Histórias sobre a lealdade e atos heróicos de muitos animais sempre nos fascinam. Embora não exista uma explicação puramente racional para algumas delas, não há dúvida de que sempre transmitem grandes lições aos seres humanos.
Um vídeo divulgado na Internet em 2008 mostrou ao mundo o ato de heroísmo de um cachorro, aparentemente um vira-lata, que tentou salvar um cão atropelado na rodovia Vespucio Norte, em Santiago, no Chile. As cenas foram captadas pelas câmeras da estrada. O cão se aproximou do animal atropelado e o arrastou com dificuldade para a margem da estrada, em meio a automóveis e veículos pesados como caminhões.
Rapidamente funcionários da estrada chegaram ao local e retiraram os dois animais da pista. A vítima do atropelamento não resistiu e morreu no local. O "herói" fugiu em seguida. O vídeo é comovente. Ele mostra que o cão, alheio a todo o perigo, tentou desesperadamente salvar o outro, colocando em risco sua própria vida.
Histórias deste tipo são comoventes, pois demonstram ações, por parte dos animais, que muitas vezes os seres humanos seriam incapazes de realizar. Para quem tem alguma dúvida sobre a lealdade dos animais ou suas capacidades "heroicas", basta realizar uma busca pela Internet, na mídia ou em livros que analisam o comportamento de animais.
Algumas dessas histórias são incríveis. É muito difícil acreditar, por exemplo, na história de Binti, um gorila do zoológico de Chicago que pegou cuidadosamente nos braços um menino que havia caído na vala que circundava o recinto dos primatas, colocando-o onde os funcionários do zoológico pudessem pegá-lo.
Existem inúmeros relatos sobre animais de estimação, como cães, gatos, pássaros ou macacos, que foram capazes de alertar seus donos sobre perigos, como a presença de assaltantes. Há também uma série de narrativas a respeito de animais que levam adultos até crianças que estão perdidas ou em situações de risco ou que procuram ajuda quando seus donos sofreram algum tipo de acidente ou problema grave de saúde.
Em 26 de agosto de 2011, o site da edição norte-americana da revista The week publicou um artigo sobre cães que foram capazes de enfrentar situações de perigo para ficarem próximos daqueles que amam. Além de contar a história do cão que tentou salvar outro cão do atropelamento no Chile, o site traz histórias de lealdade de cães com seus donos e com outros de sua própria espécie.
Uma delas narra que, após o terremoto devastador do Japão em março de 2011, os jornalistas que cobriam a destruição da prefeitura de Ibaraki, no nordeste do Japão, foram surpreendidos por um cão que os guiou até uma casa destruída, onde encontraram um cão ferido que estava entre os destroços. O animal foi socorrido por uma equipe de emergência especializada em animais. Segundo as informações, o cão herói ficou ao lado de seu parceiro durante 6 dias até conseguir pedir socorro.
O site ainda descreve a história de Leão, o cão vira-lata que ficou deitado ao lado do túmulo de seu dono, este último vítima das inundações e deslizamentos que ocorreram em Teresópolis, Rio de Janeiro, em janeiro de 2011.
Outra história apresentada no site fala do desaparecimento de um jovem de 25 anos de idade, Jake Baysinger, em 2008. Em agosto deste ano, seu pastor alemão foi encontrado por um grupo de pesquisadores vagando pelas planícies do Colorado e o animal os levou até o corpo de seu dono, que aparentemente havia cometido suicídio. A presença do cão ao lado do corpo de seu dono durante seis semanas evitou que ele fosse atacado por coiotes da região.
Apesar das notícias de atos heroicos de animais geralmente abordarem cães, existem outros animais capazes das mesmas atitudes. Em julho de 2008, um papagaio salvou uma família de um incêndio, em Oak Fair, Reino Unido. Com três anos de idade, o papagaio cinzento acordou com seus gritos todos os membros da família quando as chamas se espalharam pela sala de estar. Francis Hall e seus dois filhos conseguiram fugir levando a gaiola do pássaro.
A BONDADE DOS ANIMAIS, SEGUNDO KRISTIN VON KREISLER
Algumas atitudes de lealdade e compaixão de animais se tornam mais surpreendentes quando têm como protagonistas animais que naturalmente não deveriam ser amigos. Kristin Von Kreisler, em A Bondade dos Animais (Cultrix), relata muitas histórias desse tipo e de animais com seus donos ou com outros animais. Segundo a autora, os animais podem atravessar fronteiras entre espécies e formar ligações incomuns muitas vezes baseado n lealdade. "Koko, o famoso gorila que se comunicava fazendo sinais com as mãos, tornou-se amigo fiel de um gatinho. Um macaco de Bangladesh, certa vez, adotou um cachorrinho. Em um centro de reabilitação para primatas órfãos da África do Sul, dois babuínos muito jovens, chamados Holly e Berry, ficaram ligados com tanta lealdade a cães adultos caçadores de lobos que lhes faziam cafunés, repousavam sua cabeça em seu estômago e aí adormeciam."
Para Kreisler, os casos que demonstram a lealdade entre animais de espécies diferentes revelam que alguma coisa especial está acontecendo. "Animais envolvidos fazem um esforço um tanto anti-instintivo para ficarem tão próximos uns dos outros. Eles também estão demonstrando tolerância para as diferenças, uma aceitação dos outros exatamente como eles são e boa vontade para por de lado animosidades e temores naturais. Há uma bela confiança envolvida na lealdade animal."
Essas histórias têm como características lealdade e fidelidade. Mas quais seriam as explicações científicas para estes comportamentos? Kreisler descreve em seu livro alguns estudos realizados sobre esta questão, embora nenhum consiga esclarecer a relação e o vínculo entre espécies diferentes.
PESQUISAS CIENTÍFICAS
De acordo com as pesquisas realizadas por Sue Carter, a lealdade entre os animais pode estar relacionada ao hormônio oxitocina, liberado pela glândula pituitária posterior e pelo hipotálamos fabricado. Seu estudo é baseado na análise do comportamento dos arganazes (roedores arborícolas aparentados com os esquilos), mamíferos considerados fiéis e monogâmicos. Suas fêmeas sob a ação da oxitocina criam um elo forte com o macho que estiver mais próximo delas. Estudos também comprovam que a oxitocina está associada aos vínculos que as mães de diversas espécies têm com seus bebes.
Outro estudo, realizado por cientistas do Yerkes Research Center, da Universidade de Emory, concluiu que a vasopressina, um hormônio liberado pelos machos arganazes quando se acasalam, pode ser a responsável pela fidelidade a uma fêmea. Segundo pesquisas, este hormônio, conhecido como hormônio social, pode ser a responsável pela fidelidade entre os animais.
Além dos hormônios, a lealdade entre animais pode surgir por meio de um desejo de se beneficiar, ou seja, adquirir algum tipo de vantagem na relação. Este conceito é defendido por Sally Mendonza, da Universidade da Califórnia, que estuda macacos da espécie titi. Ela conta que eles sempre estão próximos, comem e dormem juntos, porque desta forma ficam menos expostos aos predadores e têm também mais facilidade em encontrar alimentos.
Apesar das diversas explicações e teorias sobre os comportamentos de animais que demonstram lealdade e preocupação com os outros, não sabemos exatamente porque agem desta forma. Entretanto, essas histórias dão grandes lições aos seres humanos.
A estudiosa e defensora dos animais, Kreisler, diz que "a lealdade pode fazer os animais se lamentarem e se sacrificarem e, até mesmo, morrerem por outros. Também pode encorajá-los a oferecer favores, a dar a si mesmos, estando dispostos a olhar por aqueles a quem estão ligados tão fielmente. E, a lealdade, com frequência, gera tanto a proteção mais selvagem como o conforto mais gentil. Todas essas ações nos falam a respeito de sensibilidades, das vulnerabilidades, das preocupações e da devoção dos animais, e nos mostram a intensidade emocional que pode haver por trás da lealdade dos animais. Sua fidelidade também torna clara a grande capacidade que eles têm para amar."
LEALDADE APÓS A MORTE
Histórias sobre a lealdade dos cães aos seus donos mesmo após a morte são emocionantes. O filme Sempre ao Seu Lado retrata um tema desse tipo. Estrelada por Richard Gere, a produção se baseia em fatos verídicos que aconteceram no Japão no início do século 20. Hachiko é o protagonista da história, o cão da raça akita que ficou famoso em todo o país depois que apareceu em reportagens de jornais que contavam sua história de lealdade ao seu dono, um professor da Universidade de Tóquio. A amizade dos dois teve início quando o professor o encontrou abandonado em uma caixa na estação ferroviária.
Todos os dias, Hachiko acompanhava seu dono até a estação de trem e estava lá quando ele retornava para casa. Certo dia, o dono morreu subitamente e não regressou. Apesar disso, o cachorro continuou indo todos os dias, por 9 anos, até a estação esperá-lo.
Algumas histórias semelhantes de lealdade animal podem ser encontradas no site tejiendoelmundo.wordpress.com. Uma delas conta a respeito do terrier Bobby, que pertencia a um policial da cidade de Edimburgo (Escócia). Os dois eram grandes amigos. O dono, entretanto, morreu de tuberculose em fevereiro de 1858. Bobby esteve presente no funeral e permaneceu durante 14 anos guardando o túmulo do amigo morto.
Remembering Greyfriars Bobby
Outra história relatada, divulgada no Jornal de Israel Maariv em 2007, conta que um cão se recusou a abandonar o corpo de seu dono, Vladimir Yaronov, no cemitério de Safed, localizado no norte de Israel. A cadela foi apelidada de Clara por funcionários do cemitério.
Na cidade de Cádiz, no final da década de 1980, o cão Canelo acompanhava todos os dias seu dono até a porta do hospital Puerta de Mar, onde o homem se submetia a sessões de diálise. Certo dia, o homem enfrentou complicações no tratamento e acabou morrendo. Canelo continuou esperando por sua saída durante 12 anos. Os moradores locais, ao tomarem conhecimento de sua história, passaram a cuidar dele até o dia em que morreu.
Homenagem a Canelo
(texto publicado na revista Animais doutrina & espiritualidade nº 7)
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