Há alguns anos, o neurocientista Matthew Lieberman, na época um aluno de
pós-graduação de Harvard, propôs o seguinte experimento: 32 pares de
introvertidos e extrovertidos, todos desconhecidos uns dos outros, conversaram
por alguns minutos ao telefone. Quando desligavam, pedia-se que preenchessem
questionários detalhados, avaliando como haviam se sentido e se comportado
durante o diálogo. “O quanto você gostou de seu parceiro?”, “O quanto você foi
amigável?”, “O quanto você gostaria de interagir com essa pessoa novamente?”.
Também foi pedido que os voluntários se colocassem “na pele” de seus parceiros
de conversa: “O quanto você acha que ele gostou de você?”, “O quanto ele foi
sensível a você?”, “Quão encorajador lhe pareceu?”.
Lieberman e seus colaboradores compararam as respostas, ouviram os
diálogos e fizeram seus próprios julgamentos a respeito de quanto os
participantes se sentiam um em relação ao outro. Eles descobriram que os
extrovertidos eram muito mais precisos do que os introvertidos em perceber se
seus parceiros haviam gostado de falar com eles. Essas descobertas sugerem que
pessoas com esse traço são mais eficientes em decodificar pistas sociais do que
os introvertidos. Em um primeiro momento, isso não pareceu surpreendente, já
que prevalece a hipótese popular de que extrovertidos são melhores na leitura
de situações sociais. Por meio de um desdobramento de sua experiência, porém,
Lieberman mostrou que essa hipótese não está correta.
O neurocientista e sua equipe pediram a um grupo de pessoas que ouvissem
as gravações das conversas que haviam acabado de ter – antes de preencher um
questionário. Eles descobriram que nesse grupo não havia diferença entre
introvertidos e extrovertidos em sua habilidade de ler pistas sociais. Por quê?
A resposta é que os indivíduos que ouviram as gravações puderam decodificar
pistas sociais sem ter de fazer mais nada ao mesmo tempo. Mais: introvertidos
são decodificadores bastante bons, até melhores que os extrovertidos. Mas esses
estudos mediam quão bem os mais retraídos observam dinâmicas sociais – e não
quanto se envolvem nelas, já que isso impõe demandas ao cérebro muito
diferentes das exigidas na observação. Participar requer uma espécie de
cumprimento mental de várias tarefas ao mesmo tempo: a capacidade de processar
muitas informações de curto prazo de uma só vez sem se distrair ou se estressar
demais. Esse é o tipo de funcionamento neurológico no qual extrovertidos
geralmente têm facilidade.
Considere que a mais simples interação social, mesmo entre duas pessoas,
requer a realização de uma impressionante quantidade de tarefas: interpretar
sua linguagem corporal e as expressões faciais; sutilmente se revezar entre
falar e ouvir; responder ao que a outra pessoa disse; perceber se está sendo
compreendido; determinar se é bem recebido e, se não, encontrar uma forma de
melhorar a situação ou retirar-se dela. Pense no que é necessário para
processar tudo isso de uma só vez! E isso numa conversa com uma só pessoa.
Agora pense na quantidade de tarefas simultâneas que é necessária em uma
configuração de grupo. Por isso, qundo introvertidos assumem o papel de
observadores, escrevem romances ou se atêm a uma teoria, por exemplo, não estão
demonstrando falta de vontade ou de energia – simplesmente estão fazendo o que
sua constituição manda.
(texto publicado na revista Mente
Cérebro nº 233)
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