terça-feira, 28 de maio de 2013

Zum... Zum... Zum... - Antônio Marinho


Há três anos, Valderci Souza dos Santos, de 58 anos, convive com um zumbido intermitente no ouvido. Esse ruído perturbador está associado a vários fatores, inclusive ansiedade e estresse, e também a maus hábitos, como abuso de álcool e cafeína, consumo em excesso de gordura saturada, exposição a barulho constante, além de problemas de saúde. Como não consegue se livrar de vez do zumbido, Valderci faz de tudo para ignorá-lo. "Na hora de dormir, eu coloco o som de um pequeno rádio sob o meu travesseiro ou ligo o ventilador. Só assim esqueço o zumbido e pego no sono", conta. O que pode parecer um simples incômodo é, na verdade, um problema que acomete muita gente. Só nos Estados Unidos de 15% a 17% da população sofre de zumbido em algum grau. No Brasil, estima-se em 28 milhões, diz a otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez, fundadora do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas e professora da faculdade de medicina da USP.

Em idosos, o índice alcança 33%. Mas a queixa aparece em qualquer idade. Numa pesquisa com 506 estudantes de 5 a 12 anos, o grupo de Tanit constatou que 30% deles apresentavam zumbido, em maior ou menor intensidade, sendo que em 19% o sintoma causava grande incômodo. Isso, por si só, atrapalha o rendimento e o aprendizado. Outra pesquisa, ainda em andamento, com adolescentes, já indicou que 62 dos entrevistados (de um total de 350 que serão avaliados) relataram zumbido, mais percebido depois que esses jovens passavam a noite em ambientes barulhentos, como boates.

O médico Jair de Carvalho e Castro, chefe do Serviço de Otorrinolaringologia, da 2ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro, explica que o estresse permanente, a ansiedade, a depressão, entre outros problemas psíquicos, atuam como gatilhos do problema. "Geralmente os transtornos psicológicos não são a origem, porém potencializam o zumbido", diz. Também hábitos nocivos e doenças neurológicas e digestivas disparam o chiado no ouvido, comparado, às vezes, ao barulho de uma panela de pressão fervendo, uma cigarra cantando, uma abelha zunindo. "O consumo crônico de álcool prejudica o funcionamento da cóclea, estrutura em forma de caracol essencial para ouvir. Já a nicotina tem efeito tóxico direto na cóclea e ainda reduz o calibre das microartérias do órgão", alerta Jair.

Da mesma forma, o acúmulo de gordura no sangue entope os microvasos do aparelho auditivo, afetando o seu funcionamento e gerando o ruído. E o abuso de alimentos com cafeína aumenta a excitação no cérebro, produzindo zumbido; assim como o excesso de açúcar estimula a maior liberação de hormônio insulina, outro fator de risco para o chiado. A notícia boa, diz a doutora Tanit, é que apesar de difícil diagnóstico, o zumbido pode ser curado ou atenuado, na maioria dos casos. "Às vezes, o primeiro sinal de perda de audição é o zumbido. Esse início de surdez nem sempre é percebido. O ruído acaba prejudicando a concentração e o sono, deixa a pessoa irritada, deprimida, o que aumenta o estresse e acaba com o bem-estar", explica Tanit, autora do livro "Quem Disse que Zumbido Não Tem Cura?" e coordenadora do projeto GAPZ - Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido.

Dependendo da avaliação médica, o zumbido é corrigido com mudanças de hábitos, medicamentos e tratamento multidisciplinar incluindo otorrino, fonoaudiólogo, psicoterapeuta, entre outros especialistas. Às vezes, basta levar uma vida saudável para ter o silêncio de volta aos ouvidos. "Nem sempre a queixa é sinal de problema de saúde. Pode ser apenas o som do funcionamento normal da via auditiva, o que chamamos de "som do silêncio', mas facilmente percebido por algumas pessoas do que outras", ressalta Tanit. Porém, inflamações nos ouvidos, labirintite, diabetes, hipertensão e até tumores podem estar associados ao zumbido. Daí a importância de consulta ao seu otorrinolaringologista, sempre.



(texto publicado na revista SimplesMente de janeiro de 2013)


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