sexta-feira, 29 de abril de 2016

A Tribute To Bee Gees (1967 - 1978)


Diário de vida: Homenagem a um grande amor: If, interpretada por David Gates


Recebi uma linda psicografia do grande amor de minha vida que partiu há muitos anos.

A nossa canção é "If" da banda Bread.



Outra canção que me faz lembrar de nossos momentos é Stop, look, listen (to your heart) interpretada por Marvin Gaye e Diana Ross.











"Quando hai sepolto il tuo bambino?" - Guarda, rifletti e rispondi - Daniele Penna


Nise da Silveira - imagens do inconsciente


Amor na rede - Walcyr Carrasco


Estou no Tinder há uns anos. Surpresa! Raramente a aproximação desembocou em sexo ou namoro

O relacionamento pela internet tornou-se comum, mesmo entre pessoas mais velhas. Uma senhora de 40 anos, separada, justificou:

– É bom que assim a gente conversa bastante e conhece a pessoa melhor antes de encontrar.

Conheço casos. Uma amiga de mais de 50 começou a teclar com um senhor de 60 em Portugal. Meses depois, o português veio conhecê-la. Estão morando juntos, numa cidade próxima a Lisboa.

– Nunca pensei que ia casar novamente! – disse ela.

O casal pode bater papo dois anos inteiros, até que se conheça pessoalmente. Um rapaz conheceu seu marido holandês assim. Ele em Fortaleza, o outro em Amsterdã. O holandês, professor universitário, tomou o avião. Casaram-se. E o brasileiro já fala holandês.

Os contatos surgem espontaneamente por várias redes sociais. No Facebook, fala-se mais. O Instagram significa um primeiro olhar, com uma curtida na foto. Há endereços mais imediatos, como o Tinder. Botam-se a foto, idade, preferência sexual, que distância deve haver entre você e a pessoa. Em função desses dados, são selecionadas as fotos. Se alguém é atraente, basta um “sim”. Caso contrário, um “não”. Caso haja coincidências de “sins”, você é avisado: “match”. Se não, a pessoa jamais saberá que você a escolheu. Aí, trocam-se mensagens. Se a intimidade prossegue, parte-se para o WhatsApp. Contatos mais profundos. E a possibilidade de marcar um encontro. Para minha surpresa, na distribuição dos prêmios da Apca (Associação Paulista de Críticos de Arte), uma vencedora, desenhista, linda e jovem, depois de agradecer o prêmio aos parceiros artísticos, revelou:

– Agradeço também ao Tinder. Através dele conheci um cara, com quem saí só uma noite. Mas ele me fez descobrir a vontade de desenhar.

Quando um site de relacionamento é elogiado por uma garota bonita, é que realmente tomou importância.

Digo a verdade. Estou no Tinder há uns anos. Surpresa! Raramente a aproximação desembocou em sexo ou namoro. Fiz, sim, grandes amizades. Vivo em um meio muito específico. Às vezes, é difícil romper barreiras e conhecer gente de outras áreas. Basta no primeiro momento dizer que procuro, realmente, amizade. Outros universos. Quem quer continua o papo. Não sou o único. Há grandes amigos que se conheceram assim.

Roubadas não faltam. Uma amiga de 28 anos conheceu um rapaz de 25. Depois ele revelou que tinha 32. Ela só reclamou da mentira, mas aí ele disse que tinha 44. Quando se encontraram, a surpresa. Era um senhor de 52.

– Fiquei revoltadíssima – ela afirmou.

Não tão revoltada assim. Casaram-se. Já aconteceu com outras. Como a juventude é considerada um bem em si, muita gente mente a idade. Depois que o papo se estabelece, pelas mensagens, é fácil contar que eu ou você estamos um pouco mais despencados do que dissemos inicialmente. Prova que as palavras têm poder. Seduzem. Quem não quer alguém que compreenda seus sentimentos mais íntimos? O resto é depois.

– Levei o maior golpe. O cara vendeu até meu carro – confessou outra amiga divorciada.

Também acontece. Candidatos e candidatas surgem do nada. Podem construir uma história falsa. Falam de amor, enquanto afanam o celular. Há riscos, sim. Mas também há risco em estabelecer contatos numa balada, num barzinho. Há riscos até em festa de formatura! Aconselho: se você está disposto a acabar com sua solidão, marque o primeiro encontro numa praça de alimentação de um shopping. E não dê carona de volta. O primeiro contato exige cautela. Mas não há vergonha em se oferecer num site de relacionamento. Vergonha é estar sozinho e triste.

Há sites que vão diretamente ao vapt- vupt. Buscam pessoas próximas umas das outras. Se há “ma­t­ch”, se falam, e marcam o encontro quase imediatamente. Um vai para a casa do outro, transam. E se despedem, até o próximo match. Também há risco de sofrer um carão. Um amigo gay botou uma foto com ótimos ângulos. O candidato chega, ele abre a porta. E ouve.

– Desculpa aí, mas não vai rolar. Tô indo.

Engana-se quem pensa que esses sites são usados somente pelos gays. O sexo casual tornou-se comum. E a traição faz parte do dia a dia. Um amigo me contou:

– A maior parte das mulheres que aparecem é casada.

Fazer o quê? A internet promove namoro e casamento. Mas também relações rápidas. Se tiver dúvidas, não enlouqueça vigiando o celular de sua parceira. Separe-se. Você sempre pode encontrar alguém. Escolha um site da internet.

Após os 40 deve-se trabalhar somente 3 dias por semana, diz estudo - Bruna Nardelli


A pesquisa mostra que as pessoas acima desta faixa etária não devem cumprir horários tradicionais para evitar estresse e fadiga mental

Boa notícia para os trabalhadores. Uma pesquisa australiana, publicada no Melbourne Institute, confirma os benefícios de não ultrapassar as 25 horas semanais de trabalho depois dos 40 anos.

O estudo mostra que pessoas acima desta faixa etária não devem fazer os horários tradicionais, já que cumprir a carga horária de 40 horas aumenta o estresse e a fadiga mental, o que pode ser altamente prejudicial à saúde.

De acordo com os pesquisadores, a partir dos 40 anos, o trabalho pode ser uma forma de melhorar e estimular a atividade cognitiva, mas desde que não sejam ultrapassadas as 25 horas por semana. Eles apontam que o ideal é um emprego em regime de meio período.


“O trabalho pode ser uma faca de dois gumes, estimulante para a atividade cerebral, mas ao mesmo tempo as pessoas precisam de ter moderação. Longas horas de trabalho podem causar stress e fadiga, potencialmente prejudiciais para as funções cognitivas”, afirma Colin McKenzie, da Universidade de Keio, citado pelo The Australian.

A conclusão do estudo surgiu com a análise de testes cognitivos de 3 mil homens e 3 mil e 500 mulheres, cujos horários de trabalho variavam.

Nossos medos e os fantasmas da perfeição - Leandro Karnal (Café Filosófico)


Madre Montserrat Del Pozo: "A estabilidade do professor sabota a educação" - Flávia Yuri Oshima


A educadora do Vaticano diz que o mestre tem de estar disposto a aprender todos os dias. E que um sistema em que o profissional ruim não pode ser demitido não tem como dar certo

Há 30 anos, a freira espanhola Montserrat Del Pozo recebeu a missão do Vaticano de investigar o que era feito de mais eficaz em educação no mundo.  Em escolas muito distintas, encontrou um problema comum: elas não formavam pessoas capazes de lidar com o mundo de forma autônoma. Aos adolescentes que saíam da escola, faltava capacidade de análise. Faltava autoestima e autoconhecimento. Ao longo de mais de sete anos de pesquisa, Montserrat desenhou uma pedagogia baseada no desenvolvimento da capacidade de análise e crítica da criança. Ela trabalhou ao lado do psicólogo americano Howard Gardner para implementar em sua pedagogia a teoria das múltiplas inteligências, criada por ele. Pessoalmente, a madre Montserrat é desconcertante. Por trás do sorriso alegre e do aspecto acolhedor, há uma educadora sagaz, inteligente e até agressiva quando fala das estratégias para ajudar a melhorar o ensino. A educação de hoje, diz ela, deve formar pessoas que viverão num mundo que nós ainda não sabemos como será. A autonomia e a visão crítica seriam a chave para isso. em 1994, madre Montserrat iniciou uma reforma na educação das escolas católicas sob a direção do Vaticano. Em 2000, o sistema de ensino que criou ganhou uma escola inteiramente baseada nele, o Colégio Montserrat (o mesmo nome é apenas uma coincidência), na Espanha. Mais de 50 escolas em vários locais do mundo seguem sua pedagogia. Madre Montserrat é filósofa pela Universidade da Pensilvânia e mestre em psicologia pela Universidade de Massachusetts, ambas nos Estados Unidos. Esteve no Brasil para um treinamento de professores no Colégio São Luiz, em São Paulo.

Época - A senhora prega uma pedagogia que incentiva o pensamento crítico, que necessariamente pede liberdade. A religião não se choca com essa liberdade?

Madre Montserrat Del Pozo - Quando me faz essa pergunta, você parte de um modelo preconcebido. Para entender que não há dicotomia, é preciso partir de uma das essências do cristianismo, que é ter uma visão crítica da sociedade. Jesus Cristo criticava abertamente os desmandos que iam contra a humanidade e a ética dos fariseus. Não podemos usar nossa crença como uma flecha contra o outro. Muitas vezes, me dizem, na própria Igreja, que sou demasiadamente aberta. Eu acredito que não seja uma questão de estar aberta ou fechada.  É uma questão de dignidade da pessoa humana. Todos têm o direito de refletir e fazer críticas independentemente do que minha crença diga. Num colégio católico, o respeito ao ser humano é fundamental. Para que esse respeito ocorra, temos de ser capazes de aceitar formas de pensar e viver muito distintas. Perguntaram-me na TV sobre qual é nossa posição em relação a famílias de homossexuais e de pais divorciados. Não há posição para ter. A dignidade das crianças e das famílias é a mesma, o respeito é o mesmo. Misericórdia cristã é o respeito mútuo vertical, não horizontal.

Época - Como se desenvolve o pensamento crítico do aluno?

Madre Montserrat - É preciso uma mudança sistêmica no colégio, que vise instaurar a reflexão crítica em todos os níveis da escola, da gestão ao aluno. Para isso, existe uma série de protocolos. Os resultados são instrumentos que transformam as aulas numa aula de pensamento. Quando isso se estabelece, não há como ter uma aula igual à outra. Na prática, isso se dá da seguinte forma: depois de cada novo aprendizado em qualquer disciplina - física, química, matemática ou história -, o aluno faz uma reflexão sobre o que aprendeu daquele momento, de que forma será feita a aplicação daquilo em sua vida ou em seu dia a dia na escola. Essa reflexão é posta em seu portfólio. Junto a isso, temos também uma discussão diária, na qual um dos alunos da turma tem 30 minutos para expor suas reflexões e questionamentos sobre questões éticas e humanas. Pegamos um tema que a criança estudou, como a aproximação diplomática entre Cuba e os Estados Unidos ou o assassinato de Osama Bin Laden. Nossa experiência mostra que esse é um exercício poderoso de desenvolvimento de pensamento crítico em relação a tudo o que se passa na escola - e na vida desse estudante.

Época - O professor está preparado para essa tarefa? 

Madre Montserrat - A formação é contínua. A própria dinâmica diária é um treinamento em curso. Trabalhei na formação de 6.012 professores. Em minha experiência, o indispensável é o professor estar disposto a sair da zona de conforto, do pedestal. A postura dele tem de ser a mesma do aluno: de estar disposto a aprender todos os dias e mudar de acordo com as necessidades que seus alunos apresentam. Isso é facilitado quando os professores percebem os resultados nos alunos e passam a sentir prazer, verdadeiramente, no ato de ensinar. Uma questão crítica ocorre quando o professor adota a postura de considerar os outros - os alunos, o sistema, a escola - como um problema. A resistência dos professores à mudança é o maior empecilho que uma escola pode enfrentar em qualquer mudança pedagógica. Em meus treinamentos, observei que 5 mil professores conseguiram mudar. Os demais não conseguiram ou não quiseram se desvencilhar dos padrões antigos.

Época - E o que fazer com o professor que não muda sua postura?

Madre Montserrat - Demita-o imediatamente. Pense nas crianças e não perca tempo. O professor é o núcleo da escola e da vida do aluno. Professores ruins devem sair.

Época - No Brasil, os professores da escola pública têm estabilidade de emprego. O que a senhora pensa disso? 

Madre Montserrat - Esse modelo não tem como funcionar. Não há como ter melhora no ensino se não podemos mudar os professores ruins. O mau professor sabota a qualidade do ensino. Em nossas escolas, o aluno escolhe um professor para ser seu tutor. O professor que não é escolhido por nenhum aluno é demitido. O raciocínio é simples: se em um ano dando aula para dezenas de crianças o professor não conquistou a confiança de nenhuma delas, não se conectou com elas, então ele não pode estar ali.Sou muito rigorosa com isso. Temos de ser objetivos. Não é porque um professor é uma pessoa amiga e querida na vida pessoal que ele deve ser poupado. Parece um absurdo, mas isso é algo amador que ocorre com muita frequência nas escolas. A criança vem primeiro. A cada ano que deixamos um professor ruim na sala de aula, prejudicamos dezenas de alunos.

Época - No Brasil, pesquisas mostram que crianças de mães com mais anos de educação se saem melhor na escola. É possível superar a diferença que essa e outras influências familiares têm nos segmentos mais pobres?

Madre Montserrat - Nossa obrigação como educadores é dar condições para que o aluno cultive o melhor de si dentro das condições em que vive. A criança deve ser comparada a ela mesma e a ninguém mais. Trabalhei na África, com comunidades miseráveis, e tenho convicção de que, se a criança tiver oportunidade, ela progredirá até chegar a seu rendimento máximo, mesmo em situações de miséria. Quando alcança esse desenvolvimento pleno (em relação a si mesma), a criança está apta a enfrentar qualquer realidade porque desabrochou em suas potencialidades. Sua autonomia e sua autoestima estão despertas. Muitos alunos inteligentes, com vida confortável e boa base, não chegam ao melhor de si mesmos e, por isso, não descobrem a autonomia que podem ter perante o mundo.

Época - Qual sua opinião sobre o ensino das emoções na escola?

Madre Montserrat - Quando se tem um professor capaz de pensar no aluno, a educação socioemocional se dá naturalmente a todo momento - porque esse professor o ajudará a lidar com dificuldades, com perdas e com seus limites.

Época - O que a senhora pensa da internet na educação? Como ensinar a criança a selecionar o que é confiável ou não na internet?

Madre Montserrat - Minha experiência diz que a internet é uma fonte de aprendizagem para os alunos, ao mesmo tempo que é também uma fonte de vícios. Não se deve proibir o acesso à internet na escola ou em casa. Eu, como educadora, tenho de ser capaz de garantir que o aluno não se conecte a conteúdos nocivos na escola. A educação é a ferramenta para isso. Temos de formar um cidadão digital. Essa é a tarefa que temos. Negá-la, enquanto professores ou pais, não é uma opção. A questão não é proibir conteúdos. Mas, sim, mostrar os riscos que cada ação do aluno traz. É o aluno, por fim, que tomará a decisão de como agir na web. Caso se comporte mal, ele deve ser punido de alguma forma - ficando sem internet por um tempo ou seja o que for. Ele tem de responder por seus atos. É assim que uma sociedade justa funciona.


(texto publicado na revista Época nº 930 - 11 de abril de 2016)

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Suely Franco e Umberto Magnani no Metrópolis falam da peça Elsa e Fred


A bolsa espiga - Walcyr Carrasco


Unidos, os bichos atacaram a fazenda a bicadas, coices, mordidas. Os humanos partiram em seus carros

Era uma vez, em um reino distante, uma fazenda com porcos, galinhas, burros de carga, coelhos, perus e até um casal de pavões. Todos insatisfeitos. Certa noite, reuniram-se em assembleia, quando os humanos já dormiam.

– Somos explorados! – grunhiu um porco gordo.

– Nem podemos chocar nossos ovos, eles comem todos. – cacarejou uma galinha revoltada.

– Pior é meu caso. Sei que serei assado no Natal! – lamentou-se o peru.

– Vivo exausto de tanto carregar! – zurrou o burro.

– É preciso mudar! Pelos direitos dos bichos – bradou o porco líder. 

– Não é preciso radicalismo – latiu o cachorro que era de estimação e não tinha do que reclamar.

– Vendido! Troca sua liberdade por ossos – acusou o galo. – Os explorados somos nós.

Unidos, os bichos atacaram a fazenda a bicadas, coices, mordidas e cabeçadas do porco. Os humanos partiram em seus carros. Houve nova assembleia. Todos concordaram que os porcos comandariam. Várias decisões foram tomadas.

– Nenhum bicho comerá outro! – cacarejou uma galinha.

– O galo todos os dias cantará as notícias, com absoluta liberdade de expressão – garantiu o porcão.

Havia um paiol, cheio de milho. Também concordaram que os porcos cuidariam da distribuição aos outros. Os ratos quiseram participar, mas foram expulsos.

– Não são animais de criação! – relinchou o cavalo.

O cachorro preferiu ficar em seu canto, não havia clima para latir.

Logo os bichos perceberam que estavam recebendo menos milho. E que os porcos estavam mais gordos.

– Houve desvio de milho! – acusou uma galinha.

– Jamais! Não havia a quantidade que estimamos no paiol! – retrucou o porco.

A coruja, que tudo via na noite, piou.

– Eu tenho uma denúncia a fazer.

Os porcos atacaram a coruja, que voou para o galho mais alto de uma árvore. Na madrugada, quando o galo foi cantar as notícias, alguns porcos também correram atrás e o galo perdeu algumas penas da cauda. Uma galinha denunciou:

– Os porcos estão comendo mais que nós!

– Nunca. Só nos alimentamos bem para manter a ordem! – garantiu a porca.

E a galinha denunciante desapareceu, embora até então fosse amiga dos porcos. Da cozinha, um cheiro já conhecido. O pavão olhou pela janela. Era galinha na panela!

– Estão traindo nossos princípios.

Foi discutir com os porcos e voltou sem as plumas, mas com uma carga extra de milho.

– Fiz um acordo pela governabilidade – explicou.

Faltava cada vez mais milho. As galinhas eram a maior força e cacarejaram revoltadas.O porco líder determinou.

– Está instituída a Bolsa Espiga!

Um coelho esperto tentou:

– Já é hora da passagem do poder.

Muitos bichos concordaram. No dia seguinte, um escândalo. Os porcos denunciaram: o coelho levava uma vida sexual atirada. Prova disso eram os inúmeros coelhinhos correndo no gramado. Uma pata grasnou:

– Se nem a coelha pode ter confiança, nós não podemos!

Naquela noite, os porcos, ainda mais gordos, apareceram andando sobre duas patas. Revolta.

– Parecem humanos! – zurrou o burro, que já passava fome.

– Galinhas e patos sempre andaram sobre duas pernas! É nosso direito também! – retrucou o porcão.

Era lógico. Os porcos continuaram protetores dos bichos. Mas o milho do paiol sumiu ainda mais. A coruja, que tudo via de noite, quebrou o sigilo. Contou tudo para o galo, que cantou:

– Os porcos se aliaram aos ratos, que roubam para eles de noite!

Havia um depósito embaixo da casa, na qual agora os porcos moravam. Escândalo! Revoltados, os bichos atacaram os porcos. Grunhindo alto, eles se refugiaram no fundo do chiqueiro. O coelho assumiu o poder. Encarapitou-se numa janela e declarou:

– A ordem será mantida com respeito a todo bicho cidadão. Está tudo sob controle.

Estava?

Nesse instante, ouviu-se o ruído de motores. O cachorro abanou o rabo. Eram os humanos voltando. Afinal, só haviam tirado férias.

PS - Espero que ninguém sinta-se ofendido a menção a porcos. Esse texto homenageia "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, onde os porcos são protagonistas.

Como preservar uma amizade ? - Walcyr Carrasco


Ninguém briga com amigo por causa de política. Os políticos vão, os amigos ficam

Tenho um grupo de amigos desde os tempos do antigo colegial. Prefiro não fazer as contas exatamente, por uma questão de vaidade. Mas pensem em mais de 40 anos. Às vezes nos encontramos para comer pizza. Trocamos figurinhas pelo WhatsApp. Ao longo do tempo, acompanhamos nossos amores, separações, crescimentos e reveses econômicos. De repente, o grupo incendiou-se.

– Estamos diante de um golpe! – afirma um amigo.

Estranhei. Nos tempos da ditadura, ele era mais do grupo “Paz e Amor” do que propriamente político. Pode ter tido simpatia pela esquerda radical, talvez. Ativista, nunca foi. Surpreso, descobri que se tornou o mais radical dos radicais. Mesmo tendo perdido, recentemente, seu negócio, que geria havia mais de 40 anos. E que lhe garantia a sobrevivência. Foi por água abaixo e ainda ficou com uma dívida de impostos enorme. Foi feita uma coalizão entre os amigos para, cada um dando uma parcela, ajudá-lo a não perder o que sobrou. Não tem aposentadoria. Filho de família de classe alta, está prestes a deixar o convênio médico.

– Hoje em dia o SUS, quando se chega aos casos mais graves, funciona muito bem.

– O problema é marcar a consulta. Pegar senha. Sei do caso de uma moça com tumor no seio que teve a operação marcada para o ano seguinte!

– Ah, mas aí...

Ficou no aí. Quem teve educação de classe alta tem conexões, não é? Um amigo diretor de hospital que pode passar na frente da fila. Mas isso não é dar um jeitinho? Para quem defende tão acirradamente o PT como um exemplo de ética, não devia ser o primeiro a evitar o tal jeitinho? Os outros do grupo são contra.

– Temos de limpar toda essa sujeira! – diz outra, que hoje mora na antiga casa de férias, para viver do aluguel da residência anterior.

Eu concordo. O radical rebate:

– Corrupção sempre houve no Brasil. É histórica. Por que dar um golpe agora?

– Corrupção no passado não elimina o crime no presente. Se houve, terá de ser punida de acordo com os instrumentos legais. E se a presidente praticou atos ilegais, cabe o impeachment
– tento argumentar.

Novos protestos. A amiga que pensa como eu insiste:

– Você, que tem acesso a milhões de brasileiros, devia explicar tudo isso pela televisão.

Ahhh...como é difícil! Por que tanta gente acha que sou dono da Globo? Sou um escritor contratado, responsável pela minha obra. No momento, escrevo Eta mundo bom!, novela das 18 horas, que é de época. Adoro a novela, adoro meu trabalho. Prefiro falar do comportamento humano, das paixões. A emissora sempre respeitou completamente o que escrevo, até na polêmica Amor à vida, onde houve o primeiro beijo gay em televisão aberta. Mas não posso invadir a bancada do Jornal Nacional, por exemplo, tomar o microfone e fazer um discurso. Cada um na sua função.

O mais inteligente da nossa antiga classe continua sendo muito articulado. Empresário de sucesso, entrou na conversa:

– Não é golpe. Dilma infringiu a Lei de Responsabilidade Fiscal e isso caracteriza o processo de impeachment. Lula, ao deixar a Presidência, tornou-se cidadão comum. E um cidadão comum pode ser processado por um juiz como Sergio Moro. É lei. Outras autoridades responderam a processos, depois de deixar o cargo.

O outro rebate.

– Mas quem está por trás de tudo é a direita.

– A questão é a lei. Corrupção sempre houve, sim. Mas essa é a primeira vez que um governo organiza a cobrança de propina, para repartir com a base aliada.

– Vamos comer uma pizza quarta-feira? – propõe outra.

– Só se eu for de camisa vermelha – anuncia o radical.

Imagino o que será a pizza! Aviso rapidamente que não poderei, estou com a agenda que é um horror. No meu íntimo, penso que só toparei a pizza depois de tramitado o processo de impeachment.

O articulado dá números de leis. O radical firma pé: é golpe. Outra amiga envia uma foto de bombons, está se fartando e quer mudar de conversa. Argumento:

– Acreditar na defesa do PT hoje é questão de fé. E fé não se discute. Melhor acender uma vela em Aparecida.

Protestos. Não estávamos tendo uma discussão séria?

Eu já lamentei muito quando o governo politizou a Educação e a Saúde, que deveriam ser intocáveis. Agora, politizou-se a amizade!

Vamos combinar? Ninguém briga com amigo por causa de política.

Está difícil, minha paciência é curta. Mas insisto. Os políticos vão, os amigos ficam.

Il valore della musica tra educazione e terapia - Prof. Dott. Rolando Benenzon


terça-feira, 26 de abril de 2016

Música para curar corpo e alma


"A música acompanha o ser humano desde antes do nascimento até sua morte."

Todo mundo precisa da música para viver, comunicar, se sentir bem. Indicada para crianças, jovens, adultos, idosos e gestantes, a música pode auxiliar em vários níveis. Aplicada a serviço da saúde pode ser usada como calmante, estimulante, tranquilizante, ajudar no aprendizado e na comunicação.

Ela pode ser aplicada de forma passiva, apenas por meio da escuta ou de forma ativa, através da manipulação e toque de instrumentos. Em ambos os casos, os efeitos podem ser demonstradas tecnicamente, por exames físicos, como, por exemplo, da pressão arterial e batimentos cardíacos.

Musicoterapia é o estudo do efeito da música em várias áreas, atuando tanto de forma física como psicológica. O musicoterapeuta é um profissional da saúde, graduado e capacitado para contribuir na recuperação e reabilitação da saúde e na prevenção de doenças.

O uso terapêutico da música já vem sendo estudado a algum tempo e tem trazido bons resultados ao longo dos anos. A musicoterapeuta chegou à Argentina e ao Brasil através do musicólogo e terapeuta Rolando Benenzon. Hoje seu nome está ligado a centros de musicoterapia espalhados pela Itália, Portugal, Chipre, Espanha, Uruguai e Brasil.

Segundo a educadora musical argentina, Violeta Hemsy de Gainza, uma das personalidades ativas na implantação do curso de musicoterapia na Argentina na década de 60 - na época em que vivemos - pensamos mais na música como aplicação do que na música por si mesma.

A primeira cidade brasileira a implantar o curso durante a década de 70 foi o Rio de Janeiro, iniciativa da musicista e educadora Cecilia Conde no Conservatório Brasileiro de Música. Atualmente o Conservatório oferece cursos de graduação e pós-graduação no assunto. Para frequentar, o aluno pode ser formado em outra área, como saúde, mas é necessário ter conhecimento musical.

A Diretora Técnico-Cultural do Conservatório Brasileiro de Música, Adriana Rodrigues Didier, nos conta de um trabalho realizado em pacientes terminais no Hospital Santa Isabel. "Profissionais chegam e tocam a música que o paciente quer ouvir, seja ela qual for. Neste caso, a música é usada para confortar as pessoas", explica.

Mas não existe uma música que sirva como um remédio específico para todo mundo. Segundo as experiências do Dr. Benenzon, é necessário encontrar a identidade sonora do paciente (ISO), ou seja, a frequência da vibração da pessoa, para iniciar o tratamento.  "Se uma pessoa está nervosa, é ideal botar uma música que esteja na sua frequência e, aos poucos, ir substituindo por uma música mais calma", exemplifica Violeta Gainza. E para saber exatamente a identidade sonora do paciente é necessário consultar a musicoterapeuta, só ele tem o conhecimento necessário para entender o nível sonoro da pessoa tratada.

Existem sons que provocam conforto em alguns e desespero em outros. Adriana conta que certa vez em uma sessão de acupuntura, ao tentar criar um ambiente tranquilo, a acupunturista colocou o som do Kenny G, provocando nela um terrível desconforto.

Ao ser questionada se existe um compositor que possa ser encontrado na farmácia, Violeta brinca "Mozart não tem contra-indicação. Por causa de seu efeito harmonizante, a indústria aproveitou lançando uma série de CDs e DVDs, Mozart for babies", finaliza.



(texto publicado na revista Tudo edição 35 - ano 3 - dezembro de 2013)

Sono, uma fonte de energia essencial para as corridas - Miguel Sarkis


Dentre todas as necessidades essenciais e vitais dos seres humanos, há uma que se torna imprescindível pela sua condição reparadora. Estou falando das horas de sono.

Você é capaz de correr relativamente bem tendo se alimentado mal, porém, sem as horas de sono noturnas, muitas vezes, fica impossível sentir-se bem e dar continuidade aos treinamentos de corrida.

Quantas horas são necessárias? Alguma coisa em torno de 8 horas é uma quantidade coerente, afinal, a maioria dos seres humanos dorme esse período. Se não dormires oito, provavelmente dormirás 7, 6, nunca muito abaixo, para se sentir muito bem em seus treinos. Se você dorme mais que 8 horas, pode ser uma questão de ajuste de seu metabolismo, quando sua necessidade passa a ser um pouco maior.

E quando não se consegue dormir antes de um treino ou prova importante? O que fazer?

Em algumas situações, a noite de sono pode ser um problema para o corredor. Isso ocorre por que a pessoa está ansiosa e sentindo medo, angústia, ou até mesmo devido ao fuso horário em países estrangeiros.

Você vai participar de uma corrida, por exemplo, em Paris e se depara com um fuso horário de 5 horas para frente. Veja que, nestas condições, o horário local é 1800min, enquanto para seu organismo já serão 22h00min. Fica difícil, às vezes, negociar com seu organismo o sono, sendo que na realidade o dia ainda está claro e seus amigos estão ativos dentro dos programas da cidade.

O corpo precisa de descanso, porém, se você é uma pessoa que dorme muito bem e regularmente é possível administrar uma quebra de horário para uma situação inusitada como esta. Eu, enquanto atleta, por várias vezes experimentei situações de não conseguir dormir direito e no outro dia realizei uma ótima prova. Claro que cada pessoa é de um jeito e, apesar de exigir uma condição mais adequada, às vezes, é possível obter um resultado surpreendente.

Contando os carneirinhos

A expressão "contar os carneirinhos" é antiga. Sempre que não dormimos por ansiedade, podemos recorrer à essa técnica, pensando em coisas boas.

Se você acorda tenso, preocupado com o evento e não consegue relaxar para dormir, a princípio não deve tomar remédios, pois poderá alterar para pior os seus resultados.

Por outro lado, fica mais fácil se adaptar a um pensamento novo. Evite pensar em situações que geram insegurança. Tente introduzir pensamentos diferentes como as situações vividas ou desejadas de conforto, de bem estar, de alegrias, que auxiliem no controle da ansiedade. Geralmente estes novos pensamentos permitem se desligar dos pensamentos tensos e a aproximação do sono surge novamente.

Neste raciocínio de sono e exercício físico, pode até ser que consiga manipular suas ansiedades e chegar à prática efetiva da corrida, até um ponto de total cansaço; o problema é que daí para diante, ficará cada vez mais difícil e desmotivador continuar a correr.

Pense nisso e tente modificar sua rotina do tão necessário sono noturno. Se você acreditar que é capaz de adicionar algumas horas de sono, aquela soneca à tarde logo depois do almoço poderá ser uma forte aliada.

Durma bem e corra melhor ainda. Você vai se surpreender.

Boas corridas.



(texto publicado na revista Bom Viver nº 4 - outubro de 2013)

Debate sobre a violência: Leandro Karnal, Renato Janine Ribeiro e Jorge Forbes



sábado, 23 de abril de 2016

Não aprendi dizer adeus - Alexandre Nero (uma interpretação bem peculiar)


Festival de besteiras - Flávio Tiné


O Facebook é uma praça virtual, com a opção de desfilar por outras praças do mundo

Entrar no Facebook todos os dias e acompanhar as novidades postadas por amigos e desconhecidos geralmente é uma boa maneira de começar o dia. Não é a mesma coisa que ler os jornais, que já fizeram uma seleção natural dos principais acontecimentos do dia anterior e publicam artigos interessantes, dando uma visão abrangente dos fatos em evidência. O maior inconveniente é acompanhar incidentes que são importantes para quem os denuncia, mas não interessam a quem vive distante do problema.

Buraco na calçada, cachorro desaparecido, menino com doença rara, aniversário, batizado e casamento, tudo isto pode interessar às pessoas envolvidas, como parentes e amigos próximos, mas não ao grande público das redes sociais. É verdade que se consegue agitar qualquer reivindicação por meio dessa nova modalidade de comunicação, mas nem sempre há interesse, especialmente quando essa reivindicação é específica. Recentemente, na segunda semana de dezembro de 2013, dois irmãos de 16 e 17 anos convocaram adolescentes para um encontro no Shopping Center Aricanduva, em São Paulo. Não se pode prever o que irá acontecer com milhares de jovens circulando pelo interior de um centro comercial. No mínimo, correrias, arrastões e saques.

Um dos grandes inconvenientes desse novo hábito é acompanhar um festival de besteiras sem precedentes no rol de ociosidades mais ou menos forçado a que nos submetemos. Já sei, é só desconectar. É só fazer outra coisa. Como se faz com o controle remoto, é só mudar de canal e o problema estará resolvido. Acho que todo mundo já fez isso, para em seguida, horas depois ou no dia seguinte, voltar ao besteirol. Todos os dias leio mensagens de pessoas inteligentes, como o escritor Raimundo Carrero, comunicando a decisão de abandonar o hábito de postar algo em torno de suas atividades, decepcionado com o tal besteirol ou com a atitude de determinadas intervenções. Dia seguinte, reaparece com a informação de um encontro maravilhoso, uma viagem inesperada ou um convite.

Somos obrigados a ler a reler manifestações sobre a cara feia da mulher do presidente dos Estados Unidos porque o marido posou ao lado de uma loira, repetição sobre suposto assassinato de Juscelino Kubitschek, acusações ou insinuações contra tudo e contra todos sem comprovação etc.

O festival de besteiras que assola as redes sociais não tem precedente. Não se sabe se ficar o dia todo debruçado sobre um computador é melhor do que sentar num banco de praça ou passear numa avenida ou num shopping center, que também é muito divertido. O Facebook é uma praça virtual, com a opção de desfilar por outras praças do mundo e a possibilidade de viajar pela pesquisa sem fim. Você faz e desfaz seu festival de besteiras, como lhe aprouver.


(texto publicado na revista Medicina Social nº 225 - ano XXXI - abr/maio/jun de 2014)

Uma doença silenciosa - Amaury Bulock


É necessário que o profissional faça a remoção da placa bacteriana exposta na superfície dentária

Uma das doenças bucais mais comuns que afetam a população atualmente, ocasionada pela má higienização dos dentes, que gradativamente tende a estimular a proliferação das bactérias nesta região, é a gengivite. Os primeiros sinais que podem indicá-la são: sangramento da gengiva durante a escovação, na utilização do fio dental ou até mesmo espontaneamente, deixando a gengiva inchada e com uma vermelhidão ao redor do contorno dos dentes.

Inicialmente a gengivite não é considerada uma doença tão grave, porém, se não for tratada corretamente, pode levar a sérias complicações, evoluindo para algo mais sério, como a periodontite.

De acordo com o dentista Rodrigo Martins, a gengivite é uma doença periodontal em seu estágio inicial, quando há apenas o envolvimento da gengiva, sem comprometimento da região óssea. "Ela tem como principal fator causador a presença da placa bacteriana (película viscosa e incolor, composta de restos alimentares e principalmente bactérias) sobre os dentes e próxima da gengiva, que libera ácidos que, por sua vez, irritam a mucosa gengival causando sua inflamação", esclarece o profissional.

A gengivite causa desconforto e, quando detectada, é necessário recorrer a um especialista que indicará os remédios que auxiliarão no tratamento, que pode variar de acordo com o estágio da doença. Os primeiros passos para o tratamento é a escovação e o uso correto do fio dental. Em seu estágio mais avançado, a bactéria se transforma em um tártaro que só pode ser retirado por um dentista. Se após a realização do tratamento, as recomendações sugeridas pelo profissional não forem seguidas, as placas bacterianas tornarão a se formar novamente e o paciente voltará a ter os mesmos sintomas de antes.

De acordo com o clínico geral da Inpao Dental, José Henrique de Oliveira, se a gengivite não for tratada  corretamente poderá evoluir para uma periodontite, que é o estado mais grave da doença que compromete todos os tecidos de sustentação dos dentes. "No quadro de periodontite ocorrem reabsorção óssea, retração da gengiva, mobilidade, culminando com a perda de dentes", diz Oliveira.

É importante endossar que é preciso adotar cuidado higiênicos bucais redobrados a partir do estágio da gengivite (nível I); a sua continuidade desregular tende a gerar a periodontite (nível II); esta, por sua vez, danifica ossos e fibras de sustentação dentária: em sua evolução depara-se com a periodontite avançada (nível III), quadro irreversível que irá romper fibras e ossos de sustentação dos dentes, resultando na queda destes.

O tratamento é baseado na remoção mecânica da placa bacteriana e do tártaro, os principais causadores da gengivite. Para isso, são realizadas sessões de raspagem, polimento radicular e coronário. Também devem ser seguidas as orientações de uma higienização oral adequada para prevenir as diversas doenças bucais.

"Quando a periodontite está instalada, esses sintomas se intensificam, o mau hálito se torna persistente, o paladar fica alterado e seus dentes parecem mais longos por causa da reabsorção óssea e da retração gengival. Dor é um queixa nem sempre presente nesses pacientes", ressalta a cirurgiã-dentista Adriana Rodrigues.

Ela alerta que o surgimento da gengivite é decorrência de higienização bucal incorreta - isto auxilia o desenvolvimento de bactérias - e uma escovação deve durar, no mínimo dois minutos. "A maioria das pessoas não chega nem perto desse tempo. Deve-se escovar os dentes com movimentos suaves e curtos, nunca esquecer da margem gengival, os dentes posteriores - que são os mais difíceis de alcançar - e as áreas situadas ao redor de restaurações e coroas. Concentrar-se na limpeza de cada setor da boca, inclusive a língua e bochechas, é fundamental", explica a profissional.

Recomenda-se a escovação dentária após as refeições, o uso do fio dental e, prioritariamente, consultas regulares ao dentista que inviabilização o surgimento da gengivite. Vale ressaltar que, se o estágio da doença estiver em um nível avançado, será necessário buscar o auxílio de um tratamento com especialista.



(texto publicado na revista Medicina Social nº 225 - ano XXXI - abr/maio/jun de 2014)

Leandro Karnal (Jornal da Cultura)


Ética, Política e Democracia 1/2 - Leandro Karnal, Mário Sérgio Cortella, Pondé e Dimenstein








quinta-feira, 21 de abril de 2016

Pressão sob controle? - Elisandra Escudero


O homem fica hipertenso, em média, depois dos 35 anos e a mulher após os 40

Considerada um dos mais graves problemas de saúde pública no Brasil e, igualmente nocivo fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, a hipertensão arterial, também conhecida como pressão alta, é a principal responsável pelo aumento de ocorrências de acidente vascular encefálico (derrame) e infarto agudo do miocárdio (ataque cardíaco) - atualmente as duas maiores causas de mortes no País. "A hipertensão é um inimigo bem próximo, que mora dentro de cada indivíduo, e é uma doença silenciosa, porque raramente aparecem sintomas; mas, quando se manifesta, é tarde demais para os chamados órgãos-alvo, como coração, cérebro, rins, vasos arteriais e retina, que acabam sofrendo as consequências diretas do aumento duradouro da pressão", avisa Cibele Rodrigues, professora titular de Nefrologia da PUC-SP, diretora do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Nefrologia e membro da Sociedade Brasileira de Hipertensão.

Todos os dias, passam pelas artérias cerca de cinco litros de sangue. Dentro de vasos saudáveis, essa travessia é tranquila. Mas não para pessoas que sofrem de pressão alta. Nesse grupo, chamado de hipertensos, o sangue viaja apertado. A circunferência interna das artérias diminui e deixa menos espaço para o sangue, que, então começa a pressionar as paredes, deformando-as. A pressão é considerada normal quando os valores são de 120/80 mmHg (12 por 8). Uma pessoa pode ser diagnosticada hipertensa quando os níveis da pressão estão acima de 140/90 mmHg (14 por 9). Estes números, na verdade, representam a força gerada pelo bombeamento do sangue, que é feito pelo coração, e passa pelas artérias. O número maior (12) indica a pressão provocada quando o coração se contrai (sístole) para distribuir o sangue, e o menor (8), quando ele relaxa (diástole). "Estima-se que aproximadamente um terço da população brasileira tenha hipertensão. E, quanto maior a idade, maior a prevalência da pressão alta. Cerca de 60% das pessoas com mais de 65 anos têm a doença", diz Antônio Carlos Bacelar, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

A hipertensão pode ser dividida em dois grupos - primária e secundária. A pressão alta primária, mais comum entre a população, não tem uma causa específica, é considerada multifatorial e envolve, além da genética, raça e o estilo de vida. Já a hipertensão secundária acontece quando existe alguma outra doença envolvida, que leva ao aparecimento da pressão alta, como, por exemplo, apneia do sono, problema na tireoide, diabetes e problemas renais, entre outras, informa Bacelar.

"Nem mesmo as crianças escapam da pressão alta, aproximadamente 5% delas têm o problema e deveriam ser diagnosticadas e tratadas", alerta Rodrigues. Conforme explicam os especialistas, a genética tem alto peso sobre o aparecimento da hipertensão. Portanto, se os pais têm pressão alta, a chance de um filho desenvolver a doença é de 50%. Se apenas um deles tem a doença, a chance diminui para 30%. Negros, por exemplo, têm até duas vezes maias chance de desenvolver pressão alta do que brancos.

Outros fatores responsáveis pelo surgimento e agravamento da hipertensão são: maus hábitos alimentares, como o consumo abusivo de sal e de alimentos industrializados; sedentarismo; estar com sobrepeso ou obesidade; ingestão de bebidas alcoólicas em excesso; uso frequente de descongestionantes nasais, anti-inflamatórios e anticoncepcionais.

Para Bacelar, é preciso combater essa epidemia no País com programas de promoção à saúde e ações de prevenção. "Existe tratamento para a doença com medicamentos, mas o ideal é prevenir-se através de medidas simples, como, por exemplo, manter uma dieta rica em frutas e verduras, com baixo teor de gordura saturada e total. Também é importante a prática de exercícios físicos e o controle do estresse emocional por meio de ioga, meditação ou outro incentivo ao corpo e à mente", diz o especialista.

De acordo com o último levantamento realizado em 2012 pelo Ministério da Saúde, por meio da Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por Inquérito Telefônico), muitas pessoas foram identificadas com pressão alta, mas desconhecem este fato. Os dados apontam ainda que, entre a população que sabe e declara ter a doença, 26,9% são mulheres e 21,3% são homens. Cibele Rodrigues informa que o homem fica hipertenso, em média, depois dos 35 anos e a mulher após os 40 anos, já que os hormônios femininos ajudam a controlar a pressão. Por isso, todo adulto deve medir sua pressão arterial. Se descobrir que é hipertenso, precisa ter acompanhamento médico para o resto da vida.

A doença é crônica, quase sempre não tem cura, mas tem controle e só complica em quem não se trata corretamente. Conforme avisam os especialistas, quem sofre deste mal precisa estar atento, mesmo que não sinta absolutamente nada, e mudar o estilo de vida é tão ou mais importante do que tomar medicamentos, que hoje estão disponíveis na rede pública gratuitamente.

Não deixe a pressão alta enganá-lo. "Conhecer o seu corpo é o primeiro passo para combater este inimigo controlável. Esteja sempre alerta para alguns dos sintomas da hipertensão, como pressão muito forte na região da nuca, tontura e zumbido no ouvido. Visite um médico regularmente e faça os exames de rotina. Cuide-se, afinal não dá para perder o jogo para a pressão alta com armas tão simples e poderosas à nossa disposição", conclui Rodrigues.


Confira 10 dicas para prevenir a hipertensão

1. Caminhe ou faça qualquer atividade física regular.

2. Dê risadas. Muitas!

3. Não é possível mudar a genética, a raça e a idade, mas dá para se livrar daquelas gordurinhas.

4. Deixe o estresse de lado e ame mais!

5. Corte o cigarro.

6. Durma bem e alongue-se antes de sair da cama. Roncos podem ser sinais de alerta, principalmente em obesos.

7. Troque a sobremesa por uma fruta. Se for para comer chocolate, que seja pouco e com alto teor de cacau.

8. Tenha uma alimentação saudável e balanceada!

9. Diminua o sal! Ele incha e retém líquidos.

10. Deixe a bebida alcoólica só para os finais de semana e beba sempre com moderação. Prefira uma taça de vinho tinto, mas só uma por dia.



(texto publicado na revista Medicina Social nº 225 - ano XXXI - abr/maio/jun de 2014)




Impeachment - Leandro Karnal (Jornal da Cultura)


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Diário de vida: passeando pelo centro


Logo de manhã fui à sessão de acupuntura que faço de costume às quartas-feiras. Decidi ir ao convênio de carro e levei uma hora. Se tivesse ido de ônibus teria chegado em 20 minutos. Fui à receita federal ali perto, mas me informaram que para tirar dúvidas sobre o IR de 2016 só na agência no centro da cidade. 

Como sabia que iria caminhar, coloquei o meu querido par de tênis de baixo impacto acompanhado da tornozeleira no pé esquerdo. Demorei para achar a receita federal, mas me lembrava de já ter ido lá, antes de viajar pela primeira vez à Itália no final dos anos 80. Tive a impressão de estar no aeroporto porque temos que colocar a bolsa em uma esteira para um controle, tanto na entrada quanto na saída. 

Fui atendida depois de aproximadamente uma hora e consegui tirar todas as dúvidas. E notei como havia japoneses, ou melhor, descendentes de japoneses na receita federal hoje. 

A propósito, a viagem de ônibus até o centro foi muito interessante porque fiquei conversando com um vizinho que mora na mesma rua (japonês também) e antes tinha batido papo com um outro vizinho (não japonês) enquanto esperávamos no ponto. 

Adquiri um encosto para o banco do carro (o que eu tinha, herdada de meu pai, arrebentou todo depois de mais de 30 anos de uso) e comprei algumas revistas sobre a ditadura militar.Quero entender melhor o processo histórico brasileiro, com certeza influência do professor Leandro Karnal. Antes que me esqueça o dono da banca é japonês também. Antes de tomar o metrô passei em frente a um brechó/sebo e adquiri um livrinho que vem com um disco (compacto simples) com a estória da dama e o vagabundo. Já o tive, mas acabei me desfazendo na época porque o livrinho estava todo rasgado.

Fiquei cansada, mas foi um passeio muito agradável e proveitoso, apesar do calor. 








segunda-feira, 18 de abril de 2016

Meus "profissionais": Homenagem a Marta Aquino, a artista das unhas


A Marta Aquino, a Martinha como todos nós a chamávamos, nos deixou. Fui cliente dela por vários anos, só parei porque ela saiu do salão para trabalhar por conta própria em sua casa que é um pouco mais longe. No início até conseguia ir, mas quando a minha mãe começou a exigir mais a minha atenção, preferi mudar de manicure, aliás mudei também de cabeleireira por uma questão de praticidade, pois assim nós duas poderíamos marcar horário no mesmo lugar. 

Toda vez que fazia as unhas com a Martinha pedia ao João para fotografá-las na livraria e por isso os livros serviam como pano de fundo. 

Obrigada, Martinha, por ter decorado tão lindamente as minhas unhas.

Você vai deixar saudades!!!







Com a Martinha no salão onde nos conhecemos








sábado, 16 de abril de 2016

Daniele Penna intervista HeLLeR


STATO Consultoria - Debate Leandro Karnal, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Ricardo Natale


Andréia Horta está à altura da heroína das onze - Cristina Padiglione


Atriz se encanta ao falar de Joaquina, filha de Tiradentes, e de seus valores no delicado contexto político atual

Mineira como sua nova personagem, Andréia Horta está feliz com o aplique que tem feito a cabeça de Joaquina - "nunca tive cabelos tão compridos", celebra a protagonista da nova novela das onze, Liberdade Liberdade, que entra no ar hoje. Filha de Tiradentes, figura mítica cuja herdeira mal deixou rastros para registros históricos, Joaquina é prato cheio para uma atriz que sabe se valer de técnica e intuição para ocupar as linhas criadas pelo autor. E o autor, Mario Teixeira, já avisa que a trajetória traçada por ele é ficção pura, até porque, diz, "seria muito pouco provável que a herdeira de Tiradentes fosse levada por um fidalgo para crescer na Corte".

O Estado conversou com Andréia em um intervalo de gravações da nova novela, nos Estúdios Globo. Natural de Juiz de Fora, a atriz vestia figurino próprio, mas ostentava cabeleira de sua heroína. Joaquina surge na tela num momento em que o País carece de heróis na vida real. Não que ela espere preencher essa lacuna, ainda que ilusoriamente, mas mostra-se satisfeita em, quem sabe, provocar na plateia um interesse pelas causas daquela mocinha que questiona as liberdades do povo, a exploração e a corrupção vigentes no País. As bandeiras, infelizmente, chegam a ser muito atuais, embora o comando da época fosse ainda da Família Real portuguesa.

"Espero que (a novela) possa trazer alguma reflexão para as pessoas, muitas das nossas reivindicações já vêm daquela época. Ela fica indignada com o que vê quando chega de Portugal, não tolera a exploração, os maus tratos que testemunha com o povo, com escravos, enfim, ela traz as mesmas indignações que levaram o pai à forca", diz.

E ressalta o valor da palavra "justiça". Ela tem uma interpretação muito pura, na essência mesmo, do que é 'Justiça', sabe? Não é um termo relativizado ou tratado dentro de determinado contexto, no entender dela. Tem um significado no seu estado puro, sem contaminação".

A salvação da menina Joaquina, vivida por Mel Maia, logo após a morte de Joaquim da Silva Xavier (Thiago Lacerda) será obra de Raposo (Dalton Vigh), amigo do condenado, que oculta a condição de herdeira do "traidor" da Coroa para criá-la em Portugal. Na volta, ela será chamada por Rosa, para driblar as perseguições ainda latentes em Vila Rica.

Andréia se esmerou em aulas de equitação, tiros e esgrima. "A minha arma é linda, tem um cabo de madeira, é superbonita", derrete-se. Mas, se achava que tiraria de letra o manuseio de tais objetos cênicos, não foi assim tão destemida que ela se viu na hora de colocar a mão no gatilho ou de empunhar espadas. Bateu uma fragilidade, admite. "Descobri que sou mais mulherzinha do que imaginava."

Durante nossa conversa, Andréia escorrega com elegância para um "bocadim" discreto de seu acento mineiro, som que será usado de forma mais que moderada em Liberdade Liberdade, até porque a musicalidade presente naqueles dias era bem mais lusa - o que será evidenciado pela presença do português Ricardo Pereira, o coronel Tolentino.

Para Andréia, o privilégio do ofício, sem igual em qualquer outra profissão, é dar de cara com os sotaques, valores e histórias de um Brasil da Família Real, pouco depois de deixar o set de Elis, o longa-metragem de Hugo Prata, previsto para o segundo semestre. Trafegar entre universos tão distintos em tão curto espaço de tempo não é para qualquer um. Ela se comove ao lembrar de seus dias como Elis. Não se esquivou de cantar em cena, mas espera que o diretor insira no áudio a voz da própria cantora. "Acho que as pessoas vão ver o filme esperando ouvir a voz dela".

Encerrada nossa entrevista, vamos ao prédio de pós-produção, a bordo de um daqueles carrinhos elétricos que você vê no Vídeo Show. Andréia quer dar uma espiada no trabalho de edição da novela. No meio do caminho, passando diante de outro set, avistamos a adorável Rogéria. "Ah, vamos parar um minuto?", ela pede. As duas se abraçam e Rogéria não se cansa de festejar a atriz, a quem admira desde Alice, série da HBO que a lançou na TV. "Linda, linda, não se esqueça: nunca saia de casa sem rezar, porque você é uma es-tre-la", destaca a veterana, em bênção que só as divas conhecem.


(texto publicado no jornal O Estado de São Paulo de 11 de abril de 2016)





Apresentação do elenco da novela das 11, "Liberdade Liberdade"