quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Chocólatra, eu ? - Silvana Silva


O que diferencia os amantes dos viciados em chocolate ?

Quem se lembra de Bridget Jones que em seu diário confessava comer cinco chocolates antes do café da manhã para depois lamentar do ganho de peso ? Chocolate é assim mesmo, suas propriedades às vezes se assemelham às drogas que nos levam, em pouco tempo, do paraíso ao inferno.

Chocolates não são únicos e seus efeitos variam de pessoa para pessoa. Pesa nisso não apenas o gosto individual de quem o consome, mas a própria formulação. Os amargos puros têm menos açúcar e gorduras e são considerados mais saudáveis, mas a preferência costuma ser pelos mais suaves, doces e com índice maior de gorduras, sem falar nos que são misturados com cereais, castanhas, frutas, licores e até pimentas que provocam sensações completamente diferentes na boca.

Em tabletes, trufas, brigadeiros, bombas, cupcakes, em recheios ou coberturas, não importa, ele parece ser a solução para todos os nossos problemas. A responsável por essa sensação é a feniletilamina, uma substância presente no cacau que, entre outras coisas, aumenta a produção de serotonina, ligada à sensação de prazer. Por isso ele alivia a depressão e a ansiedade. Um estudo da Universidade de San Diego descobriu que no chocolate há uma substância chamada andamina, que tem mais ou menos os mesmos efeitos da maconha, mas para obter os mesmos efeitos, seria necessário comer 25 quilos de chocolate para sentir uma excitação perceptível. A cafeína e a meletina são excitantes e a teobromina, também presente no cacau, ajuda a acalmar. Por isso, o chocolate rico em cacau é indicado para quem quer dormir melhor. Parece esquisito ? Não é! Tudo depende da quantidade e da qualidade do cacau presente em cada produto. Por isso há quem desconfie que o açúcar tenha lá sua responsabilidade nessa "fissura" pelo chocolate. Os mais apreciados são as versões mais doces, ao leite, com menor teor de cacau também.

Para alguns, o consumo excessivo do chocolate não pode ser comparado ao vício em drogas. Seria uma dependência psicológica. Não há crise de abstinência. Especialistas explicam que o chocólatra tem compulsão pelo doce, assim como há os que têm compulsão por jogos, internet, etc. Ele come uma grande quantidade de chocolate em pouco tempo, se sente culpado e provoca vômito. Come escondido, esconde o doce para não ter que dividir e chega a sair de madrugada de casa em busca do produto. O chocólatra tem "fissura" por chocolate, mas as consequências são mais sociais que relacionadas à saúde. 

A tendência dos excessos é ganhar peso, seguida do aumento da barriga, gordura nas artérias, hipertensão, diabetes Tipo 2 e infarto. Nem todos, entretanto, seguem esse caminho. Há quem consuma chocolate em grande quantidade e não engorde graças a fatores genéticos e estilo de vida.

Durante a TPM (tensão pré-menstrual), ou num momento de ansiedade, consumir chocolate até ajuda, mas o excesso pode levar ao ganho de peso e outros problemas para a pessoa. Para quem tem enxaqueca o consumo de cacau pode desencadear crises e, quem come chocolate diariamente está sujeitos a dores de cabeça ao parar abruptamente. Isso acontece pela falta da cafeína.

Nutricionistas lembram que há diversas opções no mercado que vão do branco - menos saudável por ter mais gordura -, aos que levam 100% de cacau, passando pelos de alfarroba e os de soja. O amargo tem um gosto mais forte que dificilmente agrada as crianças. Os de soja podem ser consumidos por quem tem intolerância à lactose.

A fama de afrodisíaco não tem comprovação científica. Não há indícios de que ele aumente a libido, mas a sensação de felicidade pode tornar a pessoa mais predisposta ao sexo.

Pesquisas realizadas no Hospital das Clínicas de São Paulo indicaram que as mulheres estão mais sujeitas à compulsão por chocolate e as variações hormonais podem estar na raiz do problema. Outra explicação é o fato das mulheres compulsivas terem a tendência a preferir açúcar e gorduras, enquanto o homens consomem mais sal e gordura.

Quando a situação exige tratamento é importante que o chocólatra assuma que é compulsivo e aceite espontaneamente o tratamento. Em geral, isso acontece quando a situação cria algum tipo de sofrimento para o indivíduo. A terapia associada com medicamentos, como antidepressivos, resolvem o problema. Na maioria das vezes, entretanto, o próprio compulsivo não leva essa questão a sério, fazendo até piada da situação.

Nos casos menos graves, uma alternativa é "educar" o paladar. Quem não consegue abrir mão dos mais doces e gordurosos, pode procurar mesclar esse tipo com os meios amargos, aumentando a concentração do segundo paulatinamente até chegar ao limite máximo sem perder o prazer.

O assunto é tão sério que há até um site intitulado Chocólatras Online que trata das curiosidades que envolvem o produto, o tipo, os modos de avaliar e uma série de dicas para um consumo saudável. O mesmo site criou uma classificação dos chocólatras. Será que você se encaixa em uma delas ?

Que tipo de chocólatra você é ?

CHOCO TUDO: é um consumidor pouco seletivo, que "adora" tudo que tenha chocolate (mousse, bolo, cookies, barrinha de cereal, biscoito, brigadeiro, etc), mas curiosamente não é fã de barras de chocolate. Na verdade, ele parece mesmo viciado em açúcar. O chocolate entra como parte do pacote.

CHOCO DOCE: é outro amante pouco fiel do produto. Não gosta de chocolate puro. Prefere bombons, trufas, ovos de Páscoa recheados, tabletes com frutas secas. Para este, chocolate só é bom se tiver acompanhamento.

CHOCO BRANCO: para alguns, chocolate branco nem deveria ter esse nome, já que tem apenas a manteiga do cacau. Assim, o choco branco não pode ser classificado como um apaixonado por chocolate. Gosta mesmo é de açúcar e leite.

CHOCO NORMAL: provavelmente, aqui fica a maioria dos brasileiros que, em geral, gosta da versão ao leite bem doce. Dica: prefira os que têm o cacau em primeiro lugar na lista de ingredientes e não tenha gordura vegetal hidrogenada na sua formulação.

CHOCO LOVER: é um apaixonado incapaz de perceber as sutilezas de cada chocolate. Gosta de todos, sem distinção, com e sem recheios, incluindo os amargos mais puros. Gosta tanto de doces como de chocolate. Esse tipo precisa refinar o paladar para perceber as nuances das diferentes concentrações e marcas.

CHOCO GOURMET: já pode ser considerado um apaixonado acima da média. Prefere os amargos, mais saudáveis. Preocupa-se com a porcentagem de cacau presente no produto. Sabe que as melhores opções no máximo tem cacau, açúcar, manteiga de cacau, baunilha e lecitina de soja (sendo os dois últimos, dispensáveis). Dica: experimente os de dois ingredientes apenas, os bean-to-bar (do grão à barra, mais artesanais, mais naturais, produzidos em pequena escala) e os de origem única, com a indicação de onde veio o cacau.

CHOCO PURISTA: este prefere barras de chocolates bean-to-bar, de origem única e pouquíssimos ingredientes, podendo ou não ter manteiga de cacau, baunilha e lecitina. O cacau é para o chocolate o que as uvas são para os vinhos: a variedade do fruto e as características de solo e clima de cada região produzem aromas e sabores únicos, o que é impossível no processo industrial. Devido à escala de produção industrial e a necessidade de padronização (isto é, determinado chocolate tem que ter sempre o mesmo gosto), as empresas misturam lotes de cacau de origens e qualidades diferentes e adicionam ingredientes artificiais para uniformizar o sabor. Dica: para quem já tem experiência com chocolates premium e já sentiu a diferença entre chocolates de origens diferentes, observe as diferenças dos chocolates de mesma origem com e sem manteiga de cacau.

SUPER CHOCO PURISTA: esse é um expert no assunto. Consome só chocolates bean-to-bar 2 ingredientes, já experimentou muitas iguarias e tem muita história para contar. Se conhecer um desses, não perca a oportunidade de trocar histórias e impressões.


(texto publicado na revista Shop News Vertical edição 51 - ano 6 - 2018)