domingo, 5 de fevereiro de 2017

Dieta detox, socorro! - Walcyr Carrasco


De todos os pecados capitais, a gula é o que mais pratico. Ainda mais nas férias! Em recente viagem ao exterior, chafurdei em menus degustação de oito pratos, harmonizados com vinhos. Até no café da manhã pedia dois ovos fritos. Intuía o que vinha pela frente, mas resolvi não pensar no assunto. Quando voltei, vi exatamente o que veio pela frente: minha barriga. Imensa, estourando todos os paletós e camisas. A pior coisa para o homem, sei que muitos concordarão comigo, é olhar para baixo e ver... o umbigo. E não os atributos que a genética nos deu! Logo descobri que o problema não era só vaidade. Mas de saúde e financeiro. De saúde, porque a barriga enorme, para um homem maduro, leva ao que se chama de síndrome metabólica. Está associada a várias doenças: diabetes, problemas cardíacos, gordura sobre o fígado... A questão financeira é óbvia. Se nenhum paletó mais me servia, teria de comprar novos. Mais barato emagrecer. E mais cauteloso.

- Não comprei nada novo - disse meu amigo Luis Began. - Quando as roupas ficam, bem, a gente se acomoda.

Disse por experiência própria. Engordou e renovou o guarda-roupa. E se acostumou com a barriga! Adotei o lema: "Emagrecer é economizar". Conheci duas médicas gêmeas que emagreceram 24 quilos. Elas me indicaram a nutricionista. A profissional Tatiane Pilan, linda e magra, fez a consulta. Um amigo médico avaliou meus exames. Trágicos, a começar pelo colesterol.

- Você tem de começar por uma dieta detox, para dar uma limpada geral no organismo. Durante 20 dias.

Detox é abreviação para desintoxicante. Nem falou em remédio para passar a fome. Sua tese é que, comendo de três em três horas, a gente não sente fome. Talvez, se eu comesse um porco assado. Mas o menu é bem outro. Meia hora antes do café da manhã, um copo de limão espremido com farinha de berinjela. Imaginem o humor. Seria um jeito ótimo para começar o dia, se eu quisesse brigar com alguém. No café, suco verde, se eu quisesse brigar com alguém. No café, suco verde, composto de umas ralas folhas batidas. Ou um iogurte desnatado com chia, semente proteica que vem da Bolívia, acredito. O pão foi cortado definitivamente. Carne vermelha também. Almoço, frango grelhado na água, ou peixe idem. Quem já comeu peixe na água conhece o horror. Nos intervalos, chá de hibisco com farinha de berinjela. Queria saber quem inventou a tal farinha de berinjela. Dá vontade de atropelar. Jantar, poucas opções: omelete de claras ou um iogurte batido com papaia. No final da noite, o momento que espero o dia todo: maça com canela. Adoro maçã assada. Esperar por ela ainda me dá vontade de viver. Fora isso, chá de melissa, mais farinha de berinjela...

Estou nessa há duas semanas e meia. Encontrei a atriz Ingrid Guimarães e contei.

- Já fiz dieta detox - disse ela. - Foi quando pensei que encarar a morte deve ser uma coisa boa.

Depois, quase em lágrimas, confessou:

- Vou ter de fazer outra, por causa de um filme em que há uma cena de biquini.

Ingrid é magra. Se ela precisa de detox, lamento: gordos como eu não têm mais esperança.

O pior é que, quando começo uma dieta e decido ser firme e rígido, parece que vem uma praga e passo a ser convidado para tudo que é bom. É preciso força de vontade. Tive de dizer não, esses dias, a um convite da minha amiga Liége Monteiro: um jantar de caridade em Mônaco, com a presença do príncipe Albert e menu de uns 40 pratos. Balancei. Nunca vi um príncipe de perto. Só sapos. Como será esse jantar, ainda mais para um cara desinibido? Sou do tipo que se importa de errar na etiqueta ou de atirar o caroço de azeitona no prato do vizinho. Não pertenço a esse mundo, posso fazer feio. De qualquer jeito, não me tornarei amigo da família real. Mas... e a barriga? Nunca cuidei do meu corpo, nunca tive disciplina. Chegou a hora, ai meu Deus. Sem exceção, nem para príncipe.

Existem outros tipos de dieta detox. Todas têm em comum a restrição. Por incrível que pareça, me acostumei a comer menos. Já não sinto fome, fome... Também já sei que talvez nunca mais coma uma feijoada, torresmo... quindim! Sinto vontade de chorar ao pensar nos quindins.

Mas vamos lá. É a vida! Muitas barrigas já passaram pelo mesmo que eu. Ou passarão. Subi na balança, perdi 3 quilos. Faltam 17. Credo, ainda 17? Coragem! O jeito é seguir em frente. Ou minha próxima camisa será feita numa loja de cortinas.



(texto publicado na revista Época nº 829 - 21 de abril de 2014)

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