quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A história da escrita e a escrita em cursiva itálica - Andrea J. Buchanan & Miriam Peskowitz


O primeiro instrumento de escrita se assemelhava ao primeiro instrumento de caça: uma pedra pontiaguda. Essas pedras eram usadas para escavar as paredes, traçando registros visuais da vida cotidiana. Com o tempo, os desenhos foram se transformando em símbolos que, finalmente, passaram a representar palavras e frases, traçadas não mais em paredes, mas em pequenas tábuas de argila. Mesmo assim, foi só muito mais tarde que o alfabeto surgiu para substituir os pictogramas e os símbolos. Outro marco na história da escrita foi o advento do papel, na China antiga. O sábio grego Cadmo, fundador da cidade de Tebas e criador do alfabeto fenício, teria sido também o inventor das primeiras mensagens - cartas escritas à mão, em papel, que eram enviadas de uma pessoa para outra.

Algumas culturas levaram muitos anos até possuírem uma linguagem escrita. Na verdade, a língua vietnamita não tinha escrita até o século XVII. Dois jesuítas, missionários portugueses, Gaspar do Amaral e Antônio Barbosa, romanizaram a língua nativa desenvolvendo uma escrita e um sistema de ortografia. Para isso, utilizaram o alfabeto romano e vários sinais para representar a acentuação tonal da fala dos vietnamitas. Mais tarde, em 1651, tal sistema foi codificado no primeiro dicionário de vietnamita, que continha mais de oito mil palavras, pelo francês Alexandre de Rhodes. É por isso que o vietnamita escrito usa letras romanas em vez de caracteres semelhantes aos dos países asiáticos vizinhos.

No início, todo sistema de escrita baseado em letras utilizava somente as maiúsculas. O aperfeiçoamento dos próprios instrumentos de escrita permitiu o surgimento das minúsculas. À medida que tais instrumentos foram se desenvolvendo e o alfabeto se tornando mais elaborado, escrever à mão passou a ser um problema. Hoje, temos uma incrível variedade de instrumentos de escrita - todo tipo de canetas, lápis e outros objetos do gênero; no entanto, o mais utilizado na história recente foi a pena, feita com uma pluma de pássaro. 

Antes de tratarmos da arte da escrita com uma pena, precisamos falar um pouco sobre a caligrafia. Mesmo na era dos computadores, ter uma caligrafia clara é uma habilidade útil e necessária, e desenhar uma fileira inteira de As ou de Ps bem caprichados, ou de Qs cheios de voltinhas, cuidado para que fiquem perfeitos, pode ser uma atividade bem prazerosa. Hoje em dia, quando é mais comum digitar do que escrever com uma caneta, a escrita cursiva poe até parecer fora de moda. Mas, na época de sua invenção, a noção de uma escrita padronizada foi uma ideia revolucionária.

O primeiro a adotar a escrita cursiva, ou "escrita à mão" italiana, foi Aldus Manutius, um tipógrafo veneziano do século XV, cujo nome ainda sobrevive na denominação da fonte como serifa "Aldus". A escrita cursiva significa simplesmente "juntar", "formar uma corrente" (a palavra vem do verbo latino currere, corre), e uma das principais vantagens dessa escrita era permitir que se escrevesse depressa e ocupando menos espaço. Mas a aparência uniforme dos textos assim redigidos também se mostrou útil: nos séculos que antecederam a invenção da máquina de escrever, toda correspondência profissional era escrita à mão, e havia funcionários - homens - treinados para escrever "certinho", de forma que toda a correspondência apresentasse o mesmo tipo de letra. (As mulheres aprendiam a escrever com uma letra mais redonda, para uso doméstico.)

Com o surgimento dos computadores e das fontes padronizadas, não se vê mais a escrita cursiva nas etiquetas da correspondência profissional, embora ela ainda seja a forma mais elegante quando se trata de convites, certificados e cartões de felicitações.

Atualmente, existem muitas correntes defendendo o que seria uma escrita cursiva bonita, e escrever "certinho" deixou de ser privilégio dos homens, como era algum tempo atrás. Nas escolas, há diversos sistemas de alfabetização, mas todos eles se baseiam em preceitos similares que visam a dar à palavra escrita uniformidade e legibilidade.

A cursiva itálica é uma forma tão elegante de se escrever à mão que pode mesmo ser usada para deixar mais chique uma correspondência qualquer. Como acontece com a cursiva comum, as letras são ligadas umas às outras, mas a cursiva itálica é mais inclinada, e as minúsculas arredondadas assumem uma forma mais triangular. Tal formato também se presta a floreios decorativos, e é por isso que vemos esse tipo de letra ser muito usado em convites de casamento, cardápios de restaurantes sofisticados etc.

Na cursiva itálica, as letras são traçadas com uma inclinação de cerca de dez graus em relação à vertical e, para isso, é preciso segurar a caneta formando um ângulo de quarenta e cinco graus a partir da linha.

Em Victoria, na Austrália, em meado dos anos 1980, foi desenvolvido um novo estilo de escrita cursiva para ser adotado no ensino fundamental. Hoje em dia, esse estilo, denominado Victoria Modern Cursive, é usado por todo o país e apreciado por ser, além de legível, de fácil elaboração - bastam uns poucos floreados e as letras, que eram práticas, tornam-se elegantes.

Para treinar, alguns escritores gostam de escrever seus poemas favoritos a fim de aperfeiçoar sua forma. Eis aqui um célebre haicai, do poeta japonês Issa, do século XVIII, que pode nos lembrar tanto da evolução gradual da escrita humana quanto do trabalho árduo que a boa caligrafia às vezes exige.



(texto extraído do livro O livro das garotas audaciosas de Andrea J. Buchanan & Miriam Peskowitz)

Nenhum comentário:

Postar um comentário