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domingo, 17 de agosto de 2014

Aconteceu comigo: Depressão - Camila Balganon


"Namorávamos há oito anos. Ele, meu primeiro namorado. Eu, sua primeira namorada. Tudo ia bem no começo, como costuma ser. Com o passar do tempo, fomos perdendo as perspectivas de um futuro juntos. Casar era uma realidade distante porque ele vivia uma situação econômica complicada - eu já era formada e trabalhava quando ele decidiu fazer uma faculdade, em parte em resposta à minha insistência. Não saíamos, não viajávamos, não fazíamos planos. Tudo isso ajudou a desgastar o relacionamento.

Eu vivia um momento pessoal bastante complicado. Perdi meu avô e minha avó no mesmo ano. Também estava descontente com o trabalho e cheguei a ser humilhada por minha chefe na frente de outros funcionários. Tudo isso me abalou psicologicamente: comecei a dormir com a tevê ligada porque me sentia sozinha durante a madrugada, a sentir um medo incontrolável de perder os meus pais. Não saia, não fazia mais nada. Também comecei a deixar meu namorado de lado. Perdi a vontade de tudo, perdi a paixão.

Fiquei quase um ano assim, estranha. Até que, depois de uma briga, ele resolveu terminar comigo. Quando escutei aquilo fiquei sem ar - foi a pior sensação que senti na vida. Fiquei desesperada. Achava que ele nunca teria coragem suficiente para me deixar - eu era boa demais para ele! Além disso, tínhamos passado toda a nossa juventude juntos, não nos víamos um sem o outro.

Carregava toda a culpa pelo fim do namoro, o que me fez entrar em uma espécie de luto. Juntei desespero, orgulho ferido, medo de não encontrar mais ninguém, de ser infeliz para sempre. Incapaz de me tranquilizar, passei o dia seguinte inteiro no hospital. todo mundo me falava que aquela dor iria embora com o tempo, mas eu não acreditava. Já não comia nada, não tinha vontade de nada. Ficava deitada no sofá o dia todo.

Por insistência da minha mãe, comecei um tratamento com uma psicóloga. Passei a ir à missa aos sábados e a frequentar um grupo de oração da igreja com meu pai. E me fez muito bem. É curioso: eu havia abandonado a igreja há muito tempo. Mesmo com toda essa ajuda, a situação custava a melhorar. Fiquei muito apegada à minha mãe e com medo de sair na rua. Parei até de dirigir. A psicóloga indicou-me uma psiquiatra. Disse que eu estava com um quadro depressivo e muito perto de desenvolver síndrome do pânico. Pensei que estava ficando louca. A psiquiatra me receitou um ansiolítico e Sertralina. Foram quase vinte dias de agonia antes de começar a sentir alguma melhora. Minha saúde ficou debilitada e perdi treze quilos, dez em apenas um mês.

Hoje vejo que ter tomado providências rapidamente me ajudou muito. Se tivesse deixado passar, teria s ido muito mais difícil sair daquele buraco. Além disso, tive todo o apoio da minha família e dos meus amigos. Comecei a sair novamente, a pedir para as pessoas me chamarem. Evitava ficar sozinha. Aí a coisa foi melhorando e acontecendo. Recebi uma nova proposta de trabalho, novas pessoas se aproximaram. Também, aos poucos, voltei a comer. Acho que melhorei rápido, mas o tempo em que fiquei mal foi muito intenso.

As pessoas me falam que estou melhor agora com muito mais autoestima. Sinto-me mais querida, mais bonita, mais alegre e, assim, mais atraente. Uma amiga começou a me chamar para os eventos de moda. A mudança foi muito radical. Dormia às 6 horas da manhã... Conheci o pessoal da moda - era uma coisa que sempre queria fazer e nunca tinha conseguido por causa do Maurício. Tudo o que eu queria ter feito na época da faculdade, comecei a fazer com o fim do namoro. Foi uma fase muito boa. Mas demorei a começar a sair com outros homens. Há três meses estou namorando uma outra pessoa. Confesso que tenho medo de me frustrar e voltar à estaca zero. Mas, por outro lado, hoje sei que sou forte e capaz de encontrar a felicidade sozinha. Sinto-me completamente segura."




(texto publicado na revista SimplesMente nº 1 - maio de 2012)


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