Conheça o kaizen, a ideologia de origem japonesa que visa nos ajudar a resolver os problemas sem medo e a mudar o que precisamos
Mudanças são assustadoras. Esse é um fato inevitável sobre o ser humano, seja com relação a mudanças aparentemente insignificantes (ir a um restaurante novo) ou extremamente importantes (ter um filho). O medo de mudar está enraizado na fisiologia do cérebro e, quando toma conta da nossa mente, pode impedir a criatividade e sucesso.
Do ponto de vista de vista evolutivo, o cérebro é um dos órgãos mais extraordinários do corpo humano. Os outros, como o coração, o fígado e os intestinos, são tão desenvolvidos que não sofrem alterações há milênios. Mas durante os últimos 400 ou 500 milhões de anos, o cérebro continua se aperfeiçoando.
Talvez você já tenha passado por essa situação: quanto mais importância dava à prova, quanto mais se preocupava com os resultados, mais medo você sentia. Então não conseguia se concentrar. E uma resposta que estava na ponta do lapís um dia antes simplesmente desaparecia da sua cabeça.
Alguns sortudos conseguem contornar esse problema ou transformar o medo em outro tipo de emoção: entusiasmo. Quanto maior o desafio, mais entusiasmados, produtivos e animados eles ficam. Você provavelmente conhece algumas pessoas assim. Elas se transformam quando veem um desafio pela frente. Mas, para a maioria de nós, grandes objetivos são muito assustadores.
Os pequenos passos do kaizen são uma espécie de solução furtiva para essa qualidade do cérebro. Em vez de passarmos anos fazendo terapia para tentar entender por que temos medo de melhorar nossa aparência ou de alcançar nossos objetivos profissionais, podemos usar o kaizen para contornar esses medos.
O kaizen também lhe ajuda a vencer o receio de mudar de outra forma. Quando você está com medo, o cérebro é programado para fugir ou para atacar. Se o seu sonho é ser um compositor, por exemplo, seu objetivo não será alcançado se você se levantar do piano por medo ou por um bloqueio criativo e passar o resto da noite assistindo à televisão. Pequenos atos satisfazem a necessidade do seu cérebro de fazer algo e aliviam a ansiedade.
Perguntas negativas
O poder que as perguntas têm de moldar experiências e comportamentos não se limita a usos dinâmicos e positivos. Já ouvi inúmeras vezes meus clientes se fazerem perguntas extremamente dolorosas e desagradáveis. Você mesmo já deve ter se flagrado perguntando:
- Por que sou um perdedor?
- Como pude ter tão idiota?
- Por que todo mundo tem uma vida mais fácil que a minha?
Essas perguntas também possuem o poder de engajar o cérebro, lançando uma luz forte e impiedosa sobre nossos erros e defeitos - verdadeiros, imaginários ou exagerados. Essa energia é usada para criar fraquezas. Se você tende a se repreender com perguntas negativas ("Porque sou tão gordo?"), tente se perguntar: "O que eu mais gosto sobre mim hoje?" Faça essa pergunta a si mesmo diariamente e escreva a resposta em um papel.
Técnica kaizen
As perguntas a seguir foram formuladas para que você adquira o hábito kaizen de se fazer pequenas perguntas. Algumas se referem especificamente a objetivos, outras lhe ajudarão a buscar uma melhoria contínua em todas as áreas da vida.
Ao começar, lembre-se de que estará reprogramando seu cérebro e de que leva algum tempo para que novas vias cerebrais se desenvolvam. Então escolha uma pergunta e a faça repetidamente por vários dias ou até mesmo semanas. Tente se fazer essa pergunta com frequência, quem sabe, após o café da manhã, quando entrar no carro ou ao se deitar para dormir. Pense em escrever sua pergunta em um post-it e colar o papel na cabeceira (ou no painel do carro ou na xícara de café). Sinta-se à vontade para criar suas perguntas.
- Se está infeliz mas não sabe o porquê, tente se perguntar: "Se tivesse certeza de que não iria fracassar, o que eu estaria fazendo de forma diferente?". A natureza lúdica dessa pergunta leva seu cérebro a se sentir seguro em responder de forma sincera, de modo a produzir algumas respostas surpreendentes que podem ajudá-lo a definir seus objetivos. Alguém que esteja estagnado no trabalho pode descobrir que gostaria de largar o emprego e estudar paisagismo; outra pessoa tem a chance de perceber que precisa apenas ter coragem de pedir ao chefe que cumprimente os funcionários.
- Se está tentando alcançar um objetivo específico, pergunte a si mesmo todos os dias: "Que pequeno passo eu poderia dar para alcançar meu objetivo?" Seja em voz alta ou em pensamento, lembre-se de utilizar um tom gentil quando fizer a pergunta - o mesmo tom que usaria com um amigo ou uma amiga.
- Quem tem um conflito desgastante com outra pessoa - um chefe, funcionário, sogro ou vizinho - e está tentando superar esse problema. Todos os dias, faça a si mesmo a seguinte pergunta: "Qual é a característica positiva que essa pessoa possui?". Em breve você será capaz de enxergar os pontos fortes com a nitidez e detalhe com que via os defeitos.
- Se você tende a ser pessimista ou negativo, tente se perguntar: "O que eu tenho de especial, ainda que seja pequeno?" Se continuar a se fazer essa pergunta, seu cérebro será programado para procurar o que é bom e correto, e, a partir disso, você poderá decidir fazer uso dessa grande qualidade em atividades em família ou no trabalho.
(texto publicado na revista AnaMaria nº 1030 - 8 de julho de 2016)
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