O Outubro Rosa é comemorado em todo o mundo. O nome remete à cor do laço (rosa) que simboliza a luta contra o câncer de mama e estimula a participação da população, de empresas e entidades. Esse movimento começou nos Estados Unidos, onde vários estudos promoviam ações isoladas referentes à doença no mês de outubro. Posteriormente, com a aprovação do Congresso Americano, o mês se tornou oficialmente de prevenção.
Um dos casos mais emblemáticos de prevenção foi o da atriz Angelina Jolie que, ao compartilhar sua história relacionada à retirada das mamas, em 14 de maio do ano passado, no The New York Times, deu início a uma importante discussão sobre a necessidade do suporte especializado e individualizado aos pacientes com história familiar de câncer. Assim como Angelina, milhares de mulheres também possuem a mutação no gene BRCA1 (que regula o ciclo celular e previne a proliferação descontrolada das células), que resulta em um risco entre 60% a 85% de desenvolvimento de câncer de mama ao longo da via. Esse risco é seis a oito vezes maior quando comparado às mulheres não portadoras dessa alteração genética. Há também o risco, em torno de 50%, de desenvolvimento de câncer de ovário. Vale ressaltar que a história familiar representa uma pequena parcela da incidência de câncer de mama. Apenas um entre dez casos são originados de uma alteração genética herdada, sendo a mutação do BRCA1 uma das mais comuns.
Embora o assunto tenha ganhado visibilidade mundial após o depoimento público de Angelina, está longe de ser novo para mastologistas, oncologistas e oncogeneticistas. A experiência clínica demonstra que é fundamental para as pacientes estarem munidas de informações transmitidas com clareza por seus médicos para uma tomada de decisão segura, pois a cirurgia profilática, ou seja, é retirada da mamas e/ou dos ovários não é a única opção. É de suma importância esclarecer para a paciente que ela não está isenta de riscos, podendo provocar a perda de sensibilidade da pele da mama e dos mamilos e também a necrose da pele ou infecção da prótese e, dessa forma, não pode ser um procedimento indicado de forma indiscriminada. A principal recomendação é para que a mulher se submeta ao procedimento de remoção das mamas na faixa dos 30 e 40 anos. Acima dos 50, o benefício é ainda bastante controverso.
Em geral, a recomendação é de que todas as mulheres façam uma mamografia anual a partir dos 40 anos e tenham as mamas analisadas durante a consulta médica. Quem tem histórico familiar da doença deve começar antes. Mulheres com perfil de alto risco podem optar pela hormonioterapia preventiva por meio de um medicamento e o acompanhamento médico permanente. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tornou obrigatória neste ano a cobertura dos testes genéticos de mutação de BRCA1 e BRCA2 por parte dos planos privados de saúde.
Muitos fatores levam à doença
O câncer de mama é provocado por alterações genéticas não hereditárias, sendo que elas são, em cerca de 80% a 90% dos casos, estimuladas por fatores como obesidade, uso de hormônios (TRH - terapia de reposição hormonal), início da menstruação em idade muito jovem (menos de 12 anos), menopausa em idade mais tardia (acima de 55), menor número ou ausência de gravidez durante a vida e gravidez em idade cada vez mais tardia, assim como a ingestão de bebidas alcoólicas. A maioria dos cânceres de mama começa nos ductos, alguns têm início nos lóbulos e os demais nos outros tecidos. O câncer de mama é o mais incidente nas mulheres, atrás apenas dos casos de câncer de pele não melanoma. Para 2014, a estimativa é de 57.120 novos casos detectados.
Amamentação ajuda a proteger
Todas as mulheres estão sujeitas ao câncer de mama. O principal fator de risco é o envelhecimento. Isso porque, com o passar dos anos, o DNA sofre mais alterações genéticas e, portanto, aumenta as chances de a mulher desenvolvê-lo, alcançando seu pico entre os 60 e 70 anos. Isso não significa, por sua vez, que ser jovem é estar imune ao câncer. Em relação a casos de histórico familiar, sobretudo mãe, irmã e filha, a probabilidade é um pouco maior. Assim como nas mulheres com as características já citadas. A boa notícia é que o risco pode ser diminuído com a adoção de hábitos de vida saudáveis, como manter o peso adequado com uma dieta balanceada, não gordurosa, praticar atividade física regularmente e evitar bebidas alcoólicas. A amamentação também é um importante fator protetor.
A importância da mamografia para redução da mortalidade
A mamografia é um exame adotado a partir dos 40 anos com a proposta de detectar câncer em estágio inicial, em que o tumor ainda não é palpável e quando a taxa de cura pode superar os 95%. Também é indicada para avaliar eventuais alterações clínicas, como palpação de nódulo ou qualquer modificação das mamas. Em caso de história familiar, principalmente em se tratando de vários casos de câncer de mama na família - algumas vezes se recomenda começar os exames de rastreamento dez anos antes da idade em que o parente mais jovem foi diagnosticado. Por exemplo, numa família com vários casos de câncer de mama, em que a mãe desenvolveu a doença aos 40 anos, o aconselhável é que a filha faça a primeira mamografia aos 30 anos. Especialmente nesse grupo de alto risco, é recomendado também o exame de ressonância magnética anual.
(texto publicado na revista Contigo nº 2041 - 30 de outubro de 2014)
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