terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Diário de vida do Hachiko




Ufa, até que enfim a minha humana-filha desgrudou um pouco do computador. Mas ela foi legal comigo e ficou perto de mim na hora dos rojões. Eu simplesmente não suporto esse barulho e todo ano é a mesma coisa. A minha humana-filha fica sempre ao meu lado me  fazendo cafuné e pedindo para eu me acalmar. Será que teria um outro modo de festejar o início de um novo ano? Algo, vamos dizer, menos barulhento, menos assustador? Eu ainda estou com o coração batendo forte, mas já estou me acalmando. E não é só no Ano Novo que isso acontece: em dia de jogo fico estressado também. Sabe, eu não tenho nada contra o futebol, mas acho que vou pedir para a minha humana-filha me dar um calmante porque com a Copa do Mundo aqui no Brasil, vou precisar com certeza.

Bom, agora vou tentar me acalmar para poder dormir ao lado da cama de minha humana-mãe.


Uma lambida e feliz ano novo a todos!!!



Da vida de Hildegarda de Bingen (áudio em alemão e legendas em português)


Bem-aventurado Pier Giorgio Frassati (áudio em italiano e legendas em português)


Perché a scuola non si studia la vera storia del Sud Italia? (Ulisse)


Napoli 1860 - la fine dei Borboni Francesco II Borbone Regno Due Sicilie


Casa Savoia - storia di una dinastia europea


Le grandi biografie della storia - Sigmund Freud


Caterina La Grande (Le grandi biografie)


I 600 giorni di Salò


Il dopoguerra e l'avvento del fascismo (Istituto Luce) - 1915 - 1922


Il regime fascista - 1922 - 1939 (Istituto Luce)


Moscati, o amor que cura (2007) - áudio em italiano e legendas em português


Au revoir, les enfants (1987)


(sottotitoli in portoghese) Concorrenza Sleale - film di Ettore Scola con Diego Abatantuono e Gérard Depardieu (2001)


Uma simples formalidade de Giuseppe Tornatore com Gérard Depardieu (áudio em italiano e legendas em português)


C'eravamo tanto amati - di Ettore Scola con Vittorio Gassman, Nino Manfredi e Stefania Sandrelli (1974)


La cena (1998) - di Ettore Scola con Vittorio Gassman (audio in italiano e sottotitoli in portoghese)


Budismo e Física Quântica (Globo Repórter)


Entrevista com Monja Coen. Respiração Consciente e Coluna Ereta.


Sesshin com a Monja Coen


Bom humor de budista - Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes


Estudos realizados na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, revelaram que regiões cerebrais associadas ao bom humor podem ser mais ativas em adeptos do budismo. Os resultados da pesquisa, realizada com técnicas de imagem e mapeamento neurológico, coincidem com os de uma investigação similar, conduzida por cientistas da Universidade da Califórnia. Eles comprovaram que a meditação afeta o funcionamento da amígdala - um feixe de estruturas interligadas, em forma de amêndoa, acima do tronco cerebral e perto da parte inferior do anel límbico -, envolvida no funcionamento da memória e de emoções como empatia e medo. "A meditação provoca sensações de calma e bem-estar. A hipótese mais racional para esse efeito é a de que há algo na prática consciente do budismo que resulta em felicidade", afirma o professor de psicologia Paul Elkman, que coordenou a pesquisa na Califórnia. Os testes realizados com budistas experientes na Universidade de Wisconsin identificaram elevado grau de atividade nos lobos pré-frontais, região relacionada a emoções positivas, autocontrole e temperamento. Em praticantes do budismo essa área tem atividade constante, associada ao bom humor.



(texto publicado na revista Mente Cérebro nº 174)


Budismo para principiantes - Caco de Paula


A essência da doutrina deixada por Sidarta Gautama baseia-se em uma série de conceitos mais filosóficos, éticos e psicológicos do que religiosos. Aqui estão os princípios deles:

As quatro nobre verdades

Sofrimento - É a característica básica da nossa existência. Tudo é sofrimento: nascimento, doença e morte; encontrar algo não apreciado; não obter o que se deseja; separar-se de algo desejado.

Origem do sofrimento - Sua causa está nos anseios, nos desejos, no apego e na sede de satisfação dos sentidos. Tudo isso prende as pessoas ao ciclo da existência (samsara).

Cessação do sofrimento - Pela eliminação dos desejos e do apego pode-se extinguir o sofrimento.

Caminho que leva à cessação do sofrimento - Para os budistas da linha Theravada, o meio de por fim ao sofrimento é o Nobre Caminho Óctuplo. Para os budistas da linha Mahayana, são as Seis Perfeições.


O nobre caminho óctuplo

1. Compreensão correta, baseada no entendimento das Quatro Nobres Verdades e na consciência de que não existe um "eu" individual: tudo está interligado.

2. Atitude correta, favorável à renúncia e à boa vontade, buscando não prejudicar os seres sensíves.

3. Fala correta: evitar mentir, caluniar e bisbilhotar.

4. Ação correta: evitar, sobretudo, matar, roubar e praticar sexo ilícito (estupro e pedofilia, por exemplo).

5. Modo de vida correto: evitar profissões que causem sofrimento aos outros, como caçador ou fabricante de armas.

6. Esforço correto: pensar antes de agir, cultivando pensamentos, palavras e ações nobres.

7. Atenção correta: percepção contínua do corpo, dos sentimentos e dos objetos de pensamento.

8. Concentração correta: o cultivo de uma mente tranquila, que encontra seu ponto mais elevado na absorção meditativa.


As seis perfeições

1. Generosidade

2. Paciência

3. Ética

4. Esforço entusiástico

5. Concentração

6. Sabedoria


Outros conceitos-chave

Buda provavelmente falava num dialeto chamado maghadi e seus ensinamentos foram registrados na língua páli. Salvo exceções indicadas, os termos a seguir estão na forma como foram transliterados do sânscrito ou na maneira como foram incorporados à língua portuguesa.


Ahimsa - "Não-violência". É a base ética do Budismo.

Anatman - "Não-eu". Para o Budismo, não existe um "eu": cada um de nós é uma soma de várias experiências de vida, em eterna mutação. Ignorar isso é a principal causa do sofrimento.

Arhat - "Santo". Pessoa que atingiu a iluminação quase completa. O ideal do caminho Theravada.

Bhiksu - Monge mendicante que entrou para a vida errante.

Bodhisatva - Ser que aspira à condição de Buda pela prática das seis perfeições e que se compromete a abrir mão do nirvana até que tenha levado todos os seres sensíveis à iluminação. É o ideal do caminho Makayana.

Carma - "Ação". É a lei de causa de efeito que rege o universo. Não significa destino no sentido fatalista, mas sim o que recai sobre cada um como resultado do seu comportamento.

Darma - "Doutrina". O termo Budismo é uma invenção ocidental para o que os budistas chamam de Buda-darma: ensinamento de Buda; lei cósmica; caminho para o nirvana.

Impermanência - Transitoriedade da matéria, do pensamento, do corpo humano e da própria ideia de "eu". Como todas as coisas são impermanentes, nos escapam tão logo tentamos possuí-las. A frustração desse desejo de posse é a causa imediata do sofrimento.

Mahayana - "Grande veículo". É um dos caminhos do Budismo. Inclui a maior parte das escolas existentes.

Lama (tibetano) - 'Ninguém acima'. Significa guru, mestre espiritual.

Nirvana - "Extinção", "apagamento". É a meta da prática espiritual. Não deve ser entendida como aniquilação, mas sim como entrada em outra forma de existência. Psicologicamente, é um estado de grande liberdade e espontaneidade. "O nirvana nos ensina que já somos aquilo que queremos nos tornar", diz o monge vietnamita Thich Nhat Hanh.

Samsara - "Roda do sofrimento". Ciclo que rege a inquieta existência humana e se alimenta de apego, desejos, ódios e ilusão. É nele próprio que se deve procurar sua extinção - ou nirvana.

Sunyata - "Vazio", "vácuo". Conceito segundo o qual todas as coisas - incluindo você, leitor - não contêm essência, apenas aparência.

Tendrel (tibetano) - "Interdependência". Tudo depende de outra coisa. Observador, observação e objeto observado são partes de um só movimento.

Theravada - "À maneira dos anciãos". Uma das principais escolas do Budismo, é a mais trdicionalista.

Vajrayana - "Veículo do diamante". Caminho tântrico e ocultista do Budismo.



(texto publicado na revista Super Interessante nº 174 - março de 2002)
















Dalai Lama é pop - Liane Alves


Nossa repórter o acompanhou em sua visita por aqui e nos conta porque esse homem de aparência frágil é considerado um grande líder espiritual dos nossos tempos

No Aterro do Flamengo, bem em frente ao antigo Hotel Glória, vislumbrei ao longe uma manchinha com vestes cor de vinho correndo em minha direção. Míope e obstinada em não usar óculos, me esforçava para identificar o que eu imaginava ser um monge tibetano chamando meu nome. Levei alguns minutos para conseguir reconhecer Geshe Jamyang, professor de filosofia e monge de quem havia recebido minhas primeiras iniciações budistas. Geshe me acenou feliz e gritou a plenos pulmões as únicas palavras que provavelmente sabia em inglês: "Come to see Dalai Lama! Come, come, come!", disse ele com um enorme sorriso de contentamento.

Na época, era assessora de impresa da Fundação SOS Mata Atlântica e estava no Rio de Janeiro para trabalhar na Eco 92. Portanto, também tinha milhões de coisas para fazer. Porém, ir ver o Dalai Lama era um convite bem provocante. Pensei nos bons ventos que me faziam trombar com Geshe Jamyang. E vi então o folheto da programação: o Dalai Lama falaria a jornalistas e funcionários de ONGs especializadas em meio ambiente dali a 20 minutos. Ora, eu era jornalista. Eu trabalhava numa ONG. O que esperava então?

Já havia visto o Dalai Lama pela primeira vez três dias antes, durante uma recepção num palco ao ar livre onde ele se encontrou com representantes de várias linhagens espirituais. Agora era diferente: ele estaria ali, pertinho, nítido, e eu certamente teria outra impressão. Já estava enlevada pelos mantras quando Sua Santidade entrou na sala de conferências. Houve um murmúrio geral de respeito, e  todos se levantaram. Ele se sentou na minha frente. Alto, musculoso (boa parte dos monges tibetanos pratica musculação), voz potente, postura ereta, um guerreirão. Foi um choque. Não esperava ver tanta virilidade e força num líder religioso. Tinha para mim que a prática religiosa acabava por emascular um praticante muito dedicado. Não parecia ser o caso de Lhamo Dondup, que recebeu o nome de Tenzin Gyatso quando foi reconhecido como líder espiritual e político do povo tibetano. Aos 56 anos de idade, ele parecia um chefe nativo do longínquo País das Neves, como o Tibete é conhecido por seu povo.

Acredito que o impacto de sua presença tenha sido semelhante para todos. Porém, poucos minutos depois, ele desanuviava a plateia que esperava um homem sério, solene e circunspecto. Com uma sucessão de gargalhadas de sonoros ho-ho-hos, e eventuais hi-hi-his marotos quando compartilhava um segredinho entre ele e o público, o Dalai Lama tornou-se imediatamente alguém próximo, um dos nossos. Sua sabedoria jorrava, mas de modo familiar, afetivo, como se ele fosse igual a qualquer um ali, não a emanação viva de Avalokistevara, o Buda da Compaixão, como o budismo tibetano o vê. Considerado um bodisatva, um ser que renuncia ao Nirvana para voltar a encarnar na Terra e ajudar as pessoas, ele cumpria maravilhosamente bem sua missão de dissipar os véus da ignorância humana. Tenzin Gyatso era um gigante da comunicação. Impossível não se encantar com ele. E com a vibrante energia que parecia irradiar do seu coração.

Tenzin Gyatso nasceu em um vilarejo do Tibete e aos 2 anos foi reconhecido como a reencarnação do Dalai Lama anterior, o chefe espiritual e político dos tibetanos. Foi, então, conduzido ao trono, criado num ambiente monástico fechdo, e aos 23 anos foi obrigado a fugir do país com a invasão da China, que considera o Tibete uma das suas províncias. Sua Santidade constituiu um governo no exílio, o budismo tibetano se espalhou pelo mundo e ele recebeu as mais altas honrarias do Ocidente, inclusive o Prêmio Nobel da Paz (1989). Hoje, aos 76 anos, reconhece que os homens de sua geração "estão começando a dizer tchau para esse mundo", como ele revelou ao numeroso público que o acompanhou durante sua quarta visita ao Brasil, em outubro passado.

Mesmo assim, ainda planeja voltar pela quinta vez ao nosso país este ano, exatamente 20 anos depois de sua primeira visita durante a Eco 92, quando o conheci. O Tibete continua sob o poder da China desde 1959, as crianças tibetanas falam sua língua apenas em casa e a capital, Lhassa, virou um lugar turístico para os milhares de visitantes chineses que aportam em sua suntuosa estação de trem, que une umbilicalmente o território tibetano à China numa estrada de ferro de 2 mil quilômetros. A miscigenação entre o povo local e os imigrantes chineses que foram morar no País das Neves nestes últimos 50 anos é incentivada.

Sábio, hoje o Dalai Lama não luta mais pela independência do seu país, mas por sua autonomia como província. Do seu lado, a diplomacia chinesa continua pressionando os países do mundo a não recebê-lo como chefe de Estado e, por isso, sua presença pode causar certo desconforto aos governos ocidentais. Em sua última viagem ao Brasil, por exemplo, seu visto levou cerca de nove meses para ser emitido.

Parte de sua vida se transformou em dois filmes, Kundun e Sete Anos no Tibete. No Brasil, publicou mais de 30 livros, a maioria best-sellers. Ainda hoje, Tenzin Gyatso é um dos líderes mais importantes e influentes do mundo, embora o auge de sua fama tenha ocorrido durante as décadas de 80 e 90. Mas quem é o homem atrás de tão extraordinária trajetória de vida?


No alto das montanhas

"Sou apenas um monge", diz Tenzin Gyatso em muitas entrevistas e palestras. A descrição do seu quarto feita pelo psiquiatra norte-americano Howard Cutler revela um clima monástico de serenidade, estabilidade e beleza espiritual." ... o cômodo era o mesmo de duas décadas atrás, quando eu começara a visitar o Dalai Lama: transmitia a mesma sensação de espaço, de tranquilidade, a mesma sensação de amplitude criada pelas janelas largas, um dos lados voltado para as montanhas cobertas de gelo e o outro voltado para o verdejante vale de Kangra, que descia a grandes profundezas. As iluminuras da deidade Tara, emolduradas em brocados de seda colorida penduradas nas paredes amarelo-pálidas; o mapa em relevo do Tibete, que cobria um das paredes do piso ao teto; e os altares budistas adornados com belas imagens, tigelas, lâmpadas ritualísticas - tudo continuava no lugar de sempre. Mesmo a cadeira estofada do Dalai Lama, e o sofá que combinava com ela, no qual eu estava sentado, ambos dispostos ao redor de uma mesinha de centro laqueada de vermelho-carmim, pareciam os mesmos." Cutler dividiu com o Dalai lama a autoria do livro A Arte da Felicidade em um Mundo Conturbado.

Práticas como a meditação e o distanciamento das emoções destrutivas (ódio, raiva, ciúmes, cobiça, inveja...) consolidaram, com o correr dos anos,  força de um homem inabalável. Na última visita que fez ao Brasil, ele falou da importância de se opor, com firmeza, com quem não concordamos (como ele próprio se opõe à política externa da China), mas sem ódio, e com muita compaixão. Dalai Lama acredita na bondade humana inerente ao coração dos homens, e que ela sempre pode prevalecer numa disputa. "Ainda que um punhado de seres humanos seja capaz de cometer atos como os do World Trade Center, continuo acreditando que somos essencialmente bons, na medida em que nossa natureza é pacífica, não violenta", disse ele a Cutler e em inúmeros dos seus livros. Talvez por isso tenha se dedicado a falar tanto sobre as emoções destrutivas durante sua vida. Hoje, ele também as chama de emoções distrativas - pois elas nos desviam do momento presente, o único que pode nos trazer felicidade, e do contato com nossa natureza genuína.


Um líder pop


Outro detalhe revelador de sua vida: a sua completa abertura o mundo moderno. Isso é bem visível em filmes como Kundun e Sete Anos no Tibete. Lá está o jovem Tenzin interessado em saber o mecanismo do relógio, o funcionamento das lunetas, da janela que abre e fecha automaticamente no carro, ou em querer conhecer os mapas da Europa ou como se vive em outros países. Foi também ele que se interessou pela relação entre a meditação e a atividade do córtex cerebral, abrindo um imenso campo de pesquisas sobre os efeitos da prática meditativa no ser humano.

Poderíamos ficar horas por aqui falando das inúmeras qualidades do Dalai Lama. Porém, a que causa mais impacto, e que me deixou surpresa no momento em que o vi, é sua profunda humanidade. Estava diante de um homem, na verdadeira e mais sublime acepção da palavra. "Quando me relaciono com alguém, quer seja um presidente ou um importante empresário, quer seja uma pessoa comum, um mendigo ou um aidético, o que nos permite formar uma ligação imediata é nossa humanidade comum", disse o Dalai Lama. "É por isso que me permite sentir uma profunda ligação com os outros. Esse é o segredo."

Em seu jeito sincero e humilde, ele nos diz que somos iguais. Trata as pessoas com carinho, respeito e dignidade brinca com os jornalistas, inclina-se generoso para quem pede ajuda, sorri para quem tem lágrimas nos olhos. No budismo chinês, diz-se que o nome da deidade da compaixão, Kuan Yin, quer dizer "aquele que ouve os lamentos do mundo". Como emanação de um Buda compassivo, Tenzin Gyatso parece estar no mundo para ouvir seus lamentos e confortar os corações.




(texto publicado na revista Vida Simples nº 114 - janeiro de 2012)














segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Diário de vida: peregrinação pelos sebos de Pinheiros


Hoje fui ao banco de manhã e aproveitei para fazer as últimas compras de casa para passar o último dia do ano sossegada e sem compromissos. Quando estava na frutaria o celular tocou: era o João, que estava com vontade de ir ao centro para uma nova peregrinação. Como a loja em que ele queria ir fecharia cedo, sugeri que fôssemos visitar alguns sebos, mas em Pinheiros. Foi como voltar para a minha juventude pois estudei 7 anos nesse bairro e tenho boas recordações. Como da outra vez o João queria encontrar material relacionado ao Titanic, mas acabou encontrando também itens do Harry Potter. Não foi a lambança da outra vez, mas ele adquiriu alguns livros bem interessantes para a sua coleção. Da minha parte, peguei só 2 DVDs em oferta e o 3º volume dos "Cinquenta tons" em italiano. 

Antes de começar a visitar as livrarias passamos pela escola em que estudei e o João me tirou uma foto na frente da estátua do Fernão Dias e também da enorme mamadi que estava no jardim do estabelecimento. 





Um pouco antes de fazer as fotos uma coisa quente e verde caiu em meu braço, presentinho de uma pomba. Lembrei-me imediatamente de um episódio semelhante que me aconteceu em Padova (Pádua) em minha primeira viagem à Itália. Só que a cor da coisa quente era mais escura. E daquela vez me trouxe sorte porque nem bem cheguei ao Brasil, fiquei sabendo que tinha ganhado uma bolsa e menos de um mês depois voltei à Itália. Espero que seja sinal de bom augúrio dessa vez também!!! 

Pra variar o João se arrependeu por não ter comprado alguns itens, mas com certeza voltará para pegá-los assim que puder. 

Foi muito interessante passear pelo bairro e constatar as mudanças, principalmente de lojas que não existem mais. Mas o fato mais marcante aconteceu quando entramos na Fradique Coutinho e sentimos a energia deliciosa dessa rua. Parecia que estávamos em outro mundo. Nós dois ficamos surpresos com essa sensação que foi muito forte. 

Foi mais uma pequena viagem à Itália que fizemos hoje, apesar do João ter gastado pouco e não ter encontrado tudo que queria. Mas sebos é o que não faltam em Sampa. E estamos só começando a conhecê-los.







Kitto e a aura - Moisés Esagüi


Kitto e o duplo etérico - Moisés Esagüi


Kitto e o cordão de prata - Moisés Esagüi


Rugas de expressão (Crystal Espaço Terapêutico)


Indicada para prevenir e atenuar marcas de expressão, promover o relaxamento e a tonificação dos músculos da face. Ajuda a combater o estresse, fadiga, as tensões físicas e emocionais.

Através da exploração das zonas faciais, os desequilíbrios do corpo de energia estagnada pode ser detectados. A terapia envolve uma série de técnicas, incluindo a estimulação dos pontos utilizados pela acupuntura e as zonas de meridianos, pontos e zonas do crânio, bem como combinações de pontos específicos dos nervos, escolhidos a partir de 564 pontos identificados no rosto.

A estimulação dos nervos faciais proporciona um caminho de comandos estimuladores cerebrais. Essa técnica trabalha muito eficazmente no sistema nervoso central, não tem contra indicações.



Kitto e a primeira projeção astral - Moisés Esagüi


domingo, 29 de dezembro de 2013

Entrevista com Mario Sergio Cortella (Hora da Coruja - Just TV)





Montaigne e a Auto Estima (Legendado) - Filosofia: Um Guia Para a Felicidade


Qual o filme da sua vida? - André Gravatá


Qualquer história (a de um amigo, a da sua tia, a sua, por que não?) dá um belo longa-metragem. Tudo depende da maneira como olhamos para nossa rotina. E ao fazer esse exercício a vida pode ganhar outro significado... Mais alegre, mais generoso. Experimente!

Uma parte da família da jornalista Eliane Brum mora na zona rural. Quando criança, ela passava os fins de semana por lá. A pequena Eliane brincava o dia inteiro de ser escutadeira e olhadeira: ela se sentava num banquinho e ouvia as histórias dos adultos por horas e horas, sem se cansar. Infiltrava seus ouvidos nas conversas e varria os olhares alheios com suas pestanas. Ela amava - e ainda ama - se deixar preencher pelo extraordinário que habita as pessoas. Que habita gente como você. Sim, não só a vida das pessoas ao seu redor, mas também a sua vale uma espiada atenta. Do momento em que você nasceu até hoje, passou-se uma trama complexa, cheia de idas e vindas. A amálgama das suas diferentes lembranças é um tesouro, um argumento para um filme nunca feito, de múltiplos enredos. Uma narrativa única, articulada com os registros que resistiram ao esquecimento.

Observar a vida com um olhar generoso é perceber a singularidade da própria história. É exercitar um olhar insubordinado, ressignificar o que usualmente é tachado de banal. "Nada é mais transformador que nos percebermos extraordinários - e não ordinários como toda a miopia do mundo nos leva a crer", afirma Eliane Brum em seu livro A Vida que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial). A partir do momento em que desconfiamos da banalidade, começamos a perceber que a vida real é tão interessante quanto a ficção.


Casamento entre realidade e ficção

Toda história tem conteúdo suficiente para trilogias de horas e horas. E a vida dilui as fronteiras entre comédia e tragédia, terror e animação. No cotidiano, o gêneros se mesclam, se intercalam, não há pausas. Se hoje seu dia se pareceu com um dos dramas psicológicos do diretor de cinema Lars von Trier, sempre impregnados de melancolia, quem sabe os acontecimentos de amanhã serão engraçados e absurdos como as comédias do ator e diretor Woody Allen. Se uma vida inteira fosse filmada, ela se pareceria com esses filmes de vanguarda, cheios de fragmentos, ora com cortes abruptos, ora com panorâmicas delicadas.

A vida de todas as pessoas é uma narrativa. Existimos na narrativa, como histórias inventadas, contadas e recontadas. "Realidade e ficção não se opõem. As ficções não param de fecundar a realidade e a realidade não deixa nunca de ser uma ficção em construção", disse a um jornal o argeliano Grégoire Bouillier, que vive e trabalha em Paris, autor de livros como Rapport sur Moi (sem tradução para o português), no qual narra todas as suas experiências até os 40 anos. A realidade se assemelha muito à ficção. Para nós, não há acontecimentos puros, apenas a interpretação e reinvenção dos fatos. "A chamada realidade é uma construção subjetiva", explica Paulo Albertini, professor do Instituto de Psicologia da USP. O fim de um namoro, por exemplo, é o fim do mundo para uns e a liberdade para outros.

O modo como percebemos nossa ficção - e a dos outros - vai sendo sutilmente construído ao longo dos anos, nas entrelinhas das vivências, no implícito das relações. Quando nos noticiários dizem que as pessoas (supostamente) comuns não são notícia, que só quando o dono morde o cão - e não quando o cão morde o dono - é que há uma manchete, de certa forma eles endossam a ideia de que a história da maioria das pessoas não é interessante o suficiente para ser contada. Quando algum amigo começa a contar sua história numa mesa de bar e nem todos dão a atenção devida, também se alimenta a banalização dos filmes alheios. E aí o interesse de muitos migra para heróis mirabolantes e celebridades com existências transtornadas, de quem não se conhece nem o básico, apenas a capa. Quando o limite das aparências superficiais é ultrapassado, as histórias vêm à tona e o extraordinário salta aos olhos. Isso vale tanto para famosos quanto para anônimos.


Acontecimentos únicos

Todas as histórias de vida são igualmente importantes no Museu da Pessoa. A instituição nasceu em 1991, com o objetivo de preservar memórias. A técnica usada: rebobinamento de lembranças. Dois dias por semana, pesquisadores se postam em frente a diversos personagens (gente como a gente) e os escutam por horas seguidas. O acervo é monumental, já foram recolhidos mais de 14 mil depoimentos e 72 mil fotos e documentos. O arquivo está quase integralmente disponível no site do projeto: há videos, áudios e transcrições das entrevistas, narrativas dos mais variados cantos do Brasil.

Há histórias como a da professora Benedita Pereira, que, quando perguntou para a mãe de onde ela veio, ouviu o seguinte: "Uma chuva forte caiu, a enxurrada veio, e eu peguei você". "Cada chuva que tinha, eu via minha vida começando ali, na enxurrada", comentou Benedita. Francisco Edmísio, outro dos entrevistados, levou um morador de rua para viver em sua casa. Depois levou outro, e outro, até que abrigou dezenas de pessoas. Homem simples, história fabulosa. Qualquer um pode agendar uma visita ou uma entrevista no espaço físico do museu, localizado em São Paulo. Além das entrevistas realizadas na sede da instituição, o Museu da Pessoa também desenvolve outros projetos, por meio dos quais a instituição vai até as histórias. Mais de 40 livros foram publicados, com depoimentos diversos, memórias de homens e mulheres ligadas ao comércio no Rio de Janeiro, depoimentos sobre profissões em extinção, de funcionários de empresas, crianças, escritores, professores, entre outros.

A fundadora do museu, Karen Worcman, desde pequena sentava na areia das praias do Rio de Janeiro á espreita de histórias, ao lado de desconhecidos. A ideia do Museu da Pessoa nasceu mais tarde, enquanto ainda estava na universidade, desenvolvendo um projeto sobre a imigração de judeus na capital carioca. Karen se encantou pelos 90 depoimentos que ouviu durante a pesquisa, de homens e mulheres que passaram pelos campos de concentração e ainda traziam consigo memórias muitíssimo vivas. "Fiquei fascinada com o jeito particular de cada um ver o mundo", diz.

Perceber que tanto sua rotina quanto a do outro rendem uma ótima narrativa implica o entendimento de que nenhuma vida merece menos atenção. Reconhecer o especial em você, não de maneira egocentrista, mas generosa, instiga um interesse pela riqueza de detalhes de todos os filmes anônimos que andam por aí, em cartaz o tempo inteiro. Quando começou a escrever uma coluna com histórias de desconhecidos no Zero Hora, o maior jornal do Rio Grande do Sul, no fim da década de 1990, a jornalista Eliane Brum, citada no comecinho desse texto, tentou desafiar o problema de vista que as camadas de rotina e frustrações nos geram. Na coluna foram retratadas histórias como a do carregador de malas que sonhava em andar de avião e a dos senhores num asilo que viviam lado a lado mas não sabiam nem mesmo o nome uns dos outros.

Tais relatos fantásticos, à la Luís Buñuel (cineasta espanhol, que morou no México), estão por toda parte. Inclusive em Eliane. Sua serenidade nem denuncia a epopeia que ela viveu. Aos 15 anos, a jovem porto-alegrense engravidou. Quando teve a filha, tomou uma decisão que mudou sua história radicalmente: fugiu de casa, sem o bebê, que ficou aos cuidados dos pais, e foi estudar. Um ato de insanidade lúcida. Hoje Eliane é uma jornalista premiada e tem uma boa relação com a filha. Tantos percalços e escolhas decisivas nas narrativas pessoais ilustram outro dos motivos que fazem as vidas valerem filmes: a trajetória de cada indivíduo se assemelha às jornadas dos heróis mitológicos.


O valor da jornada

O mitológico Joseph Campbell encontrou vários pontos em comum entre mitos e contos folclóricos de diferentes culturas. A trajetória do herói se repete de maneira bastante similar em histórias de povos totalmente diferentes. Invariavelmente, a aventura do herói começa com um chamado ao desconhecido. Passa por uma fase problemática, na qual ele é engolido por uma situação difícil, vai parar no fundo do poço, no ventre da baleia. Após momentos de tensão, vem o renascimento. E então há o retorno. O herói volta para o lugar de onde saiu, mas volta diferente, ele não é mais o mesmo. Muitas das fases da típica jornada do herói são identificáveis na trajetória humana, inclusive na sua.

A principal semelhança entre o herói mitológico e o terreno está no fato de que ambos vivem um processo de morte e renascimento, uma morte metafórica, que muda a maneira como vemos o que está ao redor. Falo aqui da faceta não idealizada dos heróis, daquela que não anula medos e dificuldades. Por isso, também é heroico ser poeta e ao mesmo tempo morador de rua, por exemplo. Andando por São Paulo com uma amiga, encontrei o poeta Raimundo. Vive descalço, sujo, mora num pedaço de terra entre ruas com mansões. Raimundo considera que a química, a eletrônica e a psiquiatria são o futuro do mundo, afirma isso com a certeza de um acadêmico. Não aceita falar sobre o passado e data seus poemas de uma maneira nada usual. O poema que ganhei de presente, sobre aeroportos, foi escrito no dia 2/08/1999+13. Ao falar, ele não olhava no meu olho. Sempre atento ao papel, continuava escrevendo suas letras duras.

Assim como muitos personagens mitológicos, Raimundo foi parar no ventre da baleia. Compará-lo com um herói não é alçá-lo a um púlpito só por sua situação difícil, mas reconhecer o valor da sua história - e até os heróis mais badalados, como Homem-Aranha e Super-Homem, só têm graça devido às suas biografias demasiado humanas, cheias de altos e baixos, amores e desamores. E depois do reconhecimento do valor das histórias, há um passo ainda mais importante.


A vida como obra de arte

No filme Sinédoque, Nova York, dirigido pelo norte-americano Charlie Kaufman, um diretor de teatro ganha um prêmio milionário para desenvolver um trabalho artístico. O personagem principal, Caden Cotard, começa uma obra ousada: monta a peça de teatro da sua vida, recria seu mundo em detalhes, com dezenas de atores trabalhando exaustivamente na representação de cada um dos momentos do seu cotidiano. Não há figurantes nessa peça, porque o cotidiano dos amigos de Caden também é encenado. Tenta-se criar a cópia fiel da vida, de várias vidas. No decorrer do filme, e da peça, os personagens vão assumindo seus papéis com mais autenticidade. Sinédoque, afinal conta a história de pessoas em busca da autoria de suas vidas.

"A vida deve ser pensada, querida e desejada tal como um artista deseja e cria sua obra, ao empregar toda a sua energia para produzir um objeto único", explica a professora Rosa Dias, no livro Nietzsche, Vida como Obra de Arte (Civilização Brasileira). A autoria de si mesmo é algo impossível de conquistar por completo, apenas parcialmente, aos poucos, numa busca que demanda coragem e curiosidade. Enquanto andava por Nova York à procura de anônimos, na década de 60, o jornalista Gay Talese encontrou uma dessas pessoas que provam como é possível uma vida mais autoral. Um dos bilheteiros do metrô da cidade mais populosa dos EUA é uma dessas figuras que transformam o drama da vida em animação.

Na frente da sua cabine, o bilheteiro pregou a seguinte mensagem: "Por favor, sorria. Este trabalho já é duro demais". Com um simples cartaz, ele fazia as pessoas mudarem de humor. Também dava bom dia para todos e até emprestava bilhetes para quem esquecia o dinheiro. Mais que reconhecer que a vida vale um filme, o bilheteiro de Nova York considerou que o filme de sua existência também merecia uma edição bem feita - e generosa. Se essa história fosse para o cinema, muitos duvidariam de que ela é real. Se a sua história fosse para o cinema, provavelmente isso também aconteceria. De perto, o comum é incomum, novo. Então que tal pegar um banquinho e dar uma de escutador, de escutadeira, de olhador, de olhadeira? De escutador do seu filme, e também do dos outros. A vida lhe parecerá bem mais interessante. Cheia de ação! Com tantos longa-metragens ambulantes no cotidiano e no espelho, é até capaz que você diminua suas idas ao cinema.



(texto publicado na revista Vida Simples nº 114 - Janeiro de 2012)

























Museu da Pessoa (Vitrine)


Diário de vida do Hachiko




Vendo a minha humana postando tantas coisas no blog, decidi fazer a mesma coisa. Tenho duas humanas e para facilitar vou chamá-las, humana-mãe e humana-filha. 

Eu me chamo Hachiko, tenho 14 anos, sou um vira-lata marrom, que a minha humana-mãe trouxe para casa dentro de uma caixa de papelão. A minha humana-filha estava ao telefone quando eu cheguei e enquanto continuava a conversar me pegou no colo. Já havia um outro cão em casa, o Fofinho, meu meio irmão, com quem convivi por 12 anos. Nós ficávamos o tempo todo no quintal, isto é, fora de casa, mas quando o Fofinho morreu, as minhas humanas deixaram que eu ficasse na cozinha, até que aos pouquinhos fui ganhando terreno e agora fico o tempo todo dentro de casa e durmo no quarto da minha humana-mãe. E onde ela vai eu vou atrás. Não desgrudo dela um minuto sequer. Tenho muito ciúmes da minha humana-mãe, que geralmente fica no quarto ou na sala. A minha humana-filha fica mais na sala grudada naquele computador dela!!! E toda hora vou lá encher o saco dela para que ela vá a cozinha. Gosto muito que elas fiquem juntas no mesmo lugar, daí posso tomar conta melhor das duas. 


Bom, já fiquei muito tempo longe da minha humana-mãe. Por enquanto é só isso!!!


Uma lambida para vocês.














Diário de vida: A vida secreta de Walter Mitty


Ontem a Cristal e eu fomos assistir ao filme A vida secreta de Walter Mitty no Frei Caneca. Fazia tempo que não íamos ao cinema. O interessante (a sincronicidade atacou mais uma vez!!) é que eu estava pensando nisso quando a Cristal me convidou. Temos falado muito de autoconhecimento, ido a palestras, papo cabeça, mas temos vivido muito na virtualidade também e estávamos sentindo falta do mundo real. Gostamos muito de ir ao Frei Caneca porque exibe filmes comerciais,  mas também filmes nacionais e estrangeiros em outros idiomas além do inglês.

Sinopse: Walter Mitty (Ben Stiller) é o diretor de fotografia da revista Life, mas o seu cargo, como da maioria de seus colegas, está para ser extinto porque a publicação passará a ser online e não mais em papel. Walter é um homem muito comum que sonha o tempo todo que é um super herói principalmente para a sua colega de trabalho, Cheryl, cadastrada como ele no site de relacionamentos eharmony. Tudo muda quando ele não encontra um negativo (o de nº 25) que tinha sido mandado pelo fotógrafo Sean O'Connell (Sean Penn). Como Walter nunca perdeu um único negativo em toda a sua carreira, a procura pelo nº 25 que seria usado para fazer a última capa da revista era uma questão de honra. E assim começa a sua aventura por lugares nunca antes imaginados por ele: Groenlândia, Islândia, Himalaias e Afeganistão.


Trailer legendado em português


Trailer dublado em italiano


Trailer do filme realizado em 1947 e estrelado por Danny Kaye (sem legendas)


Comentários:

Dirigido e estrelado por Ben Stiller, A vida secreta de Walter Mitty foi levemente baseado no filme de 1947, com Danny Kaye no papel título. 

À medida que fui assistindo ao filme percebi que não se tratava de um simples entretenimento, mas de um enredo que contaria a viagem espiritual de um personagem com uma vida comum e rotineira, sem graça na verdade. A busca do negativo nº 25 foi só o impulso que Walter precisava para "viver a sua vida". 

Para conseguir encontrar o fotógrafo Sean O'Connell, Walter vai parar na Groenlândia, depois vai para Islândia, segue para os Himalaias e Afeganistão. Para conseguir entrar em seu próprio país, acaba tendo que recorrer à ajuda do funcionário da eharmony

Walter passou por todos esses lugares porque quando chegava a um local onde achava que Sean estaria, era informado que ele já tinha partido. Quando ele achou uma carteira que Sean tinha deixado, não lhe deu muita importância acabou jogando-a fora. 

Apesar de ter uma vida monótona e sem graça, Walter era bom no skate e ensinou o filho de Cheryl, a sua colega de trabalho, a usá-lo bem e durante as suas viagens para encontrar o fotógrafo esse veículo lhe foi muito útil. 

Para concluir, adivinhem onde estava o tal negativo? Na carteira, que felizmente a mãe dele, interpretada pela veterana Shirley MacLaine,  resgatou do lixo. E quando o negativo é revelado, quem aparece na foto? Exato: Walter Mitty. 

Analisando o filme, dá para concluir que a mãe de Walter e Sean arquitetaram tudo para que a viagem espiritual acontecesse. E o fato do protagonista trabalhar com negativos e a revista se chamar Life não é simples acaso.

Como devem ter notado, gosto muito de cinema e mesmo me propondo a assistir tranquilamente a um filme, o processo de autoconhecimento me impulsiona a tirar sempre uma lição de cada um deles.
































Não chore pelo leite derramado - Liane Alves


As escolhas que temos de aprender a fazer para não nos arrependermos depois. E, assim, aproveitar a vida com plenitude

Era a terceira caixa de bombons que chegava à mesa de Ana Tereza nas duas últimas semanas. O bilhetinho era quase sempre o mesmo, uma letra graúda falando de amor e esperança, que invariavelmente ganhava desprezo de sua parte. Não lhe atingiam o coração também os pequenos presentes do moço, os convites para almoço e jantar. Ana Tereza se recusava a encontrar qualquer qualidade mais palpitante naquele homem de belo sorriso que há dois meses declarava intensamente sua paixão de todas as formas possíveis. Os motivos para tal nariz empinado eram muitos, segundo sua opinião: ele tinha sotaque do interior, não se vestia bem, era sovina, e, o pior, suava muito. A melhor amiga ainda sugeriu que Tereza desse uma chance para ele. Mas ela não quis nem saber. Mais três semanas se passaram e o cavalheiro recuou, em silêncio. No mês seguinte, apareceu ao lado de uma das mulheres mais bonitas do escritório. Os dois estavam namorando.

Ana tomou-se de um arrependimento mortal. Afinal, até que ele não era tão ruim assim (lembrou-se logo do sorriso). Também tinha chances de promoção, bom profissional que era. E deu para cantar em italiano numa voz afinadíssima perto da outra. Resultado: um mês depois, ela estava perdidamente apaixonada pelo ser anteriormente desprezível e arrasada. A amiga nem podia mais tocar no assunto.

Essa historinha (sem sobrenomes, por favor) foi contada na redação quando se discutia o tema da edição que você lê agora. Ela fala de forma singela dos arrependimentos cotidianos e reais da vida. Todos nós nos lembramos de coisas parecidas, um hobby adorado que foi abandonado sem motivo, uma viagem muito desejada que não aconteceu ou um afeto que não foi expressado no seu tempo justo.

Como a maioria daquilo de que nos arrependemos, essas histórias não resistem a uma análise mais apurada. "Muitos são falsos arrependimentos, pois toda escolha inclui uma perda. Perde-se de um lado, mas ganha-se de outro. Lamenta-se a perda sem considerar o ganho que, inclusive, pode não ser imediato nem aparente, mas que depois revela-se muito maior", diz a psicóloga paulista Ineide Soares, especialista em terapia familiar e bioenergética. e, se o que perdemos for melhor do que o que ganhamos, isso também faz parte do jogo. Tudo bem, de vez em quando acontece, é normal. "O problema é que tem gente que odeia perder. Importa-se muito com que o outro tem e conseguiu, mesmo que não seja de seu interesse pessoal real", diz Ineide. Também há os que desejam tudo para si, sem querer abrir mão de nada. "Querem ganhar sempre e não se arrepender nunca de nenhuma decisão. Ora, isso é pouco humano, uma fantasia infantil de onipotência."

São as más experiências e as perdas, quando admitidas plenamente e saboreadas em seu gosto amargo, que nos ensinam a viver. Elas nos tornam mais humanos, falíveis, flexíveis. É desse ponto frágil que podemos experimentar a compaixão por outros seres que perdem, e que sofrem as dores do esgarçamento da alma por isso. Conhecemos o gosto de sua aflição e podemos ser solidários com conhecimento de causa. O ganho dessa fraternidade em humanidade, dessa possibilidade de compaixão pelo outro com base em nossa própria existência, já seria suficiente para absorver muitos de nossos erros e incompreensões do passado.


Nada de julgamentos

Outro erro frequente: não se pode julgar uma decisão do passado com os olhos do presente. O que foi decidido baseou-se no nível de consciência que se tinha na ocasião. Todos nós, se tivéssemos o olhar que temos hoje de alguns desvios de rota que fizemos no passado, seria pouco provável que nos perdêssemos neles. Mas nos esquecemos disso, geralmente por causa do peso da culpa. "A culpa e o perfeccionismo são as duas piores doenças da alma", diz o monge inglês dom Laurence Freeman, presidente da Comunidade Mundial de Meditação Cristã. Em outras palavras, nós nos cobramos por uma perfeição que não existe na espécie humana. "A palavra arrependimento, em grego, é metanoia, que quer dizer apenas 'mudança de direção'. Erramos, admitimos o erro, procuramos remediá-lo e mudamos de caminho. Só isso", diz dom Laurence. É um longo aprendizado aprender a lidar com o erro de uma maneira firme, mas sem peso. Dom Laurence aconselha a prática da meditação e momentos de silêncio para acalmar o espírito e nos descondicionar da culpa.

Médica geriatra do setor de atendimento de doentes terminais do Hospital das Clínicas e uma das criadoras do serviço de cuidados paliativos do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, Ana Cláudia Arantes já viu muitos casos em que a culpa e o arrependimento paralisaram processo de aceitação e pacificação diante da morte. Dona Josefa, sua querida paciente de 92 anos, por exemplo, andava inquieta com seu passado e tinha medo de enfrentar "o julgamento de Deus". Foi preciso uma longa conversa para que a anciã pudesse se sentir digna do perdão divino. Mesmo assim, esse reconhecimento não foi imediato e só aconteceu após uma profunda reflexão. "Alguns dias depois, dona Josefa me disse: "Sabe, doutora, existem duas coisas na vida que mostram a justiça de Deus. Uma é a chuva. Chove para todos, em qualquer lugar, a qualquer hora. A outra é a morte". E, se o Criador era tão justo com as principais coisas da vida, porque não seria também na distribuição do seu perdão? Dona Josefa morreu após alguns dias com o coração aliviado. "Acordei no meio da madrugada com o barulho da chuva. E imediatamente pensei: dona Josefa morreu agora, junto com a chuva. Telefonei para o hospital e me confirmaram a morte dela."


Os cinco maiores arrependimentos

Uma enfermeira americana, Bronnie Ware, escreveu um livro que poderia ser traduzido como "Os cinco principais arrependimentos dos pacientes terminais" (The Five Tops Regrets of Dying). "A última impressão da vida é a que fica marcada no espírito. Seria muito bom que ela não fosse de pesar e arrependimento", diz ela. Por isso, nesse momento é importante não julgar a vida apenas pelo viés do prazer, porque sempre vamos ter a sensação de que não nos divertimos o suficiente e não a aproveitamos totalmente. "Na verdade, a vida é muito curta, e o tempo que sentimos que vivemos com mais intensidade e prazer é pouco mesmo. A maior parte dela transcorre no tempo ordinário, comum", diz a médica geriatra Ana Cláudia. Esse é o normal. "Viver é fazer escolhas, e algumas delas incluem abrir mão do prazer imediato. Para ser amados e aceitos, ou por amar mais aos outros que a nós mesmos, muitas vezes fazemos grandes sacrifícios", complementa.

A questão real é que muitas vezes isso é feito condicionalmente, como uma espécie de troca. Nós nos sacrificamos pelos outros, mas achamos que eles nos devem na mesma proporção. Quando não há reconhecimento e mesmo o sacrifício não é aceito, é comum a pessoa se arrepender amargamente. Se um pai lutou para colocar o filho na faculdade, que decidiu sair no quarto ano de engenharia para ser mágico, ele pode sentir um grande arrependimento perto da morte. "Não podemos decidir pelos outros. Eles têm todo o direito de não concordar com aquilo que julgamos ser bom para eles", diz com clareza Ana Cláudia. Por isso, ser mais fiel a si mesmo e só fazer sacrifícios de forma incondicional pode ser um bom norte para não se lamentar mais tarde. Aliás, o desejo de viver uma vida mais verdadeira e não a vida que outros esperam de nós é o primeiro grande arrependimento dos cinco elencados pela enfermeira americana.

Os outros quatro arrependimentos ("eu gostaria de não ter trabalhado tanto", "eu queria ter tido mais coragem para expressar meus sentimentos", "eu desejaria ter tido mais contato com meus amigos" e "eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz") são outras boas indicações de mudanças que podem ser feitas durante a vida, sem precisar chegar ao seu fim para se arrepender. "A morte é boa conselheira, mas podemos mudar sem a necessidade de estarmos diante dela", diz a médica Ana Cláudia. "Podemos procurar um trabalho que nos satisfaça mais, para não sentir que perdemos tanto tempo sem ter prazer. Ou estar mais perto dos amigos, expressar mais sentimentos. Uma pessoa próxima à morte pode se tornar muito mais doce e carinhosa, mas é possível fazer isso na vida antes com quem amamos, sem ter de esperar o desenlace", comenta a médica.

O último dos quatro, a vontade de ter se deixado ser mais feliz, resume um pouco todos os outros. "Acredito que cada um venha nessa vida para cumprir um papel. É importante saber qual é sua missão no mundo, nas suas relações, e tentar realizá-la com todas as suas forças" afirma a médica. "Acho que as pessoas que mais se arrependem são as que tiveram a chance de mudar e não mudaram", finaliza.


Montaigne e a arte de viver

Ele era um magistrado na cidade francesa de Bordeaux, tinha um castelo e, na sua propriedade, muitos vinhedos. Mas o que um rico burguês que nasceu há 480 anos poderia dizer ao homem atual? Montaigne era muito moderno. Os Ensaios, uma obra que escreveu durante 20 anos, são uma espécie de blog do século 16 e falam essencialmente sobre a arte de viver. Em seus escritos de pode reconhecer os mesmos conflitos e reflexões que nos habitam hoje. E sua extensa obra responde a uma só pergunta: como viver de maneira a não se arrepender depois? Michel Montaigne nos ensina a ter uma existência significativa, digna e correta sem perder o prazer de viver. Tudo que mais queremos na vida. No livro Como Viver, uma biografia criativa e bem-humorada de Montaigne, a autora inglesa Sarah Bakewell responde a essa pergunta com 20 tentativas de respostas baseadas no que ele escreveu. Elas podem incluir, por exemplo, abrir mão do controle, ser comum e imperfeito, fazer algo que nunca tenha feito, ser mais sociável com os amigos, sobreviver ao amor e às perdas, recorrer a pequenos truques, fazer um bom trabalho mas nem tanto, refletir sobre tudo mas não se arrepender de nada.

Para Montaigne, a existência nos conduz pela mão e não precisamos nos preocupar com nada. Segundo ele, a vida nos encaminha para um "declive suave praticamente imperceptível, aos pouquinhos". A vida pode ser boa, divertida e natural, nos diz ele. Comece então com Como Viver, esse incrível manual de vida.


Com o calor da paixão

Vinicius de Moraes, o poeta, dizia que para se viver um grande amor é preciso ter "a insensatez de um coração constantemente apaixonado". Porque a vida embebida na paixão tem outro gosto: as manhãs se revestem de neblina e encanto, os horizontes de cores e esperanças, o peito de luz e gozo. Mas qual seria a receita para se experimentar mais vezes esse gosto único? Num livro de crônicas e poesias, Vinicius dá sua fórmula mágica: fidelidade absoluta, cavalheirismo, dedicação e entrega. O poeta carioca, que nunca separou sua existência de sua poesia, compreendia que o coração aberto, a sensibilidade à flor da pele, a delicadeza e a noção exata da preciosidade do amor eram pré-requisitos essenciais para esse encantamento. Pois o mesmo vale para a vida. Ela precisa dessa paixão por todos seus aspectos para se tornar inesquecível, palpitante, intensa.

Para isso, há de se aceitá-la integralmente. Reconhecer que nela é tão preciosa a lágrima e a angústia quanto o sorriso. Essa atitude é fundamental para um novo apaixonar-se, pois o amor exige a exposição ao sofrimento e uma coragem. Sem tudo aceitar e sem encantar-se com tudo, corre-se o risco de não saborear a vida. "A maior solidão é a dor ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro", nos sussurra Vinicius nas páginas do livro Para Viver um Grande Amor (Companhia das Letras). "O maior solitário é o que tem medo de amar, de ferir e ferir-se (...). Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno." Melancólica imagem de quem tem medo.

Amar a vida e não se arrepender é dizer um sim incondicional a exatamente como ela é: com sua dose de beleza, natureza e magia tanto quanto sua violência, maldade e angústia. E, se um dia nos arrependermos de nossa ousadia, ilusão e engano, também não há problema. O mundo é assim. Está tudo certo.



(texto publicado na revista Vida Simples nº 131 - maio 2013)