quarta-feira, 28 de março de 2018

Paternidade em fase de mudança (entrevista com Marcos Piangers)


Cuidar da casa, dos filhos e ainda consolidar uma carreira são responsabilidades que devem ser distribuídas igualmente entre pais e mães. Com a sociedade mudando, esses papéis estão sendo cada vez mais colocados em prática nas famílias brasileiras

Mudanças na sociedade trouxeram grandes benefícios às estruturas familiares. Antes, a mãe tinha o papel de cuidar da casa, dos filhos e do marido. Este, só tinha o dever de trabalhar e garantir o sustento da casa. Hoje, os homens já estão mais envolvidos na vida familiar, são participativos na criação dos filhos e dividem tarefas domésticas com a mulher, que agora virou mãe e trabalhadora. Eles trocam o chope com os amigos pela apresentação escolar das crianças, a TV de domingo pelo passeio no parque. É verdade que muitos ainda não entenderam a importância de sua figura na vida dos pequenos, mas o cenário vem mudando aos poucos. "Um importante passo para que essa mudança ocorra efetivamente é a licença parental", opina Cristina Kerr, CEO da CKZ Consultoria em Diversidade, empresa que apoia corporações realizando programas e treinamentos de diversidade.

Há mais de 70 anos, o benefício de se ausentar do trabalho para cuidar do filho recém-nascido era apenas direito da mulher. Como consequência, ela cuidava sozinha do bebê, das tarefas de casa e enfrentava desigualdade na carreira. Em 1988, foi instaurada a lei de licença-paternidade concedendo 5 dias de folga aos homens. Mesmo sendo visto como um avanço, hoje os dias de descanso ainda são inferiores. Pensando nisso, no ano de 2016, ficou previsto que as empresas que quiserem e aderirem ao "Programa Empresa Cidadã", criado pelo governo - já instaurado em instituições como a AES Eletropaulo e Elektro -, poderiam estender a licença-paternidade para 20 dias. "Essa atitude é fundamental para a desconstrução dos papéis de pai e mãe, o que contribui para diminuir a desigualdade de gênero no mercado", comenta Cris Kerr.

As iniciativas são de extrema importância tanto para o casal quanto para as crianças. O exemplo dado em casa pode ajudar a promover uma sociedade mais igualitária, afetuosa e com conexões verdadeiras entre as famílias.

Fazem a diferença

A Suécia foi o primeiro país a estender a licença-paternidade, estabelecendo 60 dias de descanso. Na Finlândia, pais e mães têm o mesmo direito: três meses para a mulher, três para o homem e mais três para serem compartilhados entre o casal. Já no Brasil, algumas corporações, por decisão própria, estão ampliando ainda mais o benefício, como é o caso da Natura e da grife de roupas Reserva. Elas oferecem 30 ou 40 dias em casa para que o pai possa participar efetivamente. Fica a critério dos próprios aceitarem ou não, Já o Twitter dá direito a 5 meses de licença.

O Papai é Pop

Pai de Anita (12) e da Aurora (5), marido, radialista e escritor, Marcos Piangers (37) é autor do best seller "O Papai é Pop" (2015) e divide com seus seguidores reflexões e experiências pessoais sobre como é ser um pai presente. Com mais de 150 mil livros vendidos pelo mundo, a obra ganhou continuação e está em sua segunda edição. A revista Bem-estar conversou com o escritor que deu sua opinião sobre a mudança nesse cenário.

Como a paternidade mudou sua vida ?

Todo nascimento de um filho transforma nossas vidas e no meu caso, não foi diferente. A paternidade me fez entender o dilema de que estamos trabalhando demais, mas, ao mesmo tempo, precisamos e deveríamos passar mais tempo com nossa família para sermos mais felizes.

Qual a importância da presença do pai na vida dos filhos e na participação familiar?

Estudos dos anos 60 e 70 já mostravam que a participação do pai é importante para a segurança do filho e para a construção neural que acontece nos primeiros 4 anos de vida. Sem falar na ajuda à mãe ao dividir as tarefas. É importante entender que não deve ser 50% e 50%. Devem ser ambos 100%. Por que não faltar ao trabalho para levar o filho ao pediatra? Ou estar nas reuniões da escola? Ninguém ama virar a noite ou trocar fralda, mas são nesses momentos que você constrói vínculos de afeto com a família e, quando olhar o futuro, vai se orgulhar de ter construído um ser humano mais educado, querido e sensível.

Você acha que falta incentivo nas questões relacionadas a paternidade?

Acho! Colocamos ao final de paternidade vários adjetivos: afetiva, participativa, responsável. Mas, tudo isso faz parte da paternidade. Temos que discutir o conceito do que é ser pai e ser pai é estar lá, é participar. É importante que mais livros e pesquisas sejam lançados, pessoas discutam sobre isso no dia a dia e na internet, e quanto mais pais celebrarem os filhos de forma afetiva e participativa, mais teremos esse caminho se multiplicando.


(texto publicado na revista Bem-estar de julho/agosto 2017 nº 35)

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