sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O manual de uso correto dos antibióticos - Diego Benine


A resistência bacteriana causada pela adoção irresponsável do remédio já é considerada um problema de saúde pública. Aprenda a evitar esse risco

Conhecido por seu humor sagaz, o famoso dramaturgo de origem francesa, Molière, teria dito que "quase todos os homens morrem de seus remédios, e não de suas doenças". Desconsiderando o contexto original da frase, assim como seu exagero poético, pode-se dizer que ela propõe uma reflexão sobre as escolhas erradas das pessoas quando o assunto é saúde. Uma delas diz respeito ao uso indevido de medicamentos.

Encabeçando a lista dos fármacos que as pessoas mais utilizam indiscriminadamente (da qual fazem parte antidepressivos, anti-histamínicos, analgésicos, entre outros), estão os antibióticos. Sua função é inibir a multiplicação das bactérias e, por fim, eliminá-las. Algumas drogas atuam na parede celular dos micro-organismos, enquanto que outras atacam o metabolismo e o DNA dos bichinhos. A finalidade é a mesma: combater infecções do tipo bacteriana.

Contudo, essa terapia não deve ser administrada da mesma forma que uma aspirina. "Os antibióticos não podem ser tomados sem a orientação e a supervisão de um médico, já que alguns são específicos para determinados tipos de bactéria. Eles não produzem o efeito ideal quando usados de forma incorreta", completa Hélio Magarinos Torres Filho, patologista clínico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (RJ).


Quando o doutor erra

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estipulou uma série de medidas com o  fim de restringir a compra dessa classe de fármacos. Hoje, só é possível adquiri-los mediante receita médica, a qual tem data limite para expirar e, além disso, deve conter assinatura e carimbo do especialista.

No entanto, o problema está longe de encontrar uma solução. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 50% das prescrições no mundo inteiro são consideradas inadequadas.

"No Brasil, a realidade é que a grande maioria dos médicos indica antibióticos a portadores de resfriados comuns ou infecções respiratórias virais, quadros clínicos nos quais o remédio não tem a menor ação", afirma Jacyr Pasternak, infectologista do Hospital Albert Einstein (SP).

Segundo o especialista, "O perigo dessa conduta é favorecer a seleção de bactérias resistentes, além de desperdiçar recursos. Alguém paga a conta, seja o sistema público de saúde ou o cidadão que vai tomar a droga".


Falha nossa!

Por outro lado, os pacientes não estão livres da culpa. Isso porque o desinteresse para com temas de saúde ou a falta de acesso à informação de qualidade leva alguns deles a utilizar os antibióticos de maneira errônea.

Só para se ter uma ideia, na Espanha, um estudo realizado pela Universidad Miguel Hérnandez avaliou o conhecimento de 1.526 pessoas acerca do tema. A particularidade entre elas é que todas haviam recebido atendimento médico recentemente.

Além disso, tal análise foi feita após a divulgação de campanhas e a publicação de textos jornalísticos que tinham a finalidade de alertar a população local sobre a importância do uso responsável de antibióticos. Ao final, os pesquisadores constataram que, mesmo após a exposição maciça de informações, havia dúvidas, especialmente entre o grupo de homens, idosos, bem como entre os participantes e indivíduos que viviam em áreas rurais.


Tenho um remédio em casa...

Há ainda aqueles que desobedecem as recomendações deliberadamente, mesmo sabendo de todos os riscos. Um erro bastante comum é automedicar-se ou medicar alguém com sobras: ao apresentar um incômodo genérico na garganta, o indivíduo recorre aos frascos ou comprimidos que guardou na caixa de remédios após tratar uma infecção bacteriana na região do esôfago, para exemplificar.

De acordo com Raquel Muarrek, infectologista do Hospital Leforte (SP), essa prática não é aconselhada. "Algumas doenças, de fato, têm sintomas parecidos. Porém, ao utilizar antibióticos sem a prescrição adequada, o quadro em questão poderá ser agravado, pois esse tipo de medicamento não terá ação sobre o micro-organismo causador da patologia", diz. Existe também o risco de efeitos colaterais, bem como o de ajudar as bactérias, que podem adquirir resistência à terapia antimicróbio.


Ih! Esqueci!


Ok, você foi ao hospital, recebeu o diagnóstico e agora vai ter de tomar antibióticos. Nesse caso, fique atento e siga à risca os horários prescritos. "Para que a ação medicamentosa seja eficaz, são necessárias concentrações e doses corretas. O intervalo de tempo entre uma dosagem e outra deve ser respeitado, pois, em um determinado momento, a concentração do antibiótico diminui, e com isso as bactérias voltam a crescer. Nunca interrompa o tratamento, mesmo que os exames de cultura bacteriana sejam negativos. Os micro-organismos que não morreram poderão voltar a crescer e a infecção reaparecer", alerta Muarrek.

No tocante à quantidade,  infectologista explica que ingerir doses menores do que as indicadas não apenas compromete o objetivo do tratamento, como também facilita o surgimento das superbactérias. Já o excesso pode acarretar danos ao organismo. "Se observar alterações gastrointestinais, náusea, vômitos e diarreia, procure um médico imediatamente para que ele possa tratar os sintomas da maneira adequada."



(texto publicado na revista Viva Saúde nº 126)














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