Natural de Lucca, Eva Perini morou no Brasil ainda menina e voltou nos anos 1990. Em 2006, fincou raízes em Florença, a cerca de 60 quilômetros de sua localidade de origem. A escolha não poderia ter sido mais conveniente. Além de se reaproximar de parentes e amigos, a empresária italiana, que se dedica à gestão de imóveis industriais e está à frente de um fundo de investimentos em edifícios históricos, encontrou terreno fértil para intensificar os estudos sobre arte e reforçar, com aquisições, sua coleção particular. De quebra, a bella ragazza fundou o Progetto Vitalità Onlus (www.progettovitalitaonlus.com), voltado para o ensino de arte a alunos da escola fundamental. Eva fez para a PIB um roteiro pessoal da magnífica cidade que inspirou o imperador Pedro, o Grande, no início do século 18, a construir uma nova capital para a Rússia, São Petersburgo.
Se tiver algumas horas...
Capital da Toscana, Florença soma pouco mais de 370 mil habitantes em cerca de 100 quilômetros quadrados. Nas belas ruas centrais, os pedestres reinam quase absolutos. E é por lá, na piazza de Santa Maria Novella, que iniciamos a missão exploratória desta meca do Renascimento. O local é dominado pela basílica de mesmo nome (www.chiesasantamarianovella.it), que, construída entre 1245 e 1470, combina elementos góticos com renascentistas. No interior, obras de Sandro Botticelli, Giorgio Vasari e Ghirlandaio, entre outros.
Santa Maria Novella
O segundo ponto do roteiro é o Palazzo Strozzi, um marco da arquitetura fiorentina. Erguido entre 1489 e 1538, o edifício pertenceu à família Strozzi, rival dos famosos Médici. Hoje, é ocupado pela Fundação Palazzo Strozzi (www.palazzostrozzi.org) e o Centro de Cultura Contemporânea Strozzina (www.strozzina.org), referências em mostras de artes renascentistas e atuais.
Palazzo Strozzi
Para ir às compras, que tal um passeio pela via Tornabuoni? Nesse corredor centralíssimo se concentram lojas de grifes italianas e europeias. No fim da rua, de frente para o rio Arno, fica o Palazzo Spini Ferroni, Q. G. da Salvatore Ferragamo. Construído no século 13 pelo mercador Geri Spini, o Palazzo abriga a loja central da rede e o Museo Ferragamo (www.museoferragamo.it), com um acerco de 13 mil calçados produzidos entre as décadas de 1920 a 1960, o ano da morte de don Salvatore, o fundador da marca.
Via dei Tornabuoni
Não faltam opções nas redondezas para saciar a fome e a sede. Uma excelente pedida é o Procacci (www.procacci1885.it), no nº 64 da rua Tornabuoni, um pequeno armazém fundado em 1885. A casa oferece refeições, vinhos, azeites, doces, conservas e petiscos típicos - caso do pãozinho tartufado, que vai muito bem, aliás, com uma taça de Prosecco, o espumante italiano.
Se tiver um dia inteiro...
Não importam crenças ou religiões: todos os que vêm a Florença têm de conhecer a catedral de Santa Maria del Fiore. Il Duomo impressiona pela beleza das linhas gótico-renascentistas, desenhadas por Arnolfo di Cambio, e pelas dimensões. Construído entre 1296 e 1436, trata-se do terceiro maior templo cristão do mundo, atrás apenas da basílica de São Pedro, em Roma, e da catedral anglicana de St. Paul, em Londres.
Santa Maria del Fiore
Três de suas estruturas merecem especial atenção. A cúpula, desenhada por Filippo Brunelleschi, tem 45,5 metros de diâmetro e é adornada, por dentro, com afrescos de Giorgio Vasari e Federico Zuccari, representando o Juízo Final. Outra atração é o campanário, isolado à direita da fachada, obra de Giotto di Bondone que conta com sete sinos. Também separado da catedral, o Batistério é célebre pelas três portas de bronze, uma das quais, executada por Lorenzo Ghiberti, ganhou de Michelangelo Buonarroti o apelido de Portão do Paraíso, por sua absoluta perfeição. Os originais, substituídos por réplicas em 1990, estão no Museo del Duomo (www.ilgrandemuseodelduomo.it).
O campanário de Giotto
O batistério
O portão do paraíso
De lá, seguimos rumo à Piazza della Signoria, a praça central da cidade. Dois cartões postais de Florença - a Fontana di Nettuno, de 1563, e o Palazzo Vecchio, antigo Palazzo della Signoria - ficam lá. As obras do edifício original do palácio tiveram início em 1299, mas o formato atual do complexo, que sediava o governo fiorentino, é o resultado de ampliações que se estenderam até o século 16.
Piazza della Signoria
Palazzo Vecchio
Para fechar o dia em grande estilo, sugiro algumas escalas. No Caffè Giacosa (www.caffegiacosa.it), saboreie um Negroni (Gim, Martini Rosso e Campari), drinque clássico criado na casa, há 95 anos, pelo barman Fosco Scarselli. Na hora do jantar, duas boas pedidas são o Gustavino (www.gustavino.it) e o Alle Murate (www.allemurate.it). O primeiro é um jovem restaurante e wine bar que apresenta standards da cozinha toscana e europeia a preços honestos, caso do Beef Tartar com mostarda em grãos, na faixa de 13 euros. No Alle Murate, especializado na culinária regional, você não se arrependerá se pedir o Guisado de Cordeiro com fondue de pecorino e alcachofras fritas, por 35 euros.
Se tiver um fim de semana inteiro...
Paris, Roma, Madri e Nova York que me desculpem. A pequena Florença ostenta o maior índice per capita de obras-primas do planeta, em sua maioria concentradas em três museus, que são escalas obrigatórias: a Galleria degli Uffizi, a Accademia e o Bargello. Reserve a eles metade do sábado e do domingo.
Galleria degli Uffizi
A primeiríssima da lista é a Uffizi (www.uffizi.com), um dos dez endereços mais importantes do mundo das artes. O Coração do Renascimento, como é conhecida a galeria, pulsa em 93 salas espalhadas por dois pavimentos. No primeiro piso, destacam-se os espaços dedicados a Tiziano, principal pintor do Veneto no século 16, e a Caravaggio (1571-1610), mestre absoluto do chiaroscuro, o contraste entre luzes e sombras. Alguns degraus acima, é imperativo visitar os salões de três gênios: Michelangelo Buonarroti (1475-1564), Leonardo da Vinci (1472-1519) e Sandro Botticelli (1445-1510).
Do primeiro, nos aguardam as cores alegres e vivas de A Sagrada Família (1504); de Da Vinci, entre outros trabalhos, O Batismo de Cristo (1472-1475), A Anunciação, do mesmo período, e a A Adoração dos Magos (1481-1482). Em meio a tanta inspiração divina, brilha O Nascimento de Vênus, de Botticelli (1482-1485), talvez a peça mais famosa do principal museu fiorentino. A têmpera sobre tela marcou uma guinada no Renascimento por se tratar da primeira obra de grande porte do movimento (1,72 m x 2,88 m) a abordar um tema laico, embora de apelo clássico.
Fundada em 17874, a Accademia delle Belle Arti (www.accademia.org) tem um acervo mais enxuto. Sua maior atração, contudo, é de rara grandeza em todos os sentidos: o famosíssimo David, de Michelangelo. Iniciada em 1501, a escultura, com 5,17 metros de altura, consolidou o prestígio do artista, que já tinha um currículo a Pietà (1499). Outros trabalhos do mestre podem ser vistos no Museu del Bargello (http://uffizi.firenze.it/musei/?m=bargello), referência em esculturas renascentistas.

David de Michelangelo
As lojas dos museus oferecem ricordi a granel. Se sobrar alguns tostões, dê um pulo no Oltrarno, bairro na outra margem do Arno. Oficinas e lojas oferecem de cerâmica a joias, passando por mosaicos e o tradicional papel marmorizado fiorentino. De volta ao centro, sugiro uma esticada ao Mercato di San Lorenzo (mercatocentralefirenze.wordpress.com) para beliscar e bebericar. Os sanduíches do Na Nerbone são tentadores, em particular o de Lampredotto, a dobradinha local.
Vale a pena, também, cair na estrada rumo a Lucca, a 60 quilômetros de Florença. Fundada há mais de dois mil anos, a cidade recebe a cotação máxima do Guia Michelin, três estrelas. Entre as atrações, figuram as praças de San Michele e do Anfiteatro, a basílica de San Frediano, o Museo Puccini (www.giacomopuccini.it) e um dos meus pontos prediletos na região, a Villa Mansi, com jardins cinematográficos. Para fechar a jornada, saboreie uma Bistecca alla Fiorentina na Antica Locanda di Sesto (www.anticalocandadisesto.it). Na taça, nada mais toscano que um Chianti. Salute e buon appetito!
Anfiteatro romano em Lucca
(texto publicado na revista PIB nº 27 - ano VI - ju/ago/set de 2014)












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