a pena se reunir à mesa, logo se acostuma a comer no sofá vislumbrando as imagens da telenovela enquanto se alimenta depressa. Assim se perde o sabor, a comida esfria, as conversas cessam.

A gente se acostuma com horários que não batem, a dizer "hoje eu não posso". A não dar atenção a quem amamos. Dormimos exaustos, sem ver nosso filho, nossa esposa, nossa mãe.

A gente se acostuma a abrir os olhos com a escuridão do dia que mal amanheceu. A se entupir de café para acordar e a pagar caro pela condução.

A gente se acostuma a dar bom dia pro motorista que já se acostumou com a nossa cara, e a ficar em pé no ônibus cheio, ouvindo o noticiário da manhã para não perder o tempo da viagem durante o congestionamento de duas horas.

A gente se acostuma com o jornal que te informa sobre a violência do centro, a chacina na comunidade, o trânsito da marginal, a falta de leitos nos hospitais e a  corrupção da polícia e do Planalto Central.

A gente se acostuma a temer. Com o medo vivemos em nossos condomínios fechados, acionamos sistemas de segurança, contratamos guaritas, alongamos os muros, fixamos cercas elétricas, blindamos nossos carros.

A gente se acostuma com a violência. Voltamos antes do toque de recolher, sabemos que a bala come solta e ai de quem estiver no lugar errado, na hora errada. Logo se acostuma a sair em bando, a rezar, a dar satisfação. Bença mãe, cheguei em casa, tô bem, hoje eu não morri.

A gente se acostuma com o abismo social, com o racismo estrutural, com o tráfico, com a pobreza. E à medida que se acostuma, acha normal, naturaliza-se.

A gente se acostuma com a miséria de amor e com a pobreza de espírito. Recolhemos migalhas, nos contentamos com pouco. Logo se acostuma a viver em relacionamentos tóxicos e abusivos ou frios, mornos, sem sal, sem açúcar, sem tempero nenhum.

A gente se acostuma a sair com as pessoas e gastar mais tempo encarando o celular do que olhando nos olhos. Mesmo assim voltamos para casa contentes. Dormimos com a sensação de dever social cumprido.

A gente se acostuma com a ansiedade, com a claustrofobia, com os pânicos. O tempo é curto demais para essas "besteiras". Nós deixamos pra lá.

A gente se acostuma a deixar pra lá. Não se mexe em feridas, não se abre o coração: a ignorância é uma benção e o autoconhecimento desnecessário. Logo se acostuma a sentir vergonha da tristeza e engolir o choro. Ser forte é colocar tudo debaixo do tapete.

A gente se acostuma com as incertezas da juventude, com a desilusão da meia idade, com as limitações da velhice. As fraquezas de cada fase: não dá porque tenho que estudar, não dá porque preciso trabalhar, não dá porque estou muito velho, meu tempo já foi.

A gente se acostuma a viver de nostalgia, esquecer das datas, errar os nomes, repetir as frases e andar devagar.

A gente se acostuma com o fato da morte e nos preparamos para o fim inevitável. Todo mundo sabe que vai morrer, a gente só não sabe que é possível padecer em vida, um dia de cada vez, se acostumando.

Sim, a gente se acostuma. Mas não devia.


(texto publicado na revista Fala! Universidades - Aqui você é notícia - #33 - junho de 2018)

domingo, 14 de outubro de 2018

Netflix presencial: Afeto e nostalgia garantem a resistência das viodelocadoras na era do streaming - Ana Capelli e Isabela Barreiros


Os corredores cheios de caixinhas coloridas, passar horas andando por eles, vagando por cada uma das seções e decidindo qual era a melhor opção. Pedir indicações ao dono da locadora, e às vezes até mesmo às pessoas que visitavam o mesmo corredor que você. Então devolver os filmes da semana seguinte - depois de rebobinar a fita VHS, antes dos DVDs chegarem - , frustrado quando o tempo não havia sido o suficiente para assistir todos eles. As idas e videolocadoras eram um programa frequente para quase qualquer um que tenha crescido entre a década de 1970 e meados dos anos 2000. Hoje em dia é raridade, e nos parece até estranho que alguém saia de casa para escolher um filme, quando temos milhares de títulos e apenas um clique.

A indústria mostrou rapidamente em menos de duas décadas, rebobinamos VHS, usamos aparelhos de DVD e agora assistimos Netflix. Em 2010, havia 2 mil locadoras de filmes registradas no Sindicato das Empresas de Vídeo em São Paulo. Cinco anos depois, o número já havia sido reduzido para 532. As causas disso vêm desde a evolução da Internet em si até os serviços de streaming hoje. Primeiro, as TVs a cabo, que possuíam diversos títulos e exigiam apenas a vontade de vê-los, com comodismo e facilidade. Devido ao avanço da pirataria nas redes, juntamente com a possibilidade dos downloads ilegais, o ato de sair de casa e ir à locadora passou a parecer desnecessário. Isso é ainda mais perceptível quando os serviços de streaming se tornaram os maiores companheiros dos que gostam de cinema. É bem provável que a grande maioria dos clientes das antigas videolocadoras hoje façam parte dos 131 milhões de assinantes que a Netflix coleciona ao redor do mundo.

Mas o computador não traz o cheiro que vem junto com as caixinhas de DVD. Também não consegue repetir a sensação de ter todas as opções de títulos no toque da sua mão. Andar pelos corredores das locadoras é muito mais do que apenas escolher algo para assistir - é a experiência de estar em um ambiente que te possibilite o "além-filme". A facilidade do streaming faz sentido em uma sociedade contemporânea que deseja rapidez e racionalidade em tudo, mas isso não quer dizer que a nossa relação com objetos de afeto precise ser analítica dessa maneira. "Existia uma magia no ato de levar um filme para casa. Eu me lembro do cheiro das fitas, de você precisar rebobiná-las após assistir. Era uma experiência física, muito sensorial e também sociocultural" explica o diretor do documentário CineMagia, que narra os últimos movimentos das videolocadoras no Brasil, Alan Oliveira.

E é acreditando nisso que alguns lojistas teimosamente mantêm seus estabelecimentos. Daquelas milhares de locadoras de São Paulo, poucas resistem até hoje, alimentadas por um tanto de saudosismo e outro de fidelidade. O fenômeno é mundial - nos Estados Unidos, berço de companhias como Hulu e Netflix, apenas uma das milhares de franquias da gigante Blockbuster continua de portas abertas. A dona da loja em Bend, Oregon, afirma: 'eu acredito que finalmente encontramos aquele ponto confortável, onde as pessoas começaram a entender que vir até aqui, escolher um filme, andar por aí, conversar sobre filmes... É algo de que as pessoas sentem falta."

"Há lugar para ambos. Há um lugar para Netflix e Hulu. E há um lugar para isso [as videolocadoras]". É o que Sandy, a proprietária da última franquia da Blockbuster nos EUA, também defende. E a resistência das últimas videolocadoras do país ressalta a possibilidade de coexistência de duas tecnologias que, em suas diferenças, expressam a mesma paixão pelo cinema.


(texto publicado na revista Fala! Universidades, conteúdo jovem de verdade - #36 - setembro de 2018)