Essa é a máxima aplicada pela chef paraibana Regina Tchelly, de 33 anos. Nas receitas que ela prepara entram cascas, talos, folhas e sementes que iriam para o lixo. Uma verdadeira lição de criatividade e sustentabilidade!
"Há 13 anos deixei a cidade de Serraria, no interior da Paraíba, para trabalhar como empregada doméstica no Rio de Janeiro. Fiquei encantada com a beleza do lugar, porém a quantidade de comida desperdiçada nas casas e feiras livres me deixou muito assustada. Na minha terra natal não se via isso! O incômodo foi tão grande que comecei a pensar em como poderia contribuir para mudar essa realidade. Fui juntando ideias e acabei elaborando um projeto batizado de Favela Orgânica, cujo principal objetivo é ensinar as pessoas a aproveitar os vegetais integralmente. Em agosto de 2011, apresentei a proposta à banca avaliadora da Agência Redes para a Juventude, que oferecia R$ 10 mil a pessoas empreendedoras com ideias que beneficiassem a comunidade. Não fui aprovada, mas não desisti! Em setembro, com a ajuda de alguns vizinhos do morro da Babilônia, onde moro, coloquei o projeto em funcionamento na minha própria casa. Na primeira oficina, na qual ensinava receitas com as partes comumente descartadas dos alimentos, compareceram seis pessoas. Na quarta eram 40, que vieram, inclusive, de outras comunidades. Com 11 meses de atividade, ganhei uma ajuda em dinheiro para o projeto e pude ampliá-lo. Tive que abandonar a profissão de doméstica e me dedicar totalmente à realização desse sonho. Hoje, além das aulas de gastronomia gratuitas para a comunidade, o Favela Orgânica oferece oficinas de consumo consciente e nutricional - para mostrar que esse aproveitamento é bom para o meio ambiente e também para a saúde, já que existem nutrientes importantes nas partes menos utilizadas dos alimentos. Eu mesma crio as receitas que ensino, uma mais gostosa do que a outra: risoto de casca de abóbora, tabule de talo de agrião, brigadeiro de casca de banana, salpicão de casca de melancia... Já viajei para outras cidades e estados para dar cursos e palestras. Até na Itália já estive para falar da iniciativa! Também ofereço serviços de bufê para eventos corporativos. Cerca de 15 mil pessoas já se beneficiaram com o meu trabalho. A mensagem que levo é que, ao fazer compras, ao preparar a comida e ao se sentar à mesa, as pessoas pensem também no produtor, no planeta e em quem não tem o que colocar no prato. Assim fica fácil adotar práticas conscientes e sustentáveis!"
(texto publicado na revista Máxima edição nº 53 - nº 5 - ano 5 - outubro de 2014)
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