domingo, 31 de março de 2013

A desconfortável zona de conforto - André Lima



Atendi um homem que trabalhava no escritório da esposa. Ele desejava buscar algo fora para que a família pudesse ter duas rendas. Ele se sentia desconfortável por não ter independência. Temia que se o relacionamento viesse a terminar um dia, ficaria sem um rumo profissional em uma situação muito difícil. De vez em quando ele ia em busca de algum emprego, mas nunca dava certo e ele voltava a trabalhar com a esposa.

Apesar de viver nesse desconforto, no fundo, ele não fazia tudo que estava ao seu alcance para ter a sua independência. Uma parte dele desejava ir em busca do seu caminho profissional, mas outra parte desejava ficar onde estava. Por várias razões e medos, o seu desconforto era "confortável" de alguma forma.  

Durante um curso online que ministrei falando sobre o tema da autossabotagem, passei o áudio dessa sessão para que os alunos ouvissem e uma aluna comentou: "que bom saber que não sou apenas eu que me mantenho em uma desconfortável zona de conforto". Pois é! Isso é mais comum do que imaginamos.

A nossa zona de conforto pode ser tranquila e sem sofrimento. Nesses casos, muitas pessoas se acomodam e não arriscam coisas novas para mudar, pelo medo de perder o que já tem ao tentar algo novo que pode dar errado. A pessoa pode estar em um relacionamento morno ou naquele emprego que não é lá essas coisas, mas também não é tão ruim assim. Pode estar com uma situação financeira mais ou menos, que paga as contas, mas que não permite a realização de outro planos. Nessas situações é mais fácil entender o que nos leva a ficar na inércia e não ir em busca de uma melhora. Embora a pessoa queira melhoras para sua vida, o medo de arriscar e mudar é maior do que o interesse em sair da zona de conforto, já que esta não lhe causa nenhum grande sofrimento.

Mas tem outros casos em que a zona de conforto é, na verdade, bem desconfortável, conforme o exemplo que citei anteriormente. Então por que será que mesmo nesses casos tem pessoas que ficam na inércia e não fazem o que podem para uma mudança mais profunda? São vários os motivos. Vamos ver a seguir.

Mesmo que a atual zona de conforto  traga sofrimento, de alguma forma nos adaptamos e nos acostumamos a esse sofrimento. Aprendemos a lidar com o desconforto e logo que isso acontece, pode acontecer de surgir uma acomodação.

Tentar sair da zona de conforto pode gerar medo e ansiedade de forma consciente ou inconsciente. Temos medo de arriscar e tornar a nossa vida ainda mais difícil do que antes. Existe sempre uma chance das coisas ficarem piores se resolvermos fazer algo para mudar. Isso contribui para nos deixar paralisados.

Temos também medo do novo, medo do desconhecido. Nosso sofrimento atual, por mais doloroso que seja, já é nosso velho conhecido. De alguma forma aprendemos a sobreviver, apesar dele. Quando vamos em busca de uma melhora não sabemos como é viver dessa nova forma. Isso desperta medo e desconfiança. Uma parte de nós, prefere ficar em um sofrimento que já nos é conhecido do que ir em busca de algo melhor mas que seja desconhecido.

Existe ainda uma identificação que criamos com nossas situações de vida. Nós nos acostumamos de tal forma com o sofrimento a que estamos submetidos, que é como se ele fizesse parte da nossa vida e acabamos nos apegando. Quando a nossa vida tem muito sofrimento, nossos pensamentos e atividades giram em torno de resolver esse sofrimento e atenuam suas consequências. Isso acaba nos preenchendo de alguma forma. Resolver o problema de uma vez por todas pode dar uma sensação estranha de que a vida ficará vazia e sem objetivo. Como vou preencher minha vida se tal problema for definitivamente resolvido? As vezes percebemos essa sensação sabotadora, mas em muitos casos ela fica bem escondida agindo no inconsciente.

Lembro que em um determinado período da minha vida, enquanto estava passando por sérios problemas financeiros que se arrastaram por vários anos, consegui detectar em mim esse sentimento de apego a situação de sofrimento. Um dia, quando imaginei minha vida sem aqueles problemas financeiros constantes, percebi que surgiram pensamentos do tipo: minha vida vai ficar vazia e sem objetivo; o que farei para preenchê-la?. Tentar resolver essa situação era simplesmente a minha missão de vida. Eu me ocupava 24 horas por dia. Era uma preocupação constante. E como seria minha vida depois disso?

É claro que, racionalmente, eu sabia que minha vida se tornaria melhor e mais prazerosa, e que eu iria preenchê-la com coisas melhores, e também com outros desafios que iriam surgir ao longo do caminho. Mas, emocionalmente, existia esse medo e apego que tem uma força sabotadora muito poderosa, já que uma parte minha desejava permanecer do mesmo jeito. Isso acaba afetando a nossa criatividade e influenciando negativamente nossas ações e pensamentos para que fiquemos no mesmo patamar.

Além de tudo que já foi relatado, problemas na autoestima também nos levam a não fazer nada para sair da situação desconfortável. Sempre que estamos acomodados a uma situação de sofrimento, existem vários sentimentos por trás que tiram a nossa força de ir em busca de algo melhor. São sentimentos de incapacidade, incompetência, não merecimento, e mecanismos inconscientes de autopunição.  A baixa autoestima nos leva a criar situações de sofrimento e depois que as criamos nos ajudam a perpetuá-las através de atitudes sabotadoras ou da falta de atitudes.

No caso do cliente que atendi, percebemos durante a sessão que todos os fatores citados nesse texto estavam contribuindo para que ele se mantivesse na sua desconfortável zona de conforto.

Utilizando a EFT, podemos também dissolver os medo de sair da zona de conforto. É preciso aplicar a técnica para todos os medos secundários que compõem o medo maior de sair da zona de conforto: medo de ficar um vazio; medo de ficar sem objetivo; medo de arriscar e ficar pior do que antes; medo de deixar para trás uma parte da vida; medo do novo; medo do desconhecido; medo de deixar de sofre...  É preciso tratar todo e qualquer outro medo que possa surgir por mais irracional que ele pareça.

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Abraços



André Lima - www.eftbr.com.br

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