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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

"Os atletas não pensam no futuro" - Tainá Goulart


Dentro das quadras, o  técnico da seleção brasileira masculina de vôlei e do time feminino da Unilever, Bernardo Rezende, 55 anos, mais conhecido como Bernardinho, não deixa de puxar a orelha de nenhum jogador. Ele chama atenção, se exalta, ensina e aconselha a cada partida. Quando chega em casa, a função continua, desta vez como pai acompanhando a educação dos filhos, Vitoria, 4, Julia, 11 e Bruno, 28. No ano passado, Julia precisou trabalhar dobrado para ir bem na escola. A transição entre a quarta e a quinta série do ensino fundamental não foi fácil, já que o nível de dificuldade nas provas aumentou. "Ela teve essa pressão por notas, com testes mais duros. Um dia me contou que sua menor nota, até então, tinha sido 9. Falei que ela havia estabelecido um padrão e que, daqui para a frente, só queria 9 para cima. No fim, Julia manteve o nível das notas e ainda se inscreveu sozinha para uma olimpíada de matemática", conta orgulhoso Bernardinho, casado com a ex-jogadora de vôlei Fernanda Venturini, 43.

Se está longe por causa das viagens, ele pede para a mulher o atualizar por e-mail sobre a rotina das filhas. A marcação é cerrada também com o mais velho, Bruno, fruto de seu relacionamento com a ex-jogadora de vôlei Vera Mossa, 49, e atual levantador da seleção brasileira. "Sempre bati nessa questão com ele. Quando criança, o Bruninho praticava vários esportes, mas sabia que o colégio e o boletim eram assuntos prioritários. Até hoje fico no pé para ele voltar a estudar (Bruno começou a fazer administração, mas trancou no terceiro semestre). Gostaria que ele fizesse algum curso que fosse de seu interesse", diz.

Carreira de sucesso

Bernardinho sabe da importância do ensino quando se trata de uma carreira tão curta quanto a esportiva. "O fato de eu ter tido a oportunidade e a experiência de estudar paralelamente ao vôlei foi o que me deu a consciência da importância da educação. Hoje, eu colho os frutos do meu empenho no passado. No esporte, os atletas não costumam pensar no futuro e acho que o treinador tem a responsabilidade de orientá-los", afirma.

Na prática, Bernardinho não perde a chance de instigar o conhecimento entre os jogadores. "Eu sempre estou ali provocando, tentando conciliar os treinos para que continuem a estudar. Eles são atletas de alto rendimento e as chances de ter uma carreira muito longa são pequenas. Conheço vários casos de amigos que não souberam valorizar o momento e depois tiveram dificuldades em seguir em frente. É meu dever privilegiar a questão do estudo para que eles consigam o mesmo sucesso que eu tive", finaliza.



(texto publicado na revista Contigo nº 2025 - 10 de julho de 2014)




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