domingo, 6 de maio de 2012

Diário de vida: Magia do beijo - Chip Walter


Outro dia nas muitas postagens compartilhadas, peguei uma chamada "sentimentos escritos" falando do comportamento de meu signo, câncer.



Por isso, transcrevo abaixo um texto interessante publicado na revista Mente cérebro.

Nos momentos de intensa paixão o beijo na boca prende duas pessoas numa troca de cheiros, sabores, toques, segredos e emoções. Beijamos lascivamente, de modo gentil, tímido, faminto, intenso, luxuriante ou furtivo. Em plena luz do dia e na calada da noite. Damos beijos cerimoniosos, afáveis, polidos, de rostos que não se tocam; a literatura e a história registram beijos da morte e, ao menos nos contos de fada, beijocas fazem princesas reviver.

Do ponto de vista da ciência, os lábios podem ter evoluído primeiro para favorecer a alimentação e, mais tarde, para a fala, mas no beijo eles satisfazem tipos diferentes de apetite. No corpo, o  toque dos lábios ativa uma sucessão de mensagens neurais e químicas que transmitem sensações táteis e excitação sexual, e desperta sentimentos de intimidade, motivação e até euforia.

Nem todas as mensagens são intensas. A fusão de dois corpos transmite sinais intensos passíveis de serem reconhecidos tanto pela própria pessoa quanto pelo parceiro ou parceira. Beijos podem, inclusive, enviar informações significativas sobre as condições presentes e futuras de uma relação amorosa. Muitos psicólogos especializados em terapia de casais garantem que, se o primeiro beijo não for considerado agradável e prazeroso para os dois envolvidos, dificlmente o relacionamento evoluirá.

Mensageiro silencioso

Independentemente do que mais esteja acontecendo quando beijamos, nossa história evolucionária está incorporada nesse ato terno e tempestuoso. Nos anos 60, o zoólogo e escritor britânico Desmond Morris sugeriu, pela primeira vez, que o beijo pode ter evoluído da prática de algumas mães primatas de mastigar a comida para seus filhotes e alimentá-los boca a boca, com os lábios comprimidos. Os chimpanzés se alimentam dessa maneira, e nossos ancestrais hominídeos, provavelmente, também o faziam. A pressão de lábio contra lábio evoluiu posteriormente para uma forma de confortar crianças famintas em períodos de escassez de comida e, com o tempo, derivou para um modo de expressar amor e afeição. A espécie humana levou esses beijos protoparentais por outros caminhos, até criar as variedades mais apaixonadas que temos hoje.

Podemos também ter herdado o beijo íntimo de nossos ancestrais primatas. Bonobos, que são geneticamente muito semelhantes a nós (embora não sejamos seus descendentes diretos), são especialmente apaixonadas. O primatólogo Frans B. M. de Waal, da Universidade Emory, na Geórgia, lembra-se de um guarda de zoológico que aceitou de um bonobo o que ele achava que seria um beijo amigável, até sentir a língua do macaco em sua boca!

Os lábios humanos têm a camada mais fina de pele do corpo humano e estão entre as áreas corporais em que e encontram as maiores concentrações de receptores e transmissores sensoriais. Quando beijamos, as células da língua e de outras regiões da boca disparam mensagens para o cérebro e para o corpo, provocando emoções e reações físicas intensas.

Barômetro emocional

Na medida em que o beijo está ligado á afetividade, pode aumentar a produção de substâncias químicas do cérebro associadas ao prazer, à euforia e à motivação para estabelecer ligações específicas. Pesquisadores descobriram uma atividade incomum em duas regiões cerebrais que governam o prazer, a motivação e a recompensa. Drogas como cocaína estimulam de maneira semelhante esses centros de recompensa, por meio da liberação de dopamina. Uma primeira conclusão seria, então, a de que o amor funciona, para humanos, como um tipo de droga. E o beijo evoca reações primais. Assim como o desejo, o ato de beijar suprime a prudência e a inibição. Durante um beijo a maioria das pessoas fica, provavelmente, encantada demais para se importar com isso.

Com base em descobertas recentes, Gallup argumenta que o beijo desempenha um papel crucial na progressão de um relacionamento, mas de forma diversa para homens e mulheres. Em um estudo feito em 2007 foram entrevistados 1.041 universitários de ambos os sexos a respeito do beijo. Para a maioria dos rapazes ouvidos, acariciar a boca da outra pessoa com a língua é uma maneira de avançar no relacionamento sexual. Como as mulheres têm menores possibilidades biológicas de perpetuar seus genes, já que necessitam investir mais energia para ter filhos, é fundamental que sejam mais criteriosas na escolha de seus parceiros - e não podem se permitir muitos equívocos. Dentro dessa lógica evolucionista, quanto mais apaixonado o beijo, maior a chance de o parceiro ser um bom companheiro não só para a procriação - mas suficientemente comprometido também para ficar por perto e criá-los.

Por outro lado, o beijo talvez não seja tão necessário do ponto de vista evolutivo. Afinal, a maioria dos animais não se beija e, mesmo assim, produz muitas crias. E nem todos os humanos beijam. Na virada do século 20, o cientista dinamarquês Kristoffer Nyrop descreveu tribos finlandesas cujos membros se banhavam juntos, mas consideravam o beijo indecente.

O pioneiro da etologia humana Irenäus Eibl-Eibesfeldt, escreveu em seu livro de 1970 Love and hate: the Natural History of behavior patterns, que pelo menos 10% da humanidade não beija. O resultado de suas pesquisas sugere que cerca de 650 milhões de indivíduos da espécie humana não dominaram a arte da osculação - , o termo científico para o beijo - o que representa um número maior do que a população de qualquer nação na Terra, com exceção da China e da Índia.








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