O cineasta Cacau Rhoden diz que resgatar o lado lúdico da vida é a chave para a satisfação pessoal e a felicidade
Brincar é coisa séria; aliás, um gênero de primeira necessidade. E não só para as crianças mas também para os adultos. É o que defende o curitibano Cacau Rhoden, 40 anos, em seu recém-lançado documentário Tarja Branca - A Revolução Que Faltava. Com o reforço de entrevistados de várias áreas, como o colunista José Simão, o ator Domingos Montagner e a educadora Lydia Hortélio, o filme mostra a importância de recuperarmos o lado lúdico da vida na fase adulta, quando reprimimos muita diversão por achar que é sinal de imaturidade. "A brincadeira foi abafada pela produtividade e parece desperdício de tempo", diz Rhoden. Segundo ele, ao assumirmos as responsabilidades profissionais e sociais, deixamos de reservar tempo para exercitar a criatividade e a improvisação. Resultado: ficamos cada vez mais carrancudos. "Agora, mais para evitar algo que é intrínseco ao ser humano", afirma. Os grupos de pessoas que não se conhecem e se reúnem em espaços públicos para compartilhar uma aula de ioga ou de ginástica - ou outra experiência prazerosa - são um sintoma disso. As vozes que se multiplicam pregando uma rotina mais flexível e uma vida mais simples e plena são outro.
Não pense que o brincar citado aqui é ninar uma boneca, jogar videogame ou bola. "A diversão pode estar em diferentes situações do dia a dia, na hora de sair para dançar, até nos papos do trabalho", ele avisa. A exigência é que isso desperte para avançar. Afinal, quando a criança brinca, ela não só se distrai e dá risada como aprende. "Brincar é um momento de compreensão pessoal, de entrar em contato com o outro e de contribuir para o coletivo. "Mas costumamos rejeitar as atividades relaxantes e satisfatórias, o que gera frustrações e é nocivo ao corpo e à mente. A ideia do filme é que, se os adultos brincarem mais, menos remédios terão de tomar para combater males modernos, como stress, ansiedade e depressão. "Antidepressivos e ansiolíticos são os remédios tarja preta, mas o lado lúdico da vida não precisa de controle, é tarja branca. Daí o nome do filme", explica Rhoden.
O próprio diretor vivenciou a revolução sugerida no título. "Eu era o tipo de pessoa que não acreditava que deitar na grama do parque no meio da tarde e ler um livro tivesse algo a oferecer para meu crescimento pessoal", conta. "Achava que era um profissional incrível por virar noites trabalhando, ainda que depois me sentisse culpado por não ficar com os filhos." No período de um ano e meio em que rodou Tarja Branca, repensou o próprio modo de levar a vida. Hoje, procura dividir melhor a agenda e escolher projetos estimulantes para evitar que a atuação profissional se torne mecânica. Agora quer ver nos outros a mesma metamorfose. "Vamos nos perguntar: 'O que estamos produzindo de relevante? Temos desfrutado nosso tempo ao máximo e nos dedicado a nós mesmos? Só isso diminuirá o número de caras fechadas que encontramos pelas ruas e aumentará os sorrisos".
(texto publicado na revista Claudia nº 7 - ano 53 - julho de 2014)
Quem brinca é mais feliz (Tarja Branca)
Cacau Rhoden fala o seu documentário Tarja Branca
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