domingo, 22 de julho de 2012

Diário de vida - A "anglicização" do Japão

Achei a seguinte notícia muito interessante a respeito da influência maciça da língua inglesa no cotidiano do povo japonês. Antes de postá-la, gostaria de relatar a minha própria experiência no país do sol nascente. Quando a minha mãe decidiu trabalhar  no Japão em 1989,  teve que fazer um curso de atualização da língua. Apesar de ter nascido lá, precisava aprender o léxico específico usado em hospitais para poder trabalhar como cuidadora de pessoas idosas. Como sou muito curiosa, dei uma olhada em seu caderno e vi que muitas das palavras "novas" vinham do inglês. E ri deliciada quando descobri o único vocábulo de origem italiana: influenza (gripe). Aprendi no jardim da infância que caderno se dizia "chomen", alguns anos depois já na faculdade se dizia "no-to" (de notebook, mas não o computador!!!). Quando estive no Japão pela primeira e única vez,  me lembro que quando meu primo me disse para ir fazer compras no "Sebun erebun" demorei alguns minutos para entender que o nome era  "Seven eleven". Meu primo teve aulas de português com o professor Ivã Barbosa (da ECA-USP) e na faculdade de Osaka era conhecido como "Barubosa sensei". Quando estive lá e sabendo que eu era brasileira ele logo se apresentou como Ivã porque sabia que eu não iria pronunciar o seu nome como "Iban", uma vez que a letra V não existe no alfabeto japonês.


O Japão se angliciza - Angelo Ishi (Folha 22/07/12)


Nunca foi segredo que a maioria dos japoneses sofre do chamado "eigo complex", o complexo por não conseguirem se comunicar em inglês. Mas a novidade é que cada vez mais empresas estão pressionando os seus funcionários a aprender a língua.


Quem inaugurou a tendência foi o franco-brasileiro Carlos Ghosn. Ao assumir o comando da Nissan em 1999, ele lançou o famoso "Revival Plan", que fez renascer, de fato, a montadora japonesa. Houve quem acreditasse que um dos fatores decisivos para a guinada da Nissan foi a adoção do inglês como língua oficial.


O ano de 2010 foi um marco. A gigante da moda Uniqlo e a líder de vendas pela internet Rakuten anunciaram que o inglês seria sua língua oficial. O presidente da Rakuten, Hiroshi Mikitani, radicalizou: estabeleceu um prazo de dois anos para que os seus funcionários comprovassem o aprimoramento das suas notas no exame de proficiência em inglês Toeic.

Em junho, Mikitani lançou o livro "Englishnization" (Kodansha), no qual defende sua filosofia de anglicização da empresa. Se até então o debate sobre os prós e contras do inglês se restringia à arena da administração empresarial, o livro alçou a discussão para o âmbito da identidade cultural: valeria a pena curvar-se diante do pragmatismo linguístico, sob pena de se perder a riqueza das relações humanas inerente à língua japonesa?

Os "englishnizationistas" têm a seu favor a valorização do chamado "global jinzai" (recurso humano global): na hora de contratar recém-formados nas universidades, as grandes companhias estão priorizando os japoneses fluentes em inglês e os estrangeiros bilíngues.

THE BOOK IS ON THE TABLE

A demanda por "recursos humanos globais" está provocando também uma revolução no setor educacional. Nas universidades japonesas, o ensino do inglês virou prioridade máxima.
Para este ano letivo, o Ministério da Educação aumentou em 60% o orçamento das bolsas pagas aos japoneses que forem estudar no exterior, num total de 3,1 bilhões de ienes (o equivalente a R$ 800 mil), além de 5 bilhões de ienes (R$ 1,3 milhão) para as universidades que fortalecerem suas aulas de inglês.

Já a Universidade de Tóquio surpreendeu ao anunciar que pretende mudar a época do vestibular da primavera para o outono. Traduzindo: vai equiparar o calendário acadêmico ao das universidades americanas. A intenção é facilitar temporadas de seus alunos no exterior e atrair mais estudantes estrangeiros.


O fato é que, por conta do pânico nuclear, o fluxo de estudantes estrangeiros que vêm para o Japão tem caído tanto quanto o de japoneses que vão estudar fora. Em 1997, 47 mil japoneses foram estudar no exterior. Em 2010, este número já tinha caído para 21 mil.

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