sábado, 5 de maio de 2018

Diário de vida: Rossini e a região Marche


Há quase 3 anos faço reciclagem. Tudo começou quando passei a ajudar um carroceiro levando a ele papelão que pegava no restaurante no qual costumo almoçar. Um dia vi um rapaz recolhendo papelão e ele me mostrou a carteirinha da Eletropaulo onde tudo que ele levava se convertia em crédito que depois era abatido na conta de luz. Era só levar o comprovante onde há o número do consumidor e começar a recolher material. 

Fazer reciclagem acabou virando um "vício" porque toda vez que saio de casa volto com papel, papelão, latinhas e garrafas de plástico e de vidro. 

Hoje de manhã assim que sai havia 2 revistas jogadas na calçada na esquina de casa. Uma delas é um exemplar de março de 1998 do guia de programação do Multi Canal. Antes de reciclar sempre dou uma olhada nas revistas e achei uma reportagem interessante sobre Gioacchino Rossini, il cigno di Pesaro (o cisne de Pesaro), que nasceu na região que considero a minha segunda casa, Marche,  da qual Pesaro é uma das 4 províncias. 

A reportagem publicada há 20 anos comemorava os 130 de morte do compositor de óperas clássicas como O barbeiro de Sevilha e A Cinderela. Vou transcrever abaixo o texto. 

por J. Jota de Moraes de São Paulo

Preguiça. Foi exatamente a ela que se entregou Rossini nas últimas décadas de sua vida. Mas, antes de se dedicar langorosamente aos chamados prazeres da mesa e da conversação espirituosa, ele havia feito carreira meteórica e brilhante: tornara-se mundialmente famoso como o mais espetacular compositor de ópera italiana. Nos seus primeiros 38 anos de vida, compusera nada mais  nada menos que 39 espetáculos para a cena lírica (incluindo aí as várias versões e revisões de partituras originais). Na verdade, todo o panorama artístico peninsular anterior ao aparecimento de Verdi foi dominado por ele. Hoje, passados 130 anos de sua morte - e isso aconteceu em Passy, junto a Paris, no dia 13 de novembro de 1868 -, sua glória continua viva. [...]

Gioacchino Antonio Rossi nasceu em Pesaro, na Itália, em 29 de fevereiro de 1792 - alguns meses depois do desaparecimento de Mozart, portanto. Herdou do mestre de Salzburgo a facilidade para escrever óperas de maneira cintilante. Contemporâneo do Casmurro Beethoven, recebeu dele o conselho de não escrever música séria demais, algo que nem sempre levou em conta, felizmente. Rossini se transformou no mais popular compositor do início do século passado, inclusive porque soube adequar a linguagem clássica às novas necessidades expressivas do Romantismo nascente. Na sua música, tudo soa soberbamene claro e, ao mesmo tempo, emotivo.

Pecados - Ele foi o rei das melodias envolventes e com frequência acrobáticas entregues aos cantores. Foi mestre ao tratar a orquestra como um organismo vivo, capaz de soar rindo e chorando. E que conquistava o público com suas animadas explosões sonoras, requintados jogos de timbres e de "aumentados" e "diminuendos" carregados de eletricidade.

Todas as óperas de Gioacchino Rossi foram escritas entre 1812 e 1829. Para citar algumas delas: La Scala di Seta, L'Italiana in Algeri, Otelo, A Cinderela, Semiramide e Guilherme Tell. A mais famosa continua sendo Almaviva, Ossia L'inutile Precauzione, posteriormente conhecida como O Barbeiro de Sevilha

Retirando-se do mundo da ópera bastante rico, Rossini continuou a compor, só que privadamente. Datam desses anos de retiro várias obras sacras e uma infinidade de miniaturas para piano e de cançonetas que ele batizou de Pecados de Velhice - tudo rigorosamente delicioso de ser ouvido.



(texto publicado na revista Guia de Programação Multi Canal - nº 49 - ano V - março/1998)

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