terça-feira, 20 de outubro de 2015

Lucas Garcia, o ciclista dos livros - Sibele Oliveira


Carregando uma biblioteca sobre rodas, Lucas encontra novos leitores para os livros antigos

"NÃO BUZINE, DOE LIVROS." A frase impressa numa placa fixada no triciclo amarelo do produtor cultural Lucas Garcia atrai olhares. Atrás dela, os livros ficam acomodados numa estante de alumínio com duas prateleiras, que dão vida à pequena biblioteca móvel batizada de Cicloteca. Pelo menos uma vez por mês, Lucas percorre as ruas da cidade do Rio ou de municípios vizinhos, como Niterói, ao encontro de leitores de todas as tribos e perfis interessados em romances, clássicos, infantis e outros gêneros literários. Todos ficam surpresos ao saber que não precisam pagar nem devolver as obras. É só escolher e levar. "Os livros das bibliotecas voltam. Na Cicloteca, eles vão com o propósito de não voltar mais, de multiplicar os a fetos e rastros que rabiscam a trajetória dos leitores", diz Lucas. Duas paixões o levaram a ter essa ideia: o prazer de andar de bicicleta e o encanto pelos livros. Lucas teve a ideia de carregá-los na garupa durante seu mestrado em cultura e territorialidades. No curso, ele soube que o poeta Mário de Andrade criou uma biblioteca itinerante, em meados de 1930. O empréstimo dos livros, transportados em um caminhão, era feito nas praças paulistanas. Lucas queria fazer algo parecido, mas que fosse uma alternativa mais sustentável do que um caminhão. A solução foi usar a bike. Lucas se define como um mediador entre as pessoas que querem doar e ganhar livros, sem nenhum tipo de trabalho ou burocracia. Sua interação com o público acontece quando é abordado nas ruas, no site e na fan page do projeto no Facebook. Assim, a Cicloteca nunca fica desabastecida. Já recebeu mais de 500 obras de uma só vez. Sempre que ela vai para a rua, entre 80 e 120 livros encontram novos leitores. Desde que a Cicloteca ganhou as ruas, cerca de 1200 obras já mudaram de mãos. Algumas valiosas, outras novas e muitas com lembranças de seus antigos donos. "Às vezes, os livros vêm com alguma marca e eu colo com durex. Uma dobrinha no canto da folha quer dizer alguma coisa. Alguém marcou, deixou uma pegada. É mais um caminho para seguir, mais uma porta para se abrir", filosofa.



(texto publicado na revista Vida Simples edição 164 - novembro de 2015)

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