sexta-feira, 29 de abril de 2016

Amor na rede - Walcyr Carrasco


Estou no Tinder há uns anos. Surpresa! Raramente a aproximação desembocou em sexo ou namoro

O relacionamento pela internet tornou-se comum, mesmo entre pessoas mais velhas. Uma senhora de 40 anos, separada, justificou:

– É bom que assim a gente conversa bastante e conhece a pessoa melhor antes de encontrar.

Conheço casos. Uma amiga de mais de 50 começou a teclar com um senhor de 60 em Portugal. Meses depois, o português veio conhecê-la. Estão morando juntos, numa cidade próxima a Lisboa.

– Nunca pensei que ia casar novamente! – disse ela.

O casal pode bater papo dois anos inteiros, até que se conheça pessoalmente. Um rapaz conheceu seu marido holandês assim. Ele em Fortaleza, o outro em Amsterdã. O holandês, professor universitário, tomou o avião. Casaram-se. E o brasileiro já fala holandês.

Os contatos surgem espontaneamente por várias redes sociais. No Facebook, fala-se mais. O Instagram significa um primeiro olhar, com uma curtida na foto. Há endereços mais imediatos, como o Tinder. Botam-se a foto, idade, preferência sexual, que distância deve haver entre você e a pessoa. Em função desses dados, são selecionadas as fotos. Se alguém é atraente, basta um “sim”. Caso contrário, um “não”. Caso haja coincidências de “sins”, você é avisado: “match”. Se não, a pessoa jamais saberá que você a escolheu. Aí, trocam-se mensagens. Se a intimidade prossegue, parte-se para o WhatsApp. Contatos mais profundos. E a possibilidade de marcar um encontro. Para minha surpresa, na distribuição dos prêmios da Apca (Associação Paulista de Críticos de Arte), uma vencedora, desenhista, linda e jovem, depois de agradecer o prêmio aos parceiros artísticos, revelou:

– Agradeço também ao Tinder. Através dele conheci um cara, com quem saí só uma noite. Mas ele me fez descobrir a vontade de desenhar.

Quando um site de relacionamento é elogiado por uma garota bonita, é que realmente tomou importância.

Digo a verdade. Estou no Tinder há uns anos. Surpresa! Raramente a aproximação desembocou em sexo ou namoro. Fiz, sim, grandes amizades. Vivo em um meio muito específico. Às vezes, é difícil romper barreiras e conhecer gente de outras áreas. Basta no primeiro momento dizer que procuro, realmente, amizade. Outros universos. Quem quer continua o papo. Não sou o único. Há grandes amigos que se conheceram assim.

Roubadas não faltam. Uma amiga de 28 anos conheceu um rapaz de 25. Depois ele revelou que tinha 32. Ela só reclamou da mentira, mas aí ele disse que tinha 44. Quando se encontraram, a surpresa. Era um senhor de 52.

– Fiquei revoltadíssima – ela afirmou.

Não tão revoltada assim. Casaram-se. Já aconteceu com outras. Como a juventude é considerada um bem em si, muita gente mente a idade. Depois que o papo se estabelece, pelas mensagens, é fácil contar que eu ou você estamos um pouco mais despencados do que dissemos inicialmente. Prova que as palavras têm poder. Seduzem. Quem não quer alguém que compreenda seus sentimentos mais íntimos? O resto é depois.

– Levei o maior golpe. O cara vendeu até meu carro – confessou outra amiga divorciada.

Também acontece. Candidatos e candidatas surgem do nada. Podem construir uma história falsa. Falam de amor, enquanto afanam o celular. Há riscos, sim. Mas também há risco em estabelecer contatos numa balada, num barzinho. Há riscos até em festa de formatura! Aconselho: se você está disposto a acabar com sua solidão, marque o primeiro encontro numa praça de alimentação de um shopping. E não dê carona de volta. O primeiro contato exige cautela. Mas não há vergonha em se oferecer num site de relacionamento. Vergonha é estar sozinho e triste.

Há sites que vão diretamente ao vapt- vupt. Buscam pessoas próximas umas das outras. Se há “ma­t­ch”, se falam, e marcam o encontro quase imediatamente. Um vai para a casa do outro, transam. E se despedem, até o próximo match. Também há risco de sofrer um carão. Um amigo gay botou uma foto com ótimos ângulos. O candidato chega, ele abre a porta. E ouve.

– Desculpa aí, mas não vai rolar. Tô indo.

Engana-se quem pensa que esses sites são usados somente pelos gays. O sexo casual tornou-se comum. E a traição faz parte do dia a dia. Um amigo me contou:

– A maior parte das mulheres que aparecem é casada.

Fazer o quê? A internet promove namoro e casamento. Mas também relações rápidas. Se tiver dúvidas, não enlouqueça vigiando o celular de sua parceira. Separe-se. Você sempre pode encontrar alguém. Escolha um site da internet.

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