Pode parecer difícil imaginar: a máquina que comanda os atos do corpo humano ocupa apenas 2% de toda massa corporal e mesmo assim é o órgão mais gordo do corpo. O cérebro é composto por 60% de gordura e sua massa total é constituída por 75% de água. A relação de peso e tamanho desperta o interessa da comunidade científica. O cérebro humano está encolhendo.
O mito de que humanos usem apenas 10% do potencial do cérebro caiu. A ciência moderna considera que toda parte do cérebro tem sua função e trabalha o tempo todo. Mas outra descoberta já começa a intrigar os cientistas: o peso do cérebro, que também caiu nos últimos 20 mil anos. A descoberta de John Hawks, antropólogo da Universidade de Wisconsin, se baseia na comparação de esqueletos e crãnios humanos atuais com os da Idade da Pedra. O volume médio do cérebro do sexo masculino teria diminuído de 1.500 centímetros cúbicos para 1.350, perda equivalente ao tamanho de uma bola de tênis. O cérebro feminino também diminuiu em proporção idêntica.
O acompanhamento do estudo foi feito na China, Europa, África. A continuidade desse fenômeno em mais 20 mil anos poderia levar o tamanho do cérebro humano ao mesmo do encontrado no Homo Erectus - um parente que habitou o planeta meio milhão de anos atrás e tinha o volume cerebral de apenas 1.100 cm cúbicos.
Há controvérsias sobre as causas desse encolhimento. Algumas teorias atribuem o efeito à diminuição da massa corpórea do ser humano no decorrer dos séculos, ou seja, quanto mais carne ao redor dos ossos, mais cérebro para controlar os blocos de massa muscular. Um cérebro de elefante, por exemplo, pode pesar quatro vezes mais do que o de um ser humano. Extintos cerca de 30.000 anos atrás, os Neandertais eram hominídeos robustos e tinham grandes cérebros, não maiores ainda do que os do Homo Sapiens, que viveram de 20.000 a 30.000 anos atrás na Europa. Um estudo amplamente citado descobriu que a razão entre o volume do cérebro para o corpo, em massa, é comumente referida como o quociente de encefalização, ou EQ. Mas agora, muitos antropólogos estão repensando a equação.
Estudos recentes de fósseis humanos sugerem que o cérebro diminuiu mais rapidamente do que o corpo em tempos modernos. A análise do genoma põe em dúvida a noção de que os seres humanos atuais são simplesmente versões idênticas de seus antepassados, até na forma de pensar e sentir. Durante o próprio período em que o cérebro encolheu, o DNA humano acumulou inúmeras mutações adaptativas relacionadas com o desenvolvimento do cérebro e os sistemas de neurotransmissores, um indício de que o órgão tenha diminuído e alterado seu funcionamento interno.
Até mesmo a tendência de aquecimento no clima da Terra tem sido objeto de estudo, uma vez que esse fenômeno também começou há 20.000 anos. À medida que o planeta aquece, a seleção pode ter favorecido pessoas de estatura mais leve. Isso reforça o argumento de que esqueletos e crânios encolheram com a elevação da temperatura, enquanto o cérebro ficou menor. No entanto, a teoria se esbarra no contraponto de que os períodos de aquecimento comparados ocorreram muitas vezes ao longo dos últimos 2 milhões de anos e mesmo assim o corpo e o tamanho do cérebro aumentaram regularmente. Outra teoria popular atribui o menor volume do cérebro à diminuição do advento da agricultura, que, paradoxalmente, teve o efeito inicial de agravamento da nutrição. A dieta de grãos teria sido deficiente em proteínas e vitaminas para abastecer o crescimento do corpo e do cérebro. Em resposta à desnutrição crônica, o corpo e o cérebro humano podem ter se encolhido.
Muitos antropólogos são céticos em relação a essa explicação, pois a revolução agrícola não chegou à Austrália ou à África Austral até os tempos quase contemporâneos e, no entanto, o tamanho do cérebro diminuiu desde a Idade da Pedra nesses lugares também.
O impacto dessas mutações ainda é incerto, mas há cientistas que consideram plausível a ideia de que nosso temperamento ou habilidades de raciocínio tenham mudado. Para alguns, esse encolhimento não altera em nada a inteligência humana, muito pelo contrário: há quem defenda a teoria de que a diminuição do cérebro possa tornar a conexão de seus neurônios mais eficiente, transformando o homem em um pensador mais ágil.
Controvérsias à parte, vale lembrar que o cérebro genial de Albert Einstein pesava 1.230 gramas, peso abaixo da média atual, 1.360 gramas, o que talvez valha como máxima para refletir: qualidade, quando se trata de cérebro, compensa a quantidade.
(texto publicado na revista Premium Real Estate & Decor - Premium Corporate & Offices nº 91 - outubro 2014)
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