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domingo, 14 de setembro de 2014

Quem se importa? - Carlos Camargo


Poucas são as pessoas despreocupadas com o parecer de terceiros a seu respeito que significaria a posse plena da sua personalidade, a consciência da baixa influência que terceiros poderão exercer sobre o seu futuro e, principalmente, sobre o seu bem estar. Tem uma parte - talvez fosse exagero dizer maioria - que se importa com a opinião alheia, deseja estar bem avaliada aos olhares e pensamentos dos outros. Quer agradar, quer se sentir agradável, ser vista e ser aplaudida mesmo em silêncio. Isso a fortalece. A moda vive disso, as celebridades são crias desse ambiente, suprem carências das personalidades próprias e dos admiradores.

Tem outra parte - a maioria? - que assume uma ou outra característica, despreocupada ou preocupada, dependendo da importância do momento: entrevista de emprego, encontro romântico, jantar na casa do chefe, reunião de colegas. O excesso de preocupação gera nervosismo, ansiedade, que acabam por prejudicar o natural, podendo ou não ser percebido, compreendido e desculpado. Jamais estaremos bem dando mais importância aos outros do que a nós mesmos.

Devemos considerar o todo do momento, o local, cenário, ambiente, pessoas, horário, motivação, e nos ver em seu meio, percebendo a nossa adequação ao conjunto. Sem a ambição de ser a estrela cintilante que cega os demais, mas não sendo a vela em final de pavio, de luz vacilante que nada ilumina. Enquanto se sentir bem, o seu natural será realçado. Enquanto estiver natural estará leve e será uma pessoa admirada. Muitos desejarão estar como você. Os momentos ditarão suas emoções, os ambientes orientarão os comportamentos, com suas companhias e nos seus tempos.

Existem momentos em que as atitudes são essencialmente particulares, aqueles em que as pessoas se abstraem do mundo que as cercam e sentindo-se invisíveis ao meio vivem sonhos, fantasias, instantes de felicidade incompreensíveis para os demais que assistem. Aquele casal fazendo piruetas enquanto dançam, onde os demais pares procuram apenas seguir a formalidade de dançar com "distinção", pares bem comportados. Mas será que não gostariam de aproveitar o momento e se deixar levar pelo ritmo da alegria, como o "casal exibicionista"? Quem já foi a um baile de formatura ou a um baile da terceira idade, já viram esta cena.

E que tal aquela mesa no restaurante com as pessoas, rindo, falando alto e cantando "parabéns a você" para alguém do grupo? Alguns dos presentes continuam comendo, envergonhados ou aborrecidos com o "barulho na hora da sua refeição", outros fazem uma pausa e assistem a cena, enquanto outros, mais desinibidos e bem humorados, cantam junto e aplaudem. Ridículo? Para quem? Para você, talvez. Certamente não para o aniversariante, que deve ser uma pessoa querida.

Pessoas  tímidas ficam acanhadas quando homenageadas, principalmente em público. Porém, ficam tristes quando são esquecidos em "suas" datas. É, o animal humano é muito estranho! Não quer, querendo: se diz racional, mesmo chorando: é adulto, que rola no chão brincando; que rói as unhas assistindo futebol.

Querem saber, quem se importa? Parabéns para todos vocês, que todos os seus dias sejam felizes, alegres, cantados e aplaudidos. Vocês merecem!



(texto publicado na revista Leve & Leia nº 116 - ano 7 - julho de 2014)




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