sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Por que essa preguiça toda de conversar? - Pe. Juarez de Castro


Ouvi, ao meu lado, duas amigas, que pareciam bem próximas, conversando. Não que estivesse escutando sua conversa, mas pelo volume de suas vozes não haveria como não escutar. Foi quando uma disse: "Preciso lhe contar uma coisa". E a outra dispara: "Me passa um 'whats app"". "Ah, tá bom", a amiga concordou. E continuaram em silêncio, uma ao lado da outra em silêncio. Não contaram o que deveria ser contado, para depois contar no aplicativo de celular. Incrível, mas verdadeiro.

Fiquei muito preocupado. Por que não preferiram conversar ali mesmo, em vez de trocar uma mensagem fria pelo celular? Por alguma razão deixamos de conversar, de trocar segredos, de contar novidades e de sentir a presença do outro ao nosso lado.

O outro tem nos incomodado e estamos preferindo ficar sozinhos a ter que partilhar espaço e palavra com quem quer que seja. Grave! Muito grave, pois estamos perdendo a essência da humanidade, a socialização. O que nos torna humanos é a capacidade de nos relacionar e de amar. Estamos trocando isso por uma falsa socialização por meio de mensagens curtas e redes sociais. Acreditamos estar nos relacionando, mas, na verdade, estamos trocando frases prontas e até pré-estabelecidas, muitas vezes sugeridas pelo smartphone. Chame isso de tudo menos conversa ou mensagem. Conversar é trocar sentimentos, expor ideias, partilhar corações. Trocar palavras é partilhar um pedacinho da sua alma.

Tentei buscar a razão de tanta má vontade em conversarmos e preferirmos a mensagem dos computadores e smartphones. A única conclusão a que cheguei foi preguiça. Estamos sofrendo de preguiça de nos relacionarmos. Afinal, o outro precisa da minha atenção, do meu esforço e da minha entrega e, vamos ser sinceros, hoje ninguém está muito a fim de gastar seu "precioso" tempo com quem quer que seja. Estamos com preguiça de falar, pois isso pressupõe nos comprometermos com o outro. Então, prefere-se mandar uma mensagem curta, que resolve a questão e alivia a consciência.

Quer me conselho? Use seus celulares para falar e menos para mensagens. Esteja na frente de seu computador para pesquisar, trabalhar, escrever poemas. E, quando alguém lhe enviar uma mensagem, responda com uma proposta de encontro para uma conversa real, na qual você possa se emocionar e rir de verdade. Então, não serão necessárias aquelas carinhas amarelas e aqueles "kkkkkkkkkkks" insuportáveis.



(texto publicado na revista Viva! edição 747 - 24 de janeiro de 2014)

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