quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Suicídio assistido - Léo Pessini


É crescente e preocupante o turismo do "Suicídio Assistido" na Suíça. Na Holanda e Bélgica, temos a eutanásia legalizada desde 2002; e na Suíça, o chamado suicídio assistido, ou também chamado suicídio medicamente assistido, cometido em alguns estados norte-americanos. Fixemos nossa atenção no que vem ocorrendo atualmente na Suíça. Sua legislação contempla a prática do suicídio assistido e uma das principais organizações, que ajudam as pessoas a praticá-lo, chama-se Dignitas. Recentes pesquisas revelam que o número de "turistas do suicídio" que vão à Suíça para terminar com suas vidas dobrou nos últimos quatro anos.

Alemães e britânicos, ou seja, a maioria, com condições neurológicas, tais como paralisia do motor neuronal, Parkinson e esclerose múltipla, constituem quase a metade dos casos. Entre 2008 e 2012, 611 não residentes suíços foram ajudados a abreviar suas vidas. A idade varia de 23 a 97 anos, com uma média de 69 anos, dos quais mais da metade (58%) dos turistas eram mulheres e 40% homens.

No total, pessoas de 31 países foram à Suíça entre 2008 e 2012 para utilizar serviços de suicídio assistido. Alemães, 268; do Reino Unido, 126. Outros países (os dez mais) incluem a França, com 66 casos, Itália, 44, Estados Unidos, 21, Áustria, 14, Canadá, 12, Espanha e Israel, 8 cada. Os números de pessoas que optaram pelo suicídio assistido na Suíça dobraram entre 2009 e 2012.

Segundo os pesquisadores, uma em cada três pessoas tinham mais de uma condição, mas as condições neurológicas constituíram quase a metade de todos os casos, seguidas pelo câncer e doenças reumáticas. Esse fenômeno do turismo suicida na Suíça tem provocado mudanças na legislação e sérios debates parlamentares na Alemanha, Inglaterra e França, países com maiores números de casos.

Aliviar a dor

Discussões também não faltam no interior da própria sociedade suíça, que começa a acordar deste pesadelo de ser vista como terra do turismo do suicídio, não pelas suas incríveis belezas naturais, mas lugubremente de tristes finais de vida!

Fazemos um comentário final relacionado com a argumentação ética conhecida como "escada escorregadia". No início de 2002, quando da aprovação da lei, basicamente os que procuravam procedimentos de eutanásia eram basicamente os pacientes em fase terminal do câncer. Os candidatos á eutanásia seriam pessoas que passam por um "sofrimento intolerável" (unbearable suffering) no final de sua existência, basicamente como paciente em fase final de vida. Hoje, situações existenciais, tais como se sentir só, ou deprimido, dor pela perda de um ente querido, passando por um luto, ser portador de uma doença crônico-degenerativa, como Alzheimer (demência) ou Parkinson, tornaram-se motivos para a prática da eutanásia.

Não se menciona uma ação terapêutica, médica, de cuidar da dor ou aliviá-la, ou sofrimento da pessoa, da ressignificação da vida frente a esses desafios existenciais que já foram denominados como sendo as doenças da alma, no século 21. Por que não se potencializa a filosofia dos cuidados paliativos, isto é, abordagem de cuidados integrais, que visam atender a pessoa humana na sua integralidade de ser, nas suas necessidades humanas, físicas, psíquicas, sociais e espirituais, um significado de vida, de uma esperança maior? Por causa desta dor incurável ou este sofrimento intolerável, tira-se a vida da pessoa.



(texto publicado na revista Família Cristã nº 948 - ano 81 - dezembro de 2014)




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