O amor pelo cacau na América Latina impactou tanto a boa quanto o bolso.
Mais que um alimento luxuoso, o chocolate pode ter adquirido uma importância financeira considerável no Império Maia a partir do século 3. A arte da época já revela uma preferência particular dos nativos pelo cacau, que era transformado em um caldo servido em copos de barro. Esse chocolate quente primitivo já era sinal de status - e, segundo murais do século 7, podia ser trocado por outros produtos básicos, como massa à base de milho. Mas a importância do chocolate - ou pelo menos do fruto que lhe dá origem, o cacau - teria ido além do escambo. Ele pode ter dado origem a um sistema monetário mais complexo. A arqueóloga Joanne Baron analisou 180 obras de arte produzidas na América Central, entre os anos 691 e 900. Elas mostram que grãos de cacau passaram a ser aceitos como impostos pelos reis da época. Secos ou fermentados, eles duravam um bom tempo e eram raros na região. Segundo Baron, os lideres coletavam muito mais cacau do que o palácio seria capaz de consumir - sinal de que o valor do chocolate não era uma questão meramente gastronômica e o cacau-moeda servia, provavelmente, para pagamento de serviços e comércio entre povos vizinhos.
(texto publicado na revista Super Interessante edição 392 - agosto de 2018)
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