sábado, 28 de setembro de 2013

Essa nossa humanidade: Habemus Papam - film di Nanni Moretti


Em Habemus Papam, o diretor italiano Nanni Moretti conta a história de um papa acossado por angústias e inseguranças

Há séculos a Igreja Católica segue um mesmo ritual: quando um papa morre, os cardeais se reúnem em conclave para eleger o novo Sumo Pontífice.  A escolha é feita por votação, e o eleito deve ter mais de dois terços dos votos. Um princípio, contudo, permanece fundamental: para os católicos, a decisão dos cardeais é guiada pelo Espírito Santo, o que torna o escolhido inquestionável. Esse é o mote do novo longa do cineasta italiano Nanni Moretti, cômico, sem deixar de ser sensível e dramático. Depois de dias de expectativa por parte dos fiéis e de busca de consenso entre os religiosos presentes no conclave, finalmente, chega o momento de anunciar "Habemus Papam". O novo pontífice, porém, sente o peso da responsabilidade e, angustiado, sem julgar-se capaz de assumir a missão que lhe cabe, pede aos colegas um tempo. A inusitada e trágica situação faz com que o cardeal carmalengo - aquele responsável pela administração da Santa Sé - e o porta-voz do Vaticano chamem, em sigilo, um famoso psicanalista para ajudar o novo papa. Diferentemente de seus filmes mais políticos, neste longa Moretti não tem intenção de questionar as regras da Igreja nem a figura do Santo Pontífice; o que ele faz, de modo brilhante, é revelar o homem que se esconde atrás do religioso: sua fé, suas dúvidas, suas memórias mais antigas e, principalmente, os medos que o impediram de seguir sua verdadeira vocação. Aliás, qual é sua verdadeira vocação? A cena em que o papa escuta a homilia de um padre jovem, como se buscasse reconhecer o que nele restava dos ideais do início da vida religiosa, sugere a busca por respostas. Outro momento bastante significativo, além de poético, traz como trilha sonora a canção "Todo Cambia" (Tudo Muda), na voz de Mercedes Sosa: os cardeais escutam-na no Vaticano enquanto o novo papa - "à paisana" - acompanha a apresentação de um grupo de rua. "E, assim como tudo muda, que eu mude não é estranho", diz a música. Com atuações impecáveis - destaque para o ator francês Michel Piccoli, que interpreta o pontífice -, o filme propõe uma reflexão, ao mesmo tempo divertida e melancólica, sobre as escolhas e limitações humanas, as exigências sociais e a possibilidade pessoal e intransferível de cada indivíduo de dizer "sim" ou "não" ao papel que lhe cabe na vida.



(texto publicado na revista Vida Simples nº 116 - março 2012)



Habemus Papam - trailer

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