quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Watsu: a caminho da cura interior - Priscilla Sipans


A fim de proporcionar profundo relaxamento, o Watsu combina movimento de alongamento muscular e respiração. É, portanto, uma prática espiritual, assim como qualquer forma de meditação.

Imagine-se em uma piscina, onde a água aquecida envolve todo o seu corpo. Some a isso a sensação de flutuar, deixando-se levar pelas mãos de alguém que irá conduzi-lo com a mesma leveza de um vento suave e fresco. É como se você retornasse ao útero materno: o calor penetrante o embala, enquanto o seu corpo se alonga de uma maneira cada vez mais livre, como uma dança espontânea. Perceba que, no momento em que a água o toca, tudo se dilui nela: tensões, problemas e preocupações. Não importa qual movimento virá a seguir: apenas feche os olhos, relaxe e entregue-se.

Essa é apenas uma breve ideia do que é vivenciar o Watsu, primeira técnica corporal aquática registrada que utiliza os princípios do zen shiatsu. O nome originou-se de uma mistura de water (água) com shiatsu (terapia oriental que utiliza o toque em pontos do corpo para desbloquear os meridianos, conhecidos como canais de energia). A fim de proporcionar profundo relaxamento, o Watsu combina movimentos de alongamento muscular e respiração. É, portanto, uma prática espiritual, assim como qualquer forma de meditação. "Depois de algumas sessões, você aprende a relaxar de verdade", comenta Ursula Garthoff, diretora do Watsu Center Brasil, que trouxe o método para o país. Ela explica que o mais curioso é que a prática pode ser usada tanto pelo público em geral - para o desenvolvimento do ser - quanto pelos terapeutas, para a reabilitação dos pacientes. Vários profissionais usam o Watsu como auxiliar no tratamento de distúrbios fisiológicos e psicológicos, depressão e dependência química. Até mesmo problemas de relacionamentos são amenizados, e até solucionados.

Embora pareça, não se trata de nenhum milagre. O diferencial está na maneira como o método colabora com a qualidade de vida, pois, além dos benefícios da água aquecida em contato com o corpo, de seus movimentos e alongamentos, sua base é a sustentação. "Permitir-se ser segurado por outra pessoa e, mais do que isso, ser guiado por ela de maneira contínua na água, provoca um nível de confiança capaz de curar tanto no aspecto físico quanto no mental. Essa condição de intimidade faz com que o indivíduo experimente uma maneira diferenciada de lidar com o mundo e com as pessoas ao seu redor. Watsu é uma experiência para a vida", conclui Ursula.


EXPERIÊNCIA ÚNICA

Não há limites para a prática do Watsu, assim como o número de pessoas que obtêm vantagens por meio dele. idosos, gestantes, crianças e adultos podem fazer uso dos movimentos e, para isso, não é necessário saber nadar. "Já atendi quem sente pânico só de pensar em entrar na água. Antes de iniciar a sessão, há um trabalho de tranquilização e confiança, que deve ser feito com muita delicadeza e profissionalismo", ressalta Ursula.

Assim como todo trabalho corporal, antes de iniciar o Watsu, é preciso atentar para algumas recomendações. "Mulheres grávidas devem ter a autorização do médico. Já pessoas com feridas abertas ou febre alta também têm de evitar a prática", adverte.

Mesmo aqueles que não conseguem um bom alongamento obtêm resultados satisfatórios, apenas executando movimentos suaves. E o mais interessante é que as sessões nunca são iguais, mesmo ao repetir as sequências de movimentos. "Assim como cada pessoa é única, os benefícios alcançados com a prática também serão distintos, e irão direcionar-se conforme as necessidades de cada um. Muitos convivem com sentimentos oprimidos, que se libertam no momento da sessão. Há aqueles que relembram fatos da infância, e há outros que choram ou vêem cores diferentes. Mas todos saem muito felizes", acredita Ursula.

A diretora do Watsu Center Brasil também recomenda Watsu para fins pré e pós-operatórios. "O método garante preparação e recuperação mais tranquilas".


A UNIDADE É NECESSÁRIA

É essencial para o homem religar-se com a unidade interna do seu corpo. No livro "Watsu - Exercícios para o Corpo na Água", o autor e criador da técnica, Harold Dull, explica que a perda dessa unidade pode revelar-se de duas formas: colapso ou controle. No colapso, a sensação é a de desmoronamento. No controle, existe uma tensão, ou seja, tenta-se, a todo custo, manter-se inteiro. Cada um deles pode nos afetar total ou parcialmente. O problema é que quanto menos sentirmos essa unidade dentro de nós, mais a buscaremos fora. 'Saímos do centro quando buscamos no outro o que está em falta em nós mesmos. Essa religação nos ajuda a entrar em contato com as nossas próprias energias curativas", diz Harold.

Muitas pessoas confundem o termo "curar", e não entendem o verdadeiro propósito do Watsu. Questionada sobre isso, Ursula alerta: "A principal finalidade do método não é sanar uma doença. O que queremos é que a pessoa desligue-se dos problemas, libere as tensões adquiridas e deixe que a água faça tudo. Não se trata de uma prática medicinal, mas sim de um trabalho aquático. Despertamos, com o Watsu, o poder de cura interior, o que, por sua vez, gera muitos efeitos positivos".


NOVOS HORIZONTES

A flexibilidade do Watsu e suas vantagens já impulsionaram muitos profissionais a criar suas próprias técnicas partindo dos mesmos princípios: alongamento e flutuação. Estima-se que existam cerca de 40 métodos diferentes espalhados pelo mundo. O próprio Harold Dull, criador do Watsu, aprova e estimula a criação a partir do método. "Tentar estabelecer regras para a realização do Watsu, criando uma camisa de força ao que se dedica a soltar o corpo, seria como tentar amarrar uma corda e terminar com um nó molhado", afirma Dull.

"No Brasil, infelizmente, temos acesso a pouco deles", diz o watsuterapeuta Marcelo Roque, desenvolvedor da  terapia aquadinamic, que visa à meditação e à reabilitação com soltura total do corpo em meio fluido. Adepto das terapias aquáticas há 11 anos, Marcelo surpreendeu-se com os resultados. Hoje, dedica-se exclusivamente a elas, tamanha a satisfação obtida. "Comecei a técnica com a visão de um fisioterapeuta, sem imaginar que aquilo poderi mudar a minha vida."

Juliana Morimoto, watsuterapeuta e praticante do Watsu e healing dance, diz ter sofrido grandes transformações após o curso de Watsu: "Voltei muito mais humana, verdadeira, relaxada e segura de mim. Cheguei até mesmo a chorar na minha primeira sessão".



(texto publicado na revista Vida & Yoga nº 15 - ano 3)






Nenhum comentário:

Postar um comentário