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sábado, 3 de março de 2012

Diário de vida - "Cabular aula"

Há alguns dias durante o intervalo da aula, um de meus alunos comentou que as pessoas não aceitam bem quando alguém diz que está desempregado. É o caso dele,  que decidiu "dar um tempo". Ele é formado em história, mas já estava cansado de dar aulas para adolescentes e a sua insatisfação estava se refletindo em sua saúde: o surgimento de cálculos renais. Segundo a linguagem do corpo isso significa insatisfação profissional. Assim que ele se demitiu, o problema nos rins desapareceu completamente. Enquanto se prepara para o doutorado, ministra palestras de história da arte. Na verdade o que impressiona é quando mostramos que estamos ocupados, "mostramos serviço". Se alguém está quieto e o trabalho flui a impressão que os outros podem ter é que ele não está fazendo nada.

Se no ãmbito profissional o fato de estar desempregado é mal visto por quem possui um trabalho, no panorama escolar um mau aluno é aquele que tira notas baixas, não faz lição de casa, mas principalmente cabula aulas.

No meu caso, não sei até que ponto a cultura japonesa tem a ver com isso, o fato é que eu nunca contestei a instituição escolar: sabia que depois do ensino fundamental, teria que passar pelo médio e finalmente ingressar em uma faculdade para encontrar um bom trabalho. Mas nunca fiz questão de ser a primeira da classe,  só tomava cuidado para não ficar de segunda época e perder as férias.

Nunca fui da turma do "fundão" porque sendo míope  preferia me sentar na frente para enxergar o que estava escrito na lousa.  Mas um dia, mais pelo prazer da aventura, convenci a minha colega Fátima a cabular aula. Tínhamos feito os dois primeiros anos do ensino médio de manhã, mas o último era à noite. Depois do intervalo escalamos o portão da escola depois de verificar se ninguém estava olhando e fomos embora. A minha colega ficou brava porque acabou riscando o mostrador do relógio no portão. No cinema esse assunto foi muito bem retratado no filme "Curtindo a vida adoidado" no qual o protagonista, Ferris Bueller (Mathew Broderick) tira um dia de folga da escola com 2 colegas. Clássica a cena em que ele sobe em um carro de desfile e canta "Twist and Shout" dos Beatles.

"Curtindo a vida adoidado" (Ferris Bueller's day off) - filme dirigido por John Hughes em 1986

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