Há 250 anos, 1763, o reverendo inglês Edward Stone descreveu os efeitos benéficos do uso da casca do salgueiro contra febre em 50 pacientes com malária em uma carta para a Royal Society, uma das instituições científicas mais antigas e respeitadas do mundo. O que ele não sabia é que o princípio ativo da tal casca, uma tal salicina, se tornaria a base de um dos remédios mais utilizados em todo mundo a partir do início do século XX, a aspirina.
Outro fato que provavelmente ele também não conhecia é que não estava realmente relatando algo inédito, mas fazendo uma redescoberta. O uso da casca do salgueiro para tratar dores já havia sido descrito pelo médico e filósofo Hipócrates, considerado o pai da medicina, na Grécia Antiga, mais de quatro séculos antes do nascimento de Cristo. Basicamente ele recomendava a seus pacientes que fizessem um chá das folhas do salgueiro.
Foram necessários, porém, exatos 134 anos para que a salicina se transformasse no ácido acetilsalicílico pelas mãos de Felix Hoffman, um químico trabalhando para a Bayer, em 1897. Ao fazer essa transformação, Hoffman tornou o que viria a ser batizado de aspirina em algo muito mais tolerável para o intestino humano e possibilitou seu uso em grande escala.
O que Hoffman provavelmente não sabia é que não foi ele o primeiro a sintetizar o ácido acetilsalicílico, mas, sim, o químico francês Charles Frédéric Gerhardt, em 1853. O detalhe é que Gerhardt não deu muita importância para sua descoberta, pois o processo para obter o ácido era complicado e não parecia ser um grande avanço em relação ao trabalho feito cerca de 30 anos antes, em 1826, por outro químico francês, Felix Leroux.
Naquele ano, Leroux isolou o que viria a ser batizado dois anos depois, em 1838, de salicina pelo alemão Johann Buchner, que também isolou em seu laboratório o mesmo composto. Demorou mais de dez anos, porém, para se chegar ao irmão mais velho do ácido acetilsalicílico, desta vez pelas mãos do italiano Raffaele Piria.
E apenas então, após o trabalho de diversos cientistas, Hoffman entrou na área e marcou um golaço. Na ciência este é o caminho mais comum. Pequenos avanços no conhecimento vão sendo feitos até que uma figura, neste caso Hoffman, chega e faz literalmente uma grande síntese. Mas, como disse Isaac Newton, "se eu vi além é porque me apoiei no ombro de gigantes".
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