sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Dieta do coração verde e amarelo - Thaís Manarini


Aclamada nos quatro cantos do planeta por prevenir problemas cardiovasculares, a dieta do Mediterrâneo serviu de alicerce para a criação de um cardápio igualmente amigo do peito, só que composto de alimentos e receitas tipicamente tupiniquins. Elaborado pelo Hospital do Coração (HCor), na capital paulista, em parceria com o Ministério da Saúde, o menu inclui, entre outros itens, arroz, feijão, castanhas como a de caju e frutas nacionais, a exemplo do açaí, do abacaxi e da goiaba.

"Temos muitas pesquisas em cardiologia no Brasil, mas, até agora, nenhuma que tenha se debruçado sobre o efeito da nossa alimentação na redução de eventos cardíacos", contextualiza a nutricionista Camilla Ragne Torreglosa, uma das integrantes da equipe que desenhou a nova dieta. Esta, inclusive, já foi posta à prova em um estudo piloto, do qual participaram 120 indivíduos com histórico de piripaques no coração. Enquanto uma parte seguiu o cardápio verde e amarelo do HCor, a outra recebeu as recomendações clássicas para evitar outro susto - como o consumo de alimentos característicos de países banhados pelo mar Mediterrâneo, caso do azeite de oliva e dos pecados.

Depois de 12 semanas, os pesquisadores notaram uma diminuição de peso mais significativa na turma que investiu nos pratos cheios de brasilidades. "Com isso, o perfil metabólico dos voluntários melhorou. Ou seja, os triglicerídeos, a glicemia e a pressão arterial baixaram", conta Camila. "São exatamente esses fatores que contribuem para a ocorrência de males cardíacos", completa. Outro ponto positivo foi a queda dos índices de colesterol, mais um financiador de panes nas artérias. O resultado empolgou os especialistas a iniciarem uma análise nacional, com 2 mil pacientes de 40 centros de referência em cardiologia e acompanhamento de um ano. 

Nesse projeto, mais uma vez o objetivo é avaliar o efeito na prevenção secundária - ou seja, em pessoas que já se assombraram com problemas cardiovasculares. "Quem infartou ou teve derrame apresenta um risco 7,5 maior de passar novamente pela situação em um período de quatro anos", justifica o cardiologista Marcus Bolívar Malachias, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Logo, esse pessoal precisa de atenção redobrada para manter o peito ou o cérebro em ordem. E está mais do que comprovado que a alimentação tem papel de destaque nesse cenário. "Estudos mostram que mudanças de hábitos, que abrangem refeições mais balanceadas e prática de exercícios, surtem efeitos incríveis na prevenção de doenças cardíacas", ressalta Malachias.

A sacada da dieta verde e amarela está justamente no fato de que não exige reviravolta bruscas à mesa. Pelo contrário. "Ela propõe um resgate da alimentação tradicional brasileira, com valorização de receitas como o arroz com feijão, preparados em quantidades mínimas de sal e gordura", diz Patrícia Jaime, coordenadora geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde.

Além de itens comuns a toda a nossa população, a nova dieta cardioprotetora ainda privilegia pratos e ingredientes regionais. São bons exemplos, o açaí do Norte, a gabiroba do Centro-Oeste, a tapioca do Nordeste e o chimarrão do Sul. "O Brasil é enorme e os costumes são diferentes em cada região. Então, se a dieta contempla essa diversidade, fica muito mais fácil garantir a aceitação das pessoas", opina Elisabete Almeida, diretora executiva do programa Meu Prato Saudável, vinculado ao Hospital das Clínicas de São Paulo. Essa peculiaridade dá larga vantagem ao cardápio do HCor em relação à dieta mediterrânea. Resta saber se trará benefícios semelhantes ou mais surpreendentes. Até agora, sem puxar a sardinha, tudo conta a favor dele.


Duas dietas e... a mesma meta

Itens típicos do menu mediterrâneo têm similares aqui. E às vezes os nossos levam vantagem


Vinho x Suco de Uva

A dieta europeia inclui uma taça de vinho ao dia. Mas você pode optar pelo suco de uva sem açúcar. Ele também é rico em substâncias antioxidantes, como flavonoides, ácidos fenólicos e resveratrol, que ainda ajudam a elevar o colesterol bom (HDL) e reduzir o ruim (LDL). Por não conter álcool, o refresco tem passe livre na rotina de todo mundo - de crianças a idosos.


Cavalinha x Sardinha

O arenque e a cavalinha podem dar lugar a uma espécie bem acessível aqui, como a sardinha, que carrega muito ômega-3, gordura que resguarda o coração. Ela é pouco calórica e ainda oferta boas doses de ferro e cálcio. Priorize a versão fresca, já que a enlatada tem muito sódio, mineral que faz a pressão subir. Peixes de rio também são bem-vindos, embora não sejam fontes de ômega-3.


Azeite de oliva x Óleo de canola

Grande estrela da dieta do Mediterrâneo, o azeite de oliva é abastecido de gorduras monoinsaturadas, aliadas das artérias. Porém, o óleo de canola - mais barato - também é vantajoso. Fonte de ômegas 3 e 6, dois parceiros do peito, ele só perde um pouco de suas propriedades por ser refinado. O ideal mesmo seria usar o azeite em saladas e na finalização dos pratos e o óleo de canola no cozimento.


Nozes x Castanhas

As oleaginosas em geral têm gorduras mono e poli-insaturadas, além de vitamina E. Apesar de calóricas, elas derrubam o colesterol e ajudam a evitar o entupimento dos vasos. Em vez de nozes, pistache e avelãs, dá para investir no amendoim e nas castanhas (que são até mais baratos). Prepare um mix com 1 castanha-do-pará, 3 de caju e 1 colher de sopa rasa de amendoim torrado. Um ótimo lanche da tarde.



(texto publicado na revista Saúde nº 363 - abril 2013)











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