segunda-feira, 30 de abril de 2018

Decreto da autorresponsabilidade - Andrea Quirino de Luca (por Babi Surati Kiliam Farah)

Escolho não colocar o peso de meu abandono infantil em meu relacionamento afetivo. Escolho não deixar a rejeição cortante da infância desfazer o laço do amor.
Se a relação está feliz ou triste, vou lidar com meu lado adulto, são coisas da vida. Minha criança ferida não chorará suas lágrimas por cima de meu bem. Chorará em meu colo de acolhimento em momentos apropriados.
Escolho não ser dominada pela ganância faminta de minha criança no momento de usar o dinheiro que ganho com meu trabalho. Já sei que essa fome não cessa, que não há medida de satisfação. Aprendi que dinheiro é minha colheita e é sagrado, e não desvalorizo mais o valor do que dou ao mundo com meu serviço e ofício. Criança não trabalha e não lida com dinheiro.
Escolho não deixar nas mãos de minha criança ferida a decisão do que e quando comer, me alimentar. Sei que ela sente que açúcar, álcool e glúten vão finalmente preencher seu vazio de não ter sido vista, ouvida e considerada. Já compreendi que o que alimenta esse buraco é sentir plenamente minha dor, tomando essa responsabilidade em minhas mãos, com pulso firme e de forma amorosa. No entanto, escolho comer com prazer, desde que seja comer sabores para comer sabores, e não para entorpecer o desespero da solidão.
Escolho não fazer sexo e dar meu corpo para receber segurança de qualquer tipo, atenção ou aprovação. Essas são as necessidades infantis não satisfeitas e não são razão para fazer sexo. Compreendi que criança não faz sexo e escolho fazê-lo para compartilhar de mim e de meu prazer, sem trocas escusas e camufladas. Sexo é poder, energia vital e felicidade. Eu dou, sou, estou e, assim também recebo de quem tem o mesmo tamanho que eu.
Dou quando escolho dar, recebo quando me abro, determino e ponho em ação o meu ser objetivamente no mundo.
Escolho parar de reclamar e dar de mim para a vida. E o passo fundamental é a autorresponsabilidades que tomo pelas minhas faltas e meus pais. Admito que já recebi tudo de meus pais, e o que ainda me falta, eu mesma vou buscar. O que é de meu pai e o que é de minha mãe, deixo com eles. Fico com o que é meu. Essa é a valiosa tarefa de discernir.
Vou para a Vida de mãos dadas com minha criança e sou a melhor mãe que ela poderia ter. Aceito as dificuldades da vida e escolho crescer com elas. Assim é.
Agradecendo aos ensinos, aos professores e à Vida, sigo.

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