quarta-feira, 16 de maio de 2012

E se Roma não tivesse caído? - Alexandre Versignassi e Fernando Brito

Cair, cair mesmo, Roma nunca caiu. Não culturalmente: este texto está em português, um dialeto do latim, língua que chegou à península ibérica por causa dos romanos. Mais: está é a Super Interessante do mês da deusa Juno (junho), a rainha das divindades deles. E depois vêm os meses de Júlio César (julho) e o de seu sobrinho-neto, Augusto (agosto) - imperador que roubou um dia de fevereiro para que seu mês ficasse tão longo quanto o do tio. Até o nosso dinheiro tem algo de Roma. Os primeiros planos econômicos que substituíram uma moeda desvalorizada por uma nova aconteceram lá. No ano de 312, trocaram o áureo pelo sólido. Cada 275 mil áureos viraram 1 sólido. Em 1994, cada 2.750 cruzeiros viraram 1 real. Mas é fato: se o império não tivesse se esfacelado no século 4, vítima de sua própria corrupção, o mundo seria outro. Para começar, não teria existido a Idade Média. No lugar de uma Europa dominada por feudos, com cada um no seu quadrado e zero de crescimento econômico por 1.000 anos, veríamos o comércio progredir. Em alguns aspectos, o futuro chegaria mais cedo - a revolução industrial e o capitalismo moderno teriam aparecido antes. Isso azeitaria as engrenagens da produção, e o século 19, que marcou o início da urbanização no século 9. Mas isso não significa que estaríamos num mundo Jetsons agora. A Roma moderna seria parecida com outro império da Antiguidade que nunca ruiu: o chinês. A Europa teria sido menos permeável à influências de fora, como a dos árabes.

O mundo seria mais divertido, sangrento e burro

1) Copa de Rollerball - Tinha até batalha naval, no Coliseu. Essa era a sofisticação dos espetáculos de Roma. Imagine então como seriam os esportes hoje. Futebol? Esquece. Monótono demais para romanos. Era mais fácil que a Copa 2010 fosse de rollerball.

2) Brasil árabe - Somos filhotes das navegações em busca de especiarias na Ásia, que trombaram com o Novo Mundo por acaso. Na época de Roma, esse comércio era bem estabelecido por terra. Se isso continuasse, os Europeus teriam demorado para se lançar ao mar. E os árabes pdoeriam ter chegado aqui antes, via Marrocos.

3) Neovikings - O comércio naval de especiarias atraiu primeiro os portugueses. Depois os britânicos viriam na cola. Com Roma e sem as navegações inglesas, a América do Norte ficaria para seus descobridores de fato: os escandinavos, que fundaram mesmo uma colônia no atual Canadá, no século 10.

4) Governador Ratzinger - Na Idade Média, o papa assumiu o papel de centralizador de poder que antes cabia ao imperador. Com Roma de pé, ele seria menos importante. E o catolicismo poderia ter só chefes regionais. Bento 16 seria um deles. Ou tentar um cargo mais poderoso, tipo governador da Germânia.

5) Burros demais - Uma Roma forte impediria que os árabes se aproximassem da Europa. Mas foram eles que trouxeram a matemática moderna para o Ocidente, com a álgebra e os números arábicos. Sem essas ferramentas, a ciência ficaria atada. E a revolução da eletrônica, herdeira da física quântica, não aconteceria. Adeus,  iPhone.


(texto publicado na revista Super Interessante)



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