quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Bem-estar: Cérebro, vida saudável e intestino - Darlene Ponciano Bomfim


Cerca de 20% da população brasileira apresenta problemas de "prisão de ventre", a maioria mulheres. Esta queixa cresce a cada dia, tanto quanto a oferta de laxantes como "salvadores da situação". 

Na nossa cultura greco-romana, o centro das emoções é o coração, mas, em outras culturas antigas, mesopotâmicas, a caixa de ressonância das emoções é o aparelho digestivo, em especial o intestino. Existe uma verdadeira conexão entre o cérebro e o aparelho digestivo. O intestino "responde" ao estado emocional. Pode soltar, prender, produzir cólicas, gazes e até originar doenças graves e de difícil controle.

Sabemos que tudo no nosso organismo funciona de forma integrada. Tensão, medo, ansiedade, estresse, correria, raiva, tristeza geram reações em todo organismo. Um dos órgãos que "sente" os reflexos disso tudo é o intestino.

O intestino humano tem cerca de cem milhões de neurônios conectados ao cérebro. É como se possuíssemos um "cérebro intestinal". As funções do intestino não se resumem a conduzir o alimento que ingerimos, transformando-os em fezes. Além de selecionar os nutrientes, exercer uma excelente absorção deles e da água, ele contribui essencialmente com o sistema imunológico. É no intestino que acontece de 80% a 90% da síntese da Serotonina, o neurotransmissor responsável pelo prazer e sensação de bem-estar, mas ela também é precursora da Melatonina, elemento essencial para o sono e para a limpeza de radicais livres.

Além da Serotonina, o intestino produz uma série de outros neurotransmissores. Todo o esforço no tratamento das depressões, por exemplo, se concentra nestes neurotransmissores. Imagine a importância disso. Portanto, cérebro e intestino compõem uma via de mão dupla.

Mas o que é um intestino normal? Nem preso, nem solto. Sem exagero de gazes, sem cólicas. Mas como manter afiada essa orquestra exigente? O segredo é tão amplamente conhecido que corre o risco de ser deixado de lado: água, muita água - de 2 a 3 litros por dia -, alimentação rica em fibras, como verduras, legumes e frutas, e exercícios físicos.

Isso é essencial e imprescindível. Além disso, é preciso ficar atento à frequência com que se vai ao banheiro. Quando essa frequência é irregular, causa um desconforto que pode ser leve, grave ou até desesperador. O normal para o funcionamento do intestino é uma frequência entre três vezes ao dia e uma veza cada três dias. O mais comum, contudo, é uma vez ao dia. Essa é a faixa aceitável, porém o importante é que o ato de ir ao banheiro não cause sofrimento e desconforto. O intestino "avisa" quando precisa ir ao banheiro, exercendo estímulo no reto. Se a pessoa inibe a vontade de ir ao banheiro, o reto vai perdendo a sensibilidade, o que vai exigir maior quantidade de fezes para que a vontade de evacuar venha novamente. Além do que as fezes ficarão mais tempo no intestino, distendendo e perdendo mais água, ficando mais duras. Isto vai provocar desconforto e, ao longo do tempo, pode provocar hemorroidas e outras patologias.

Ser fiscal e cuidador da nossa própria saúde pode parecer difícil, pois requer conhecer o próprio corpo, tomar decisões e admitir erros. Resolver a prisão de ventre com laxantes e outras pílulas mágicas é um caminho que a indústria nos impõe de forma assustadora. Esses medicamentos estimulam as células intestinais a se contraírem, levando-as a se exaurirem e a morrerem. Causam dependência. O intestino piora, fica mais relaxado, menos responsivo e assim a pessoa tem que tomar doses cada vez maiores. O importante é a pergunta de sempre: o que está acontecendo comigo?

Alimentos que colaboram com o bom funcionamento do intestino

- Arroz, pães e massas integrais.

- Sementes, especialmente a de linhaça (deixar de molho em água).

- Farelo de trigo, aveia.

- Frutas que podem ser ingeridas com casca. E frutas que se pode ingerir com o bagaço.

- Folhas verdes em geral.

- Leguminosas.

- Iogurtes e outros leites probióticos.



(texto publicado na revista Cidade Nova edição 584 - ano LVI - nº 12 - dezembro de 2014)

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