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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Cirurgia de estômago não é mágica - Dr. Luiz Vicente Berti


É comum as pessoas acima do peso verem um conhecido ou celebridade dizer que emagreceu 30 quilos após se submeter a uma cirurgia bariátrica e correrem aos consultórios médicos para fazer o mesmo. Apesar de a cirurgia de redução do estômago, como também é conhecida, ter revolucionado o tratamento da obesidade, a maioria ainda desconhece para quem o método é recomendado, quais seus verdadeiros benefícios e como é feito.

Um dos critérios usados para definir o paciente apto ao procedimento é o cálculo do IMC (Índice de Massa Corpórea), quando se divide o peso pela altura ao quadrado. Se o valor do IMC for igual ou maior que 40, existe indicação para o procedimento. Hoje a cirurgia também é realizada em pessoas com IMC de 35, desde que já tenham doenças associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão, altos níveis de colesterol e triglicérides.

No Brasil, o procedimento é autorizado a partir dos 16 anos, mas é possível fazer antes desde que haja um consenso entre a equipe médica que avaliar o caso. Não existe faixa etária-limite para a realização da bariátrica, o que significa que pessoas com mais de 60 anos podem submeter-se ao tratamento, desde que passem por criteriosa avaliação médica e atestem boa saúde.

Um dos métodos mais praticados é o bypass gástrico, uma operação realizada por videolaparoscopia, em que é feito o grampeamento de parte do estômago. Com a técnica, se reduz o espaço para o alimento, além de fazer um desvio do intestino inicial, o que gera aumento na produção de hormônios intestinais que dão sensação de saciedade. Na gastrectomia vertical, entre 70% e 85% do estômago são removidos, transformando o órgão num tubo estreito. Há também a banda gástrica ajustável, que se caracteriza pela implantação de um anel de silicone inflável e ajustável ao redor do estômago, tornando possível o controle desse esvaziamento. Por fim, existe a técnica duodenal switch, que associa a gastrectomia vertical com um desvio intestinal que reduz a absorção dos alimentos.

Apesar de eficazes, todos os procedimentos bariátricos exigem mudança de hábito dos pacientes, o que inclui reeducação alimentar e a inclusão da prática de exercícios físicos no cotidiano. Nas primeiras semanas após a cirurgia é importante seguir as recomendações médicas à risca, evitando o consumo de sólidos, esforços desnecessários e realizar refeições líquidas e fracionadas. Após três meses, o paciente estará adaptado à cirurgia e daí para a frente deverá manter uma dieta e hábitos saudáveis. A suplementação vitamínica se faz necessária até que o organismo se restabeleça.

Quanto aos riscos, eles existem como em todas as intervenções cirúrgicas, mas se realizado por uma equipe especializada são menores que 0,5%. Por isso, é importante que o paciente passe por uma avaliação clínica em que serão analisados os exames de sangue, cardíacos, pulmonares, função renal e hepática. Além disso, a pessoa é avaliada e acompanhada por psicólogos e nutricionistas, afinal, os hábitos e as questões emocionais relacionadas ao ato de comer começam na infância, e a nova vida exigirá outro tipo de comportamento à mesa, onde se trocará quantidade por qualidade. 

Em resumo, a cirurgia do estômago, embora emagreça e trate doenças metabólicas como diabetes, hipertensão, colesterol e triglicérides altos, apneia do sono, esteatose hepática, entre outros males, não é mágica. As melhorias só virão com paciência, esforço e disciplina do paciente. A bariátrica é o pontapé inicial e só será bem-sucedida com a disponibilidade do paciente em mudar seu comportamento e seu estilo de vida.

Gravidez mais saudável

A cirurgia bariátrica traz benefícios à saúde da mulher e, consequentemente, à fertilidade. O emagrecimento e a mudança no estilo de vida decorrentes do procedimento irão permitir que mulheres que sofriam de obesidade tornem-se mais férteis e tenham uma gestação mais fácil e, principalmente, mais segura. Isso acontece, segundo estudos internacionais, porque o tratamento cirúrgico da obesidade regula os níveis hormonais, reduz as chances da diabetes gestacional, da eclampsia (aumento da pressão arterial), do parto prematuro e do aborto espontâneo.

Mas quando engravidar? O recomendável é que se espere pelo menos dois anos após a cirurgia do estômago - tempo suficiente para que o organismo esteja adaptado à nova realidade. Para maior segurança, é necessário consultar-se antes com o médico responsável. É importante que se recorra a métodos contraceptivos após o procedimento, já que uma gestação nesse momento não é aconselhável.

Tratando o diabetes também

Estudos relacionam a cirurgia para a redução do estômago com o tratamento do diabetes tipo 2 nos pacientes obesos. Diferentemente da intervenção com medicamentos, o procedimento aumenta a chance de regressão da doença e reduz as complicações a longo prazo do diabetes. Por esses benefícios, discute-se no país estender o direito à cirurgia para pacientes com obesidade moderada (IMC entre 30 e 35). Por enquanto os órgãos reguladores só consideram o procedimento para obesidade grave ou mórbida (IMC acima de 35). Além de estar associado ao aumento de peso e ao sedentarismo, o diabetes 2 envolve histórico familiar. Na doença, o organismo adquire resistência aos efeitos da insulina, hormônio que regula a entrada de açúcar nas células. Quanto mais açúcar captado pelo organismo e não gasto, mais a glicemia (taxa de açúcar no sangue) irá subir até o indivíduo tornar-se diabético. Entre os sintomas, estão infecções recorrentes, alteração visual, feridas que não cicatrizam, vontade de urinar, fome e sede frequentes.

As operações metabólicas atuam na interrupção desse aumento da resistência á ação da insulina, devido ao emagrecimento e principalmente ao aumento de hormônios intestinais fundamentais para essa função.

Nem todo paciente precisa de plástica

Entre os tantos mitos envolvendo a cirurgia de redução de estômago, um deles diz respeito à obrigatoriedade de reparações estéticas posteriormente. Nem todas as pessoas terão necessidade de cirurgias plásticas após o procedimento. Em determinadas áreas do corpo, podem ocorrer flacidez e um pouco de sobra de pele. Existem alguns procedimentos não cirúrgicos, como intervenções dermatológicas, que, quando associadas à prática de atividade física, são alternativas eficazes para contornar principalmente a flacidez. Caso a cirurgia plástica reparadora seja indicada, e mesmo que alguns pacientes fiquem incomodados e possam vir a querer resolver a situação rápido, imediatamente ela não é o recomendável. Como o peso costuma estabilizar por volta de dois anos depois da bariátrica, o ideal é ter paciência e esperar esse tempo para que o resultado possa ser o melhor.



(texto publicado na revista Contigo nº 2033 - 4 de setembro de 2014)





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