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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A incansável supertia - Gabriela Abreu


Dagmar Garroux, há 20 anos dedicada a melhorar a educação de jovens carentes, cria centro de medicina integrativa

É agora, José! A pedagoga Dagmar Garroux tomou emprestado um verso do poeta Carlos Drummond de Andrade, subverteu-o e transformou em mote para a Casa do Zezinho, instituição fundada por ela e mais quatro amigos em 1993 com o objetivo de alterar a realidade de crianças e jovens carentes da zona sul de São Paulo. "Você só muda o mundo com educação. Por isso, luto por uma educação de qualidade. Só assim podemos ajudar a criar um pensamento crítico, dar voz e alegria e trazer progresso", defende Dagmar. Em 20 anos, mais de 15 mil Zezinhos, como são chamados seus alunos, passaram pelo casarão colorido pintado por tia Dag, o apelido carinhoso que recebeu deles. Ali alternam-se aulas de informática, línguas, música, esportes e por aí vai. Desde janeiro, a sede ganhou um anexo: uma clínica de medicina integrativa. São oferecidas sessões de massagem, psicoterapia, acupuntura, tratamento homeopático e terapia ocupacional para os moradores do Parque Santo Antônio, do Capão Redondo e do Jardim Ângela, região paulistana que já foi batizada de "triângulo da morte". Desenvolvemos esse projeto porque percebemos que, muitas vezes, problemas de saúde dificultam até o raciocínio das pessoas", conta Dagmar. Por enquanto, só aos sábados há atendimento - que começa a ser ampliado neste mês.

Formada em psicopedagogia pela Universidade de São Paulo (USP), Dagmar, hoje com 60 anos, iniciou a carreira atendendo filhos de exilados políticos da ditadura militar. Na época, vivia com o marido em um sítio no ainda tranquilo Parque Santo Antônio. Quando, na vizinhança, grupos de extermínio passaram a ameaçar de morte garotos que tinham cometido pequenos delitos, ela abrigou sete deles em sua casa. Foram seus primeiros Zezinhos. Hoje, 1,5 mil garotos entre 6 e 21 anos estão matriculados nos cursos da instituição, frequentados em paralelo à escola. Para os mais velhos, há oficinas profissionalizantes, gama que inclui de robótica a formação para DJ. A fila de espera por vagas é grande: chega a 2 mil nomes.

O sucesso da ONG pode ser medido também pelas conquistas dos alunos. "Quando a casa do Zezinho fez 10 anos, comemorávamos o fato de eles terminarem o primeiro grau. Hoje, muitos concluem a faculdade e já emendam uma pós-graduação. Eles têm vontade de saber mais", alegra-se Dagmar, que tem um filho e duas netas. "Sou muito sortuda, todo dia ganho 1,5 mil beijos."



(texto publicado na revista Claudia nº 7 - ano 53 - julho de 2014)






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