Ser vip já foi bom; agora não é grande coisa, e sabe por quê? Porque todo mundo é vip. Quem foi coadjuvante de novela, apareceu no Big Brother, está quase contratado por um clube de futebol - de preferência acompanhado de um escândalo sexual - ou aparece nas revistas de fofocas é vip, e estamos conversados.
Ser vip não era para qualquer um. Essa casta - pouco numerosa - tinha direito a privilégios que só existiam para ela. Para um vip, quando chegava a um restaurante, sempre havia uma mesa, mesmo no Dia das Mães. No Carnaval, só circulava por camarotes refrigerados, tomando champanhe, enquanto os normais morriam de calor, bebendo cerveja quente. Para os que pertenciam ao seleto grupo, quando decidiam viajar para o exterior, sempre existia lugar nos aviões para o mesmo dia, e eram até convidados a ir na primeira classe. Jamais ficavam na fila de uma discoteca - entravam direto - e, nos grandes shows, eram sempre chamados a sentar na melhor mesa, com bebida e comida de graça.
Mas, afinal, o que faz uma pessoa ser vip? Hoje, para pertencer a essa turma, basta ser celebridade, e não pense que a vida dela é fácil. Se uma grande festa vai acontecer na cidade, começa o stress. Será que vai receber convite? Se recebeu, que roupa vai usar? Na festa, será que vai arrasar? Será que vai ser fotografada? E, se for, será que a foto vai ser publicada? E se não estiver boa? E para o camarote da escola de samba, será que vão chamá-la? E o curralzinho vip para ver o show? Convenhamos: é dura a vida de uma celebridade.
Há, porém, uma grande diferença entre ser famoso e ter prestígio. Existem aquelas pessoas que são as duas coisas, mas são poucas. E essas fogem dos lugares onde podem encontrar as celebridades. Aliás, quem tem prestígio dificilmente é visto em público e não aceita convite para nenhum acontecimento patrocinado por marca comercial. Já as celebridades (ou candidatas a) vão a todos os eventos - e, se forem mesmo muito famosas, até ganham cachê, com hora marcada para chegar e ir embora. Celebridades convocam a imprensa para anunciar que vão ter um filho 15 minutos depois de ficarem grávidas; gente de prestígio não deixa os filhos serem fotografados.
O que é ter prestígio? Pensei, pensei e não consegui definir. É algo misterioso, mas que uma pessoa perspicaz percebe logo, sem medo de errar. Basta olhar e já se vê a diferença entre os que têm prestígio e os que são apenas famosos. Aos políticos, banqueiros, atores, cantores, aos mais ricos, aos que têm casas pelo mundo, nunca vão se misturar os que têm prestígio e os que são celebridades. Pois há um detalhe: essas duas categorias jamais se frequentam - e dificilmente se encontram, seja em um restaurante, seja em casa de amigos. Os que têm prestígio de verdade só vão a lugares onde não haja nenhum risco de cruzar com uma celebridade, e as celebridades, é óbvio, jamais são ou serão convidadas para nenhum lugar que seja frequentado pelos que têm prestígio. Estes, aliás, ficam a maior parte do tempo em casa para não correr o risco de ser confundidos com os famosos.
Ter prestígio independe de poder ou de classe social. Nem adianta ter jatinho, usar as bolsas e as grifes mais caras, hospedar-se nos hotéis mais luxuosos do mundo, ter muito dinheiro. E só para dar um exemplo: prestígio tem Paulinho da Viola.
(texto publicado na revista Claudia nº 4 - ano 53 - abril de 2014)
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