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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O caça-desaparecidos - Nataly Costa


Paulistano diz ter promovido mais de 17 000 reencontros entre parentes

Em agosto de 2003, o empresário Walter Peceniski recebeu um telefonema inusitado. Do outro lado da linha, o produtor de uma rádio israelense perguntava se ele conhecia a adolescente Liat, então com 14 anos. "É minha filha, que eu não via desde que ela tinha 4 meses de idade", conta. O paulistano fora casado em Israel e, após a separação, perdeu o contato com a família. A satisfação com a notícia surpreendente o levou a abandonar a carreira de consultor jurídico naquele mesmo ano e criar a ONG GoodAngels, especializada em conectar parentes afastados. Em onze anos de atuação, diz ter promovido cerca de 17 000 reencontros. Sem cobrar pelo serviço, oferecido em um site na internet, o profissional ganha a vida levando esses episódios a programas de rádio e televisão - tem contratos para inserções no SBT e na Rádio Globo.

A imensa maioria dos clientes que atende traz uma história bem semelhante à vivida por ele próprio: filhas em busca do pai sumido. "Também aparecem pessoas procurando irmãos ou amores do passado", diz. Há duas semanas, surgiu o caso mais surreal de sua trajetória, que teve repercussão na imprensa, uma mulher do interior de São Paulo descobriu ser casado com o próprio irmão após conhecer a mãe.

Além de rechaçar a alcunha de "detetive", Peceniski evita dar detalhes sobre seu método de trabalho. Mas não há nada de muito sensacional, é basicamente burocrático. Ele dispõe de um enorme arquivo com dados socioeconômicos de cidadãos brasileiros que inclui nome completo, data de nascimento e endereço fixo. O banco é semelhante ao usado por empresas de cobrança e análise de crédito, o tipo de firma do qual era proprietário até a década passada. Um analista de sistemas o ajudou a formatar as informações e facilitar a busca pelos desaparecidos. A tentativa de reunião, no entanto, nem sempre tem final feliz. "Às vezes, a pessoa pede para permanecer em sigilo, e eu respeito." Na era das redes sociais, há ainda o risco iminente de seu trabalho tornar-se obsoleto. "Dizem que meu maior concorrente é o Facebook."

Elo perdido

Alguns dos casos "resolvidos pela GoodAngels

Uma dona de casa de Palmital (SP) pediu ajuda para reencontrar a mãe, que não via fazia quarenta anos. Ao vivo na Rádio Globo, descobriu que estava casada com o próprio irmão, também abandonado pela mesma mulher.

Internada no Hospital Dom Pedro, no Jaçanã, fazia quinze anos, Xista Gomes não via ninguém da família desde então. No ano passado, com a ajuda da entidade, foi contatada por uma irmã de Pernambuco.

Com a morte do pai, em 2012, a enfermeira Isabel Valente resolveu procurar o irmão Rony, de quem estava afastada havia 22 anos. Encontrou-o morando no Rio de Janeiro com uma nova família e restabeleceu o vínculo.













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