É a segunda articulação da perna, aquela que serve para dobrar, ceder, para ficar de joelhos. É a articulação da humildade, da flexibilidade interior, da força profunda, ao contrário do poder exterior, que gera a rigidez.
Ele é o sinal manifestado do alívio, da aceitação, e até mesmo da rendição e da submissão. O joelho faz o papel de "portal da Aceitação". Ele é o complemento, a continuação do quadril, prolongando a mobilidade deste, porém no sentido inverso.
De fato, o quadril é uma articulação que só pode se curvar para frente, enquanto o joelho só se curva para trás. Ele traduz então a capacidade de romper, de ceder, até mesmo de recuar. É também a articulação que faz a alternância entre o Consciente e o Não-Consciente.
Representa assim a Aceitação de uma emoção, de uma sensação, de uma ideia que emerge do Não-Consciente em direção ao Consciente - se estivermos durante o processo de Densificação - ou, mesmo, o inverso, uma ideia que ande em direção a esse Não-Consciente após o Consciente - se estivermos durante o processo de Libertação. É a articulação maior da relação com o outro e da nossa capacidade de aceitar o que essa relação implica em termos de abertura, até mesmo de compromisso (eu não disse comprometimento). (1)
Os males do joelho
É fácil deduzir que quando sentimos dor no joelho isso significa que temos dificuldade para ceder, para aceitar uma certa experiência vivida. Estamos no nível das pernas, logo a tensão é de ordem relacional com o mundo exterior ou interior, com os outros ou consigo mesmo. As dores, os problemas "mecânicos" nos joelhos significam que uma emoção, uma sensação, uma ideia ou uma memória ligada à nossa relação com o mundo não está sendo aceita, está até mesmo sendo recusada.
Trata-se de alguma coisa que é vivenciada no Consciente e que transtorna, confunde, perturba as nossas crenças interiores e que nós recusamos interiormente. Pode se tratar, por outro lado, de uma emoção, de uma sensação ou de uma memória que emerge do Não-Consciente (mensagem do Mestre Interior) e que temos dificuldade para "aceitar", para integrar no nosso quotidiano, no nosso Consciente, pois elas perturbam, transtornam as crenças ou os "costumes" reconhecidos e estabelecidos.
Se for o joelho direito, a tensão está relacionada com a simbólica Yin (materna). Podemos retomar aqui o exemplo que citei anteriormente, daquele homem que se feriu no joelho direito durante um jogo de futebol, na época em que acabara de receber a carta de pedido de divórcio da sua mulher, divórcio esse que ele não aceitava.
Há também um caso pessoal tão significativo quanto este. Há alguns anos, eu praticava assiduamente o aikido com o meu professor daquela época. Em Paris, havia construído com alguns amigos um dojo magnífico, pelo qual havíamos dado o nosso sangue e colocado em perigo, alguns de nós, as nossas estruturas familiares e sociais, pois essa construção estava em primeiro lugar e nos tornava "indisponíveis" para muitas outras coisas.
Pouco depois do final dessa realização, da qual nos sentíamos particularmente orgulhosos, as relações com a estrutura que representava a associação se degradaram. Mas, no fundo, eu não podia aceitar as mensagens que viviam chegando e me mostravam que o meu caminho junto a ela havia terminado. Encontrava muita dificuldade para aceitar essa ideia, depois de tudo o que havia investido nela, apesar da vivência de "traição" que se associava a todo o resto.
Foi o meu joelho direito que "rompeu" e me obrigou a parar com tudo, não só os cursos que eu ministrava como também os que estava fazendo. Uma entorse dupla se deu de forma quase que medíocre durante um aquecimento de aikido, ao passo que eu já vinha sofrendo do joelho há várias semanas. Eu não podia "entender" que a minha relação com a associação e a sua dinâmica "familiar" chegava ao fim.
Essa tensão, mais as que foram produzidas no meio familiar durante a construção do dojo, levaram-me até a entorse, ao mesmo tempo em que eu tinha um problema de deslocamento do meu quadril direito (vivência de traição). Assim, eu "obriguei-me" a deixar essa associação, essa representação materna. Depois de uma reflexão difícil, acabei compreendendo a mensagem. Apesar da "gravidade médica", pude retomar a minha prática rapidamente noutro lugar, e o meu joelho direito se refez perfeitamente e me permitiu voltar ao aikido, mesmo que eu não esteja sempre com o meu tempo voltado para essa direção atualmente.
Se for o joelho esquerdo, a tensão está relacionada à simbólica Yang (paternal). Vou considerar o exemplo de uma jovem, Françoise, que me veio consultar por queixas genéricas de "mal-estar". Durante a conversa que tivemos, foi apurado que ela sofria do joelho esquerdo.
Diante da minha pergunta, que consistia em saber se vivia uma tensão relacional com um homem, depois de me olhar como se eu fosse um feiticeiro, ela reconheceu atravessar uma fase difícil com o seu namorado, em que não aceitava mais o seu comportamento em relação a ela. Então, lhe expliquei a relação que podia existir entre o seu joelho e as suas tensões relacionais com um homem.
Após alguns instantes de reflexão, ela exclamou: "Então é isso! É verdade, pois, alguns anos atrás, eu vivia com um rapaz que me havia causado o mesmo problema e também tinha tido fortes dores no joelho esquerdo, que desapareceram pouco depois de nos separarmos." Naturalmente eu lhe propus uma reflexão sobre por que ela revivia a mesma experiência e por que o seu corpo soava o alarme. Assim pudemos determinar rapidamente as coordenadas do seu "mal-estar".
(1) Aqui o autor se refere a uma outra leitura da palavra joelho em francês: "genou" também viria a ser "jenous", em que "je" = eu e "nous" = nós. (N.T.)
Do livro Diga-me onde dói e eu te direi por quê de Michael Odoul
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