sábado, 23 de abril de 2016

Festival de besteiras - Flávio Tiné


O Facebook é uma praça virtual, com a opção de desfilar por outras praças do mundo

Entrar no Facebook todos os dias e acompanhar as novidades postadas por amigos e desconhecidos geralmente é uma boa maneira de começar o dia. Não é a mesma coisa que ler os jornais, que já fizeram uma seleção natural dos principais acontecimentos do dia anterior e publicam artigos interessantes, dando uma visão abrangente dos fatos em evidência. O maior inconveniente é acompanhar incidentes que são importantes para quem os denuncia, mas não interessam a quem vive distante do problema.

Buraco na calçada, cachorro desaparecido, menino com doença rara, aniversário, batizado e casamento, tudo isto pode interessar às pessoas envolvidas, como parentes e amigos próximos, mas não ao grande público das redes sociais. É verdade que se consegue agitar qualquer reivindicação por meio dessa nova modalidade de comunicação, mas nem sempre há interesse, especialmente quando essa reivindicação é específica. Recentemente, na segunda semana de dezembro de 2013, dois irmãos de 16 e 17 anos convocaram adolescentes para um encontro no Shopping Center Aricanduva, em São Paulo. Não se pode prever o que irá acontecer com milhares de jovens circulando pelo interior de um centro comercial. No mínimo, correrias, arrastões e saques.

Um dos grandes inconvenientes desse novo hábito é acompanhar um festival de besteiras sem precedentes no rol de ociosidades mais ou menos forçado a que nos submetemos. Já sei, é só desconectar. É só fazer outra coisa. Como se faz com o controle remoto, é só mudar de canal e o problema estará resolvido. Acho que todo mundo já fez isso, para em seguida, horas depois ou no dia seguinte, voltar ao besteirol. Todos os dias leio mensagens de pessoas inteligentes, como o escritor Raimundo Carrero, comunicando a decisão de abandonar o hábito de postar algo em torno de suas atividades, decepcionado com o tal besteirol ou com a atitude de determinadas intervenções. Dia seguinte, reaparece com a informação de um encontro maravilhoso, uma viagem inesperada ou um convite.

Somos obrigados a ler a reler manifestações sobre a cara feia da mulher do presidente dos Estados Unidos porque o marido posou ao lado de uma loira, repetição sobre suposto assassinato de Juscelino Kubitschek, acusações ou insinuações contra tudo e contra todos sem comprovação etc.

O festival de besteiras que assola as redes sociais não tem precedente. Não se sabe se ficar o dia todo debruçado sobre um computador é melhor do que sentar num banco de praça ou passear numa avenida ou num shopping center, que também é muito divertido. O Facebook é uma praça virtual, com a opção de desfilar por outras praças do mundo e a possibilidade de viajar pela pesquisa sem fim. Você faz e desfaz seu festival de besteiras, como lhe aprouver.


(texto publicado na revista Medicina Social nº 225 - ano XXXI - abr/maio/jun de 2014)

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