quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Star Wars: a amizade de Joseph Campbell e George Lucas


É difícil falar sobre Star Wars de forma objetiva, mas é um fato que George Lucas em seu inicio fez algo extraordinário e é importante lembrar uma de suas maiores influencias ao criar este universo que nos remonta a emoção do natal quando crianças. A relação de George Lucas com o renomado mitólogo e escritor Joseph Campbell é de conhecimento público. Autor de vários livros e vasto conhecimento étnico e cultural, Joseph Campbell desenvolve o conceito “Monomito”.

O Monomito pode ser definido como a repetição de temas mitológicos a través do tempo se utilizando dos mesmos “elementos narrativos” e como o próprio Campbell nos diz “esses mitos têm sido a viva inspiração de todos os demais produtos possíveis das atividades do corpo de da mente humanos”.

Um bom amigo não teve contato com a trilogia original me disse pouco depois de ver o Episódio IV: Uma nova esperança; “Parece um conto de fada” observação que me pareceu interessante, pois os mitos e os contos de fada a pesar de suas diferenças bebem da mesma fonte sendo esta a psique, porém existe uma diferença entre ambos como nos diz Von Franz:

“Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado, atingimos as estruturas básicas da psique humana através de uma exposição do material cultural. Mas nos contos de fada existe um material cultural consciente muito menos específico e, consequentemente, eles espelham mais claramente as estruturas básicas da psique” (Franz, 1990).

Isto pode ser observado com facilidade no primeiro filme (Episódio IV) que já que nos apresenta alusões históricas, sociais e visuais difíceis de serem ignoradas. Tais alusões nos mantêm ancorados a um “passado distante e ao mesmo tempo não tão distante” que conseguimos identificar, enquanto a fantasia nos transporta a um “Há muito tempo em uma galáxia muito distante…”. A pesar que esta frase inicial nos remeta a um conto de fadas.

O relacionamento entre Joseph Campbell e George Lucas foi posterior a elaboração da trilogia original, sendo que o primeiro jamais havia visto a saga até que George Lucas insistiu.

“Alguns anos depois de seu primeiro encontro, o tempo finalmentete chegou para que Lucas mostrasse a Campbell seu trabalho. Lucas conta aos biógrafos de Campbell: “[…] Em algum momento falei sobre Star Wars, e ele ouvira falar sobre Star Wars”. Disse-lhe “Você tem algum interesse em assisti-las?” Nesse tempo já tinha concluído os três filmes. Ele disse “Assistirei as três”. Eu disse “Você gostaria de assistir uma por dia?” porque ele ficaria uma semana mais ou menos. “Não, não, quero assistir todas de uma vez”” (O.Seastrom, 2015).

O contato inicial de Lucas com Campbell foi a través de seu livro mais famoso “O Herói das mil Faces” o qual foi produto de seus estudos sobre antropologia na universidade. Assim temos a aventura do Herói da qual Campbell escreveu de forma extensa retratada com clareza na trilogia original.

Se Campbell tinha razão sobre a maneira como os mitos nos falam de forma tão intima podemos ver na explosão que surge de Star Wars trás sua estreia em 1977, tendo uma legião de fãs fiéis e entusiastas casuais.

A estreia do novo filme (Star Wars Episódio VII) percebe-se o renascimento deste fenômeno assim como também uma atualização do mito se adequando ao momento específico no qual vivemos, mas também observamos que os escritores, seja por respeito ao espírito da historia ou por medo, repetem vários elementos notáveis do Episódio IV.

Isto é algo que já foi observado nos filmes anteriores (Episódio I, II, III) se referenciando a trilogia original de forma notável na direção e argumentação, situação da qual Lucas fala abertamente, se referindo à Saga como música e posteriormente como poesia por seu ritmo e variações (Klimo, 2014).

Campbell nos deu um modelo com vários elementos importantes que compõem a narrativa do mito do Herói e considerando Star Wars um mito criado de forma “consciente” nos permite ver o Episódio VII com olhos mais contemporâneos além de apresentar o Universo para uma geração que precisa de tal contextualização para compreender a historia que vem sendo contada.

Além disto, Star Wars propõe que o espaço é o cenário perfeito para que novos mitos e historias se desenvolvam. Sendo o espaço o novo “Grande Desconhecido” de nosso século. Entendendo o caráter mítico em Star Wars podemos nos distanciar das tecnicidades cientificas e abraçar a linguagem Simbólica coisa que também parecia estar claro para Campbell:

“Contemplar o céu estrelado é se contemplar a nível mítico. Enquanto o avance continuo da ciência redefine nosso entendimento do cosmos certamente nossa perspectiva mítica também deve mudar” (Campbell, Joseph apud O.Seastrom, 2015)

A amizade entre George Lucas e Joseph Campbell me parece de respeito mutuo. Posteriormente sabemos que Lucas apoiou financeiramente os documentários “O Poder do Mito”, além de ceder o Rancho Skywalker para a filmagem. Vemos cenas e comentários de Campbell sobre Star Wars em alguns momentos do documentário como exemplo mais claro deste relacionamento.

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