sábado, 27 de fevereiro de 2016

O aprendizado já começa com a economia na compra do material escolar - Silvana Silva


Com uma crise sem data para acabar, qualquer economia é bem-vinda. Esperar o cartão de crédito virar adia o pagamento da fatura para o mês seguinte, mas não representa necessariamente economia. Pais e filhos podem descobrir juntos outros caminhos para gastar menos.

Nem sempre é  preciso comprar tudo novo. A regra dos "3 Rs" pode ser aplicada facilmente. Reuse o que tem, recicle o que for possível e reduza os gastos. Quem tem filhos ou sobrinhos mais velhos pode ter o que precisa em casa ou na família. Lápis de cor, por exemplo. Com a febre dos livros para colorir muitos adultos aderiram à moda e compraram lápis e canetinhas que acabaram no fundo das gavetas. Reuse. Muitos livros também podem ser reutilizados. Com uma capa nova, ganham outra vida.

A arquiteta Flávia Pimenta foi às compras acompanhada do filho Lucas de seis anos. Essa é a primeira vez que ela compra pessoalmente o material e teve uma surpresa. Antes, a escola oferecia um kit pronto. Dessa vez, a mãe descobriu que, apesar da comodidade, a economia é maior nas compras feitas por conta própria. "A diferença é de R$ 2, R$ 3 reais por item que no final podem representar uma boa diferença", diz. Lucas é apaixonado por futebol e pelo Barcelona. Queria estojo e cadernos com a marca da equipe espanhola, mas a mãe ainda tinha dúvidas se levaria tudo. "No caixa eu decido. Talvez leve o estojo que dura mais" - acrescentou. 

As franquias exercem um enorme fascínio sobre as crianças e adolescentes e nessa hora os famosos heróis do cinema e dos quadrinhos, na ótica dos pais, não passam de vilões disfarçados. Se um dia exerceram alguma influência sobre essa geração mais velha, pode-se dizer que a crise econômica tem o mesmo poder da criptonita sobre o Super-Homem. O marketing pesa no custo, mas não é só. O peso dos tributos sobre esse tipo de material também tem relevância. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação, 47,9% do preço de uma caneta é imposto. Réguas, agendas e apontadores também têm impostos pesados, que chegam a 40% do valor cobrado no caixa.

Para evitar negociações públicas e a birra das crianças, muitos pais preferem fazer compras sozinhos e não dão opção de escolha. A administradora Giordete Braga tem uma única filha que frequenta nesse ano, o infantil 2. A mãe não reclama da lista. "O material está dentro da proposta pedagógica e recreativa, mas os preços são abusivos", afirma. A menina, do carrinho, acompanha as escolhas da mãe que decide o que vai ou não ser levado.

O aposentado Jorge Duarte foi incumbido de comprar o material escolar do neto. Quando fazia o mesmo para os filhos não havia tanta variedade. Hoje, ainda enfrenta o gosto das crianças, mas prefere avaliar o custo-benefício de cada item antes da compra. "Você pega aqui um exemplo: uma caixa de lápis 2 B de uma marca custa R$ 5,80, de outra, R$ 10,40. A diferença é absurda", explica.

Uma pesquisa realizada pelo PROCON na primeira semana de janeiro registrou diferenças ainda maiores. Em uma borracha era de 420%. Numa loja da zona norte custava R$ 0,48. Na zona oeste, a mesma borracha custava R$ 2,50. Havia também diferença de 123% nos cadernos universitários de 96 folhas com capas de times de futebol, variando entre R$ 8,90 e R$ 19,90.

Além de pesquisa, a compra em grupo com outros pais é uma alternativa. Em qualquer situação, pechinchar é outro hábito que merece ser resgatado, principalmente nas compras em grupo ou no caso de famílias que têm mais de um filho.

Artigos de papelaria encantam até adultos. Por isso, pais que curtem esse tipo de material também precisam ter controle. É o caso da professora universitária Luciana Sena Magalhães, que acha tudo muito bonito. Mãe de dois meninos: João Luiz, de um ano e meio, e Eduardo, de quatro e meio. Ela foi às compras com o marido, sem as crianças. O mais novo não entende o que acontece ainda, avalia, mas o Eduardo já tem suas preferências que nem sempre são as mais baratas. Na lista da escola constava um "estojo tri completo". "Não sei bem o que é. Não conheço. Têm três divisões com lápis coloridos, canetas, etc, mas se achar vamos avaliar se vale a pena comprar tudo junto ou separado", planejava Luciana.

Ela não é a única. As capas dos cadernos realmente são encantadoras, sem falar as agendas, caixas de lápis, canetinhas, apontadores, lancheiras térmicas e mochilas que, para o bem da coluna dos pequenos, o ideal é que elas tenham rodas. Se a criatividade dos desenvolvedores pudesse contaminar as crianças já seria meio caminho andado. Lisos, coloridos, brilhantes, em relevo não poderiam ser mais atraentes. Não faltam nem modelos em plástico rígido no formato de abelhas, joaninhas, corujas, entre outros, mas por volta dos 10 anos alguns estudantes podem achar alguns personagens infantis demais e prefiram malas pequenas com rodinhas mais discretas. Não se surpreenda.

Levar ou não as crianças às compras?

Karina Dias cursará o primeiro ano do ensino médio. Foi às compras com os pais e escolheu os cadernos que usará nesse ano, mas não explica a preferência por alguns temas. Confessa até que não guarda todos os cadernos. "É só uma questão de gosto mesmo", diz. Questionada sobre a possível influência sobre o aproveitamento escolar ou se o material colorido incentiva os estudos é taxativa: "Não mesmo! Não tem peso, não faz diferença", diz sorrindo.

A psicóloga Ana Cintra não vê ligação ente o resultado escolar e a estética do material, mas defende a participação das crianças nas compras. "Conversar com elas antes de sair para combinar algumas escolhas e limites é essencial. O preço, por exemplo, pode ser discutido com discursos como: 'vamos comprar os cadernos. Mas a soma não pode passar de tal valor'. Na realidade, a liberdade de escolha e a ida dos filhos junto com os pais são importantes e para a participação e a conscientização dos jovens perante a questão econômica", enfatiza a psicóloga. 

Guia de economia

TROQUE LIVROS: participe ou incentive a troca de livros didáticos com pais que possuem filhos com idades escolares diferentes. Isso pode ser incentivado nos condomínios e nas próprias escolas.

FAÇA COMPRAS EM GRUPO: reúna-se com outros pais para uma compra coletiva. Alguns estabelecimentos concedem bons descontos para compras em grandes quantidades.

FIQUE ATENTO AOS PRODUTOS FRANQUEADOS: nem sempre o material mais sofisticado é o mais adequado ou de melhor qualidade. Fique de olho nos preços de materiais com personagens e logotipos: eles costumam ser mais caros. Avalie o custo-benefício de cada item.

CUIDADO AO COMPRAR DE VENDEDORES AMBULANTES: o preço dos vendedores ambulantes pode ser menor, mas os produtos não possuem certificação do órgão responsável. Canetas hidrográficas costumam  ter vida curta.

FIQUE ATENTO AOS SEUS DIREITOS: o prazo para reclamar de produtos não duráveis que tenham apresentado problemas é de 30 dias; no caso dos duráveis, o prazo aumenta para 90 dias. Nas compras pela internet, o consumidor tem até sete dias para se arrepender, contados a partir do recebimento do produto ou da data da assinatura do contrato.


(texto publicado na revista Shop News Vertical edição 31 - ano 4)

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