quinta-feira, 22 de março de 2012

Diário de vida - Entrevista com um aluno "devorador" de livros

Comecei a dar aulas para o Carlos Eduardo ou Dudu, como ele é conhecido por todos os seus alunos do curso de Economia, no início do ano passado.

Eu me lembro que ele tinha vindo à escola para fazer o teste de nivel e tinha sido classificado no Básico 2. Um semestre depois ele me contatou para ter aulas particulares.

Apesar de insistir que não sabe falar muito bem em italiano, o fato dele ler muito facilita a captação e aplicação de estruturas que formalmente ele não estudou ainda.

Decidi fazer uma entrevista com ele. Espero que gostem da minha primeira tentativa como jornalista.

1)      Quando começou o seu interesse pela leitura?
Eu me considero um leitor tardio, porque comecei a ler mais constantemente com 18 anos. Depois parei alguns anos e voltei a ler muito durante o Mestrado com aproximadamente 24 anos de idade. Não sou daqueles leitores que com 7 anos de idade começam a ler por influência dos pais, sou um leitor tardio.

2)      Qual foi o primeiro livro que você leu?

Dos livros infantis me lembro daquele da Ruth Rocha, “Marcelo marmelo martelo” e durante a adolescência um livro que me marcou muito foi “Quincas Borba” de Machado de Assis. Tenho a recordação de me ver sentado no sofá na casa de meus pais lendo o livro.

3)      Dentre todos os livros que você leu, nos vários idiomas que conhece, qual deles você leria de novo?

Vou ficar nos clássicos. Machado de Assis, já o reli algumas vezes. Dos autores estrangeiros, apesar da extensão das obras, que muitas  vezes afastam as pessoas, eu leria de novo “Guerra e Paz” e “Dom Quixote” entre outros. Estou finalizando a leitura do “Em busca do tempo perdido”. É outra obra que eu leria outra vez. Isso me faz lembrar José Mindlin, um empresário que leu 5 vezes a obra de Proust. É difícil eleger o livro que mais me agradou. Em italiano vou citar um que me surpreendeu muito, “Il deserto dei tartari” de Dino Buzzati, escrito depois da segunda guerra. Eu o achei “assolutamente fantastico”. Eu já tinha lido Calvino, cujos textos são muito divertidos, porque faz muitos jogos de palavras, mas “O deserto dos tártaros” é simplesmente “affascinante”.

4)      Qual foi a primeira língua que você estudou e por quê?

Em relação ao interesse pelas línguas começa-se sempre pelo inglês. Com Guimarães Rosa talvez tenha sido o contrário. Eu estava lendo um livro sobre a história da vida dele e lá dizia que ele tinha começado a estudar francês com 7 anos  e sozinho. As crianças estão sendo alfabetizadas e ele já estudava francês. Mas para a maioria das pessoas a primeira língua estrangeira é sem dúvida o inglês. Comecei a estudar inglês mais sistematicamente com 11 anos, mas eu sempre gostei muito de idiomas. Meu pai fala inglês, francês, e espanhol. Ele não estudou muito, mas se vira. Talvez ele tenha me passado isso. Depois foi o espanhol com 20 e poucos anos. Eu tinha um grande amigo na época, cuja namorada era argentina. Com 30 anos estudei francês. Um dia vi uma foto do Chico Buarque no jornal em que ele estava em Paris e pensei comigo que se ele podia aprender francês eu também seria capaz. O interesse pelo italiano veio naturalmente. A próxima língua será o alemão.

5)      Quando você era criança o que gostaria de se tornar?

Segundo a minha mãe, eu gostaria de ter sido caminhoneiro. Eu me formei em engenharia e pensava em trabalhar em banco. Sempre gostei de matemática e depois fui fazer mestrado em Economia e fui me enveredando pela carreira acadêmica e não me arrependo nem um pouco.

Na primeira aula deste ano, fizemos a leitura de um capítulo do livro "Marcovaldo" de Italo Calvino, "Marcovaldo al supermarket" e o Dudu escreveu o seguinte texto:

Il testo è una critica divertente alla società di consumo. Marcovaldo non ha soldi, ma ha bisogno di sentirsi un vero consumatore come tutti gli altri. Il luogo scelto da Calvino per raccontarci questa storia sembra perfetto: un supermarket, dove tutti - la folla - ci vanno a fare spese. E comprare non è solo una necessità reale ma soprattutto psicologica.

Marcovaldo all'inizio prende un carrello ma fa sapere ai suoi figli (anche loro prendono dei carrelli) che è vietato comprare qualsiasi cosa. Calvino così comincia con un paradosso:  perché prendere un carrello se non si può comprare niente ? Risposta: perché quello che a loro importa è fare finta di comprare. Quest'idea diventa chiara nel brano in cui Marcovaldo non sa nemmeno a che possa servire quelle merci che mette per sfizio nel suo carrello.Il più importante è poter paragonarsi con gli altri, sfoggiare le sue spese attraverso i corridoi.

Alla fine, la famiglia di Marcovaldo - come in una storia del realismo fantastico di Garcia Marquez - si trova su un'impalcatura a molti metri dal suolo guardando la città da lassù. Subito dopo, un mostro di ferro, una gru vivente, appare e inghiottisce tutte le merci.


Dudu tira uma foto perto do Mark, filho de seu colega Jorge






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