domingo, 31 de dezembro de 2017

Vênus e Cupido (Afrodite e Eros)


Esses dois deuses romanos, mãe e filho, chamados de Afrodite e Eros pelos gregos, promoveram a devastação desde o começo. Para simplificar, nos referiremos a eles como Vênus e Cupido, mesmo apesar de muitas das histórias que os envolvem terem originado na Grécia, antes de serem adotados pela mitologia romana. Em ambas as culturas, as flechas do Cupido poderiam atingir qualquer criatura e despertar nele ou nela a reação que chamamos de amor. Com apenas um tiro, Plutão, o rei do submundo, se apaixonou. Cupido até fez com que Apolo, o deus da razão, se apaixonasse.

Vênus é a deusa do prazer sexual, rejeitada como sendo inerentemente pecadora, em especial após os textos de Agostinho, no século IV. Mas vamos aqui considerar Vênus e Cupido como as personificações dos aspectos positivos de pessoas comuns.

O amor não é algo que possamos definir. Como posso compreender o significado da palavra se eu declaro amar minha esposa, meus filhos, meu cachorro e meu carro? As únicas coisas que eles têm em comum são que todos  custam dinheiro e precisam ser lavados, mas isso não pode ser usado como analogia aceitável para o amor.

Não podemos separar o amor romântico de Vênus e sua personificação de desejo sexual. Mas, para preservar a ignorância das crianças, costumamos representar o amor como um pequeno e fofo querubim, o Cupido, e o celebramos no Dia dos Namorados, sempre tomando muito cuidado para não mencionar sua mãe.

Imaginar o Cupido como um deus gordinho, brincalhão e infantilizado é uma alusão à sua personificação romana. Por outro lado, para os gregos, ele era um homem voluptuoso e detentor de uma intimidante força primordial - o mais belo de todos os deuses. Só a  visão dele poderia fazer os humanos perderem o chão, e além do mais tinha o poder de controlar nossa mente. Eros (o Cupido) era uma força primitiva e incontrolável que muitas vezes fazia com que pessoas que não tinham nada a ver umas com as outras se apaixonassem - um exemplo do poder do amor sobre a racionalidade. Esse tema foi recorrente ao longo da história e atingiu seu auge cômico em Sonho de uma noite de verão, a famosa peça de Shakespeare. Um tratamento moderno desse cenário é encontrado no conto de Isaac Asimov, The Up-to-Date Sorcerer. Nessa história, pessoas sob a influência de uma poção do amor se apaixonam perdidamente somente para serem curadas pela realidade do casamento.

Também Cupido se apaixonou. Nesse mito, Vênus sentiu-se ameaçada pela beleza de uma mortal, Psique, e enviou Cupido para fazer com que a donzela se apaixonasse por um monstro. Mas, quando Cupido viu Psique, ficou extasiado e a desposou. Como vingança, Vênus matou Psique, mas Cupido ressuscitou sua noiva, que se tornou uma deusa, bem como o filho deles. Mais uma história de morte, ressurreição e elevação ao status de divindade. O amor faz dessas coisas.

O poder de Cupido é fonte de ansiedade para aqueles que desejam uma vida organizada e harmoniosa. Uma pessoa pode estar vivendo uma existência despreocupada quando o romance floresce e de repente se vê escravo do amor.

Enquanto as setas de Cupido estiverem voando, qualquer um pode ser atingido sem aviso, às vezes repetidamente. A natureza aleatória desses eventos faz com que a vida seja imprevisível. Entretanto, a passagem do tempo pode reduzir nossa volúpia e controlar o Cupido. Como um filósofo muito sabiamente observou, a idade pode cortar suas asas, esfriar nossas paixões e permitir que nosso intelecto finalmente funcione sem barreiras. Mas justamente quando achamos que estamos seguros, eis que surge o Viagra.


(texto publicado no livro As pessoas mais importante do mundo que nunca viveram de Allan Lazar, Dan Karnan, Jeremy Salter)

Nenhum comentário:

Postar um comentário