segunda-feira, 27 de maio de 2013

Além de melhor amigo, também é inteligente - Antônio Marinho


Como fazia habitualmente, o músico Sidnei Waismann, de 66 anos, passeava, num bairro carioca, com sua cadela pastor Nina, quando sofreu tentativa de assalto e acabou caindo numa ribanceira. Só foi localizado cinco horas depois com a ajuda de seu cão, que levou os bombeiros até o local. Nos Estados Unidos, uma menina de 3 anos que sofre de doença respiratória grave tem uma vida quase igual á de outras crianças graças ao seu cão, o golden doodle Mr. Gibbs, que está sempre por perto com um balão de oxigênio em seu dorso, para qualquer emergência. Na Áustria, a cadela Betsy, uma border collie (raça considerada das mais inteligentes) reconhece mais de 300 objetos pelo nome, vocabulário equivalente ao de uma criança de 2 anos.

Na literatura médica há inúmeras histórias como essas, comprovando a capacidade cognitiva dos animais. Com os cães isso é mais evidente. Os estudos recentes comprovam que eles são extremamente inteligentes e melhoram a qualidade de vida de quem convive com eles. No Brasil, grupos como o Inataa, em São Paulo, e o Pelo Próximo, no Rio de Janeiro, sabem disso e usam cães em atividades com idosos, crianças e portadores de transtornos psicológicos, autismo e doenças mentais.

"Mas de nada adianta ter uma raça considerada inteligente se o dono não souber interagir com o cão", comenta Marcia Carreira, presidente do Brasil Kennel Club do Rio. Numa pesquisa com 368 voluntários, publicada no "Journal Personality and Social Psychology", psicólogos das universidades de Miami e de St. Louis, nos Estados Unidos, observaram que os pets, principalmente os cães, aumentam o bem-estar de seus donos. E na Austrália, estudo do Instituto de Pesquisa Médica Baker sugere que donos de animais de estimação sofrem menos de estresse. Um outro trabalho da Universidade Warwick, na Grã-Bretanha, revelou que crianças de 4 a 5 anos se recuperam mais rapidamente de doenças quando têm pets em casa, dado também observado em um estudo da Society for Companion Animal.

E essa capacidade de inteligência dos animais em auxílio a terapeutas já é aplicada no Brasil, por centros como o Instituto Nacional de Ações e Terapias Assistidas por Animais (Inataa) e Pelo Próximo - Solidariedade em Quatro Patas, nos quais voluntários como psicólogos, veterinários, fisioterapeutas, assistentes sociais, entre outros, usam os pets para melhorar a saúde física e mental, em atividades educacionais, de entretenimento e terapêuticas.

A psicóloga Roberta Araújo, do Pelo Próximo, explica que os "pet terapeutas" são facilitadores do trabalho dos profissionais de saúde, em clínicas, hospitais e residências, numa ação voluntária. Os condutores dos animais também recebem treinamento específico. "Mesmo as pessoas que têm medo ou não gostam de cães passam a interagir com eles poucos minutos depois do contato inicial, criam vínculo, fazem os exercícios com eles e se beneficiam muito da terapia", conta Roberta.

A assistente social Rita de Cássia Maia Ribeiro, diretora da Pousada Residencial para Idosas, no Rio, conta que suas hóspedes ficam mais felizes quando recebem as visitas dos cães. "Algumas delas sofrem de transtornos psicológicos, como demências, e em contato com os cães, o astral delas muda  completamente. É evidente a melhora do humor, do estado emocional. Até mesmo as senhoras que têm dificuldade de fazer movimentos com as mãos ou se locomoverem se sentem estimuladas a participarem das brincadeiras e das atividades", diz Rita.

Na USP, um grupo de pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP/USP) e dedica a investigar a cognição canina e de outros animais. Um dos casos mais interessantes registrados é o da cadela Sofia. Com treinamento e por meio de um teclado especial, a cadela conseguia sinalizar e enviar mensagens ao seu treinador, sempre por perto, como, por exemplo, pedir comida, carinho ou sair para passear. E ainda aprendeu a entender e diferenciar, com boa média de acertos, frases compostas, como "buscar uma bola" ou "pegar um garrafa". Os experimentos indicam que os cães têm boa capacidade de comunicação em contato com humanos e seriam melhores para interpretar gestos e olhares humanos.


(texto publicado na revista SimplesMente de janeiro de 2013)


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